quinta-feira, 28 de abril de 2011

Relação Pais e Filhos

Ola leitores,
Compartilho com voces, esquema que preparei para uma palestra ministrada para pais de filhos adolescentes. Trata, especialmente, da importância da autoridade, afetividade e sabedoria para lidar com os mesmos.
Um abraço
Eliana
1.      A primeira coisa que devemos delimitar é o conceito de adolescência – adolescência é um conceito novo, mas sua etimologia é antiga e remonta ao latim, que significa crescer, desenvolver-se. Ocorre por intensas mudanças físicas, em que o corpo deixa de ser infantil e toma um aspecto que ainda não é adulto, mas está a caminho dessa maturidade. A adolescência envolve aspectos como a maturidade sexual, que é a possibilidade de gerar filhos, a construção de uma nova identidade – o adolescente começa a se ver e ser visto de um novo jeito, com um estilo próprio e isso gera grande expectativa nele mesmo e nos familiares. Por outro lado a adolescência gera autonomia: assim ele não quer mais a proteção acentuada dos pais, necessita de maior liberdade, maior confiança, ao mesmo tempo que deverá ser exigido dos mesmos maior responsabilidade. A adolescência é fase também para a produtividade: o jovem quer sentir-se ativo, presente, construindo historia, com sentimento de ser util. A maior produtividade da juventude esta em se rebelar com a intenção de construir um mundo melhor. É assim que se processam todas as revoluções no mundo. As revoluções, as transformações partem dos jovens. Nós, os velhos queremos manter o status quo, manter aquilo que tem dado certo. Dificilmente nos arriscamos. Ao jovem cabe arriscar, a a nós orientarmos para que eles se arrisquem sem correr riscos.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Rebelde sem causa

Rebelde sem causa
Composição: Roger moreira
Meus dois pais me tratam muito bem
(O que é que você tem que não fala com ninguém?)
  Meus dois pais me dão muito carinho
  (Então porque você se sente sempre tão sozinho?)
Meus dois pais me compreendem totalmente
(Como é que
se sente, desabafa aqui com a gente!)
  Meus dois pais me dão apoio moral
  (Não dá pra ser legal, só pode ficar mal!)
MAMA MAMA MAMA MAMA
(PAPA
PAPA PAPA PAPA)
  Minha mãe até me deu essa guitarra
  Ela acha bom que o filho caia na farra
  E o meu carro foi meu pai que me deu
  Filho homem tem que ter um carro seu
Fazem questão que eu só ande produzido
Se orgulham de ver o filhinho tão bonito
Me dão dinheiro prá eu gastar com a mulherada
Eu realmente não preciso mais de nada
  Meus pais não querem
  Que eu fique legal
  Meus pais não querem
  Que eu seja um cara normal
Não vai dar, assim não vai dar
Como é que eu vou crescer sem ter com quem me revoltar
Não vai dar, assim não vai dar
Pra eu amadurecer sem ter com quem me rebelar

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Os "matadores" na nossa sociedade

Há um tempo atrás escrevi um texto sobre um professor assassinado na escola, em Belo Horizonte. Recentemente deparamos novamente com um ex-aluno que assassina 12 crianças numa escola no Rio de Janeiro. O texto que eu havia escrito continua atual. Precisamos refletir sobre o fruto que nossa sociedade tem criado.

Professor morto por aluno: uma possível paranóia?

Este texto é fruto de uma inquietação a respeito de fatos presentes na nossa sociedade atual, marcada por violência e agressão. Nesta semana deparamos com a mídia noticiando sobre o assassinato de um professor de educação física por um aluno, apesar de ser esse professor extremamente querido pela maioria do meio acadêmico. É interessante notar que após atos bárbaros ouvirmos os depoimentos de pessoas que achavam aquele sujeito que cometeu o assassinato estranho, esquisito mas que não suspeitavam que tal pessoa poderia cometer um crime.
Subjacente a esta posição, coloca-se uma questão: o que afinal pode ser feito pelas pessoas de uma forma geral e mesmo pelos profissionais que de alguma forma têm contato com sujeitos que muitas vezes apresentam comportamentos bizarros, encimesmamentos, timidez excessiva, intolerâncias, verbalizações agressivas e outros gestos que não caberiam a um cidadão saudável ou educado?

O que está acontecendo com nosso assombramento, com o nosso horror, com a nossa intuição que nos alertaria para a proteção, a segurança, a sobrevivência? Por que aceitamos que um colega da escola, um colega de trabalho, um vizinho ou um parente tenham atitudes que achamos estranhas, mas não suspeitamos que essas atitudes podem fazer parte de um rol de características próprias de quem está doente e necessita de ajuda? Por que nos negamos a oferecer tal ajuda, alertando a pessoa  para a necessidade de um cuidado médico ou alertando a família da pessoa?
Parto da premissa de que, se entre os nossos iguais deparamos com comportamentos que nos parecem estranhos, nem sempre os denunciamos como indícios de patologias porque, na maioria das vezes, os denominamos como estravagantes e psicodélicos, ou justificamos que fazem parte do jeito de ser, da individualidade ou do estilo daquele sujeito. 
Utilizar do instrumento poderoso que é a psicanálise para aprofundar no conhecimento das características estruturais, que organizam a subjetividade e as ações dos sujeitos,   buscando um olhar diferenciador e efetivo para a interpretação da realidade, permitindo-nos a crítica e decisões para intervir em circunstâncias que se apresentam legítimas, com coragem e determinação para resistir a quaisquer resistências é sairmos do lugar da indiferença para nos apresentarmos enquanto agente que faz juz ao legado freudiano.  
É com essa inquietação que desenvolvo um estudo sobre a paranóia, patologia que se apresenta na maioria dos crimes inexplicados, e insuspeitadamente possíveis de serem cometidos.
Considerações teóricas:
No DSM-IV é a Paranóia é denominada como Transtorno Delirante, e faz parte de um dos tipos de esquizofrenia. A caracteristica essencial do transtorno delirante é a presença de uma ou mais idéias delirantes, persistentes que se apresentam, principalmente com relação às atividades sociais do sujeito, se apresentam como estranhas, mas perfeitamente possíveis que ocorram na vida real (por exemplo, ser seguido, envenenado, enganado, perseguido, etc). O sujeito, muitas vezes mantêm conservados seus papéis sociais e laborais, porém, ao longo do tempo o sujeito vai apresentando importante isolamento social, deterioração das atividades laborais e pobreza nos relacionamentos. Isto se deve às crenças delirantes, porque o sujeito acredita que de fato está sendo seguido, precisa sair disfarçado ou não poderá mais sair de casa. Ainda assim, os sujeitos com transtorno delirante apresentam uma aparente normalidade no seu comportamento e aspecto quando suas idéias delirantes não estão sendo questionadas ou colocadas em jogo. Raramente há um comprometimento intelectual do sujeito.
Há vários tipos de paranóia, segundo as manifestações dos delírios, que podem ser:
a)     Erotomaníaco: se aplica quando o tema central da idéia delirante é que outra pessoa está enamorada do sujeito, referindo-se a um amor romantico, idealizado, muito mais que a uma atração sexual. Normalmente a pessoa a que se recai essa convicção ocupa um status mais elevado, sendo muitas vezes uma pessoa famosa, um chefe de trabalho ou uma pessoa que se lhe apresenta completamente estranha. Muitas vezes o sujeito com este transtorno se envolvem em problemas legais muitas vezes por importunar ou por excessivas tentativas de socorrer aquela pessoa que ele supões que o ama de perigos
b)     Grandeza: a idéia delirante é a convicção de ter algum extraordinário talento ou intuição, ou ser um descobridor importante, ou ainda manter um relacionamento com uma pessoa muito importante (um presidente por exemplo). As idéias delirantes ainda podem ter um conteúdo religioso, em que o delirante se vê como mensageiro divino.
c)     Celotípico: é predominantemente ciumento, com idéias de que o conjuge lhe é infiel. Essa crença aparece sem nenjum motivo e se baseia em inferências errôneas que se apoiam em insignificantes provas (por exemplo, roupas amassadas ou manchadas) que são guardadas e utilizadas para justificar a idéia delirante. O sujeito delirante briga frequentemente com o conjuge e procura intervir cortando a liberdade de movimentos do conjuge, seguindo-o secretamente ou investigando o suposto amante).
d)     Persecutário: o temacentral da idea delirante se refere a crença de que está sendo objeto de conspiração, está sendo enganado, perseguido, envenenado, caluniado ou ainda, que está sendo obstruído da consecução das suas metas. Pequenas trivialidades podem ser exageradas e convertidas em núcleo do sistema delirante, sendo muitas vezes delirando que alguma injustiça que lhe cometeram deve ser remediada mediante uma ação legal (paranóia querulante), apelando para os tribuinais ou outras instituições governamentais. Os sujeitos com idéias delirantes de perseguição são frequentemente ressentidos e irritáveis, podendo reagir de forma violenta contra os que acredita estar lhes causando dano.
e)     Somático: a idéia delirante se refere a funções ou sensações corporais, em que o sujeito acredita emitir odor insuportável pela pele, boca, reto ou vagina; ou que tem infestação de insetos dentro do corpo, que possui malformações corporais evidentes, ou que partes do corpo não funcionam.
f)      Tipo mixto: este subtipo se aplica quando não há nenhum tema delirante que predomine, mas há crenças infundadas dos diversos tipos acima.
Os sintomas mais comuns são problemas sociais, conjugais ou no trabalho como consequência das idéias delirantes. Frequentemente, acontecimentos casuais tem um significado especial, com interpretações que segundo o delirante, dizem ser consistentes. Muitos sujeitos com transtorno delirante desenvolvem um estado de ânimo irrável, com reações agressivas, apresentando acessos de ira ou comportamento violento, especialmente os tipos persecutórios e celotípico. Envolvem-se com comportamentos litigantes, enviando cartas de protesto ao governo e aos tribunais. Os sujeitos do tipo somático podem ser-se submetidos a exames médicos desnecessários.
O transtorno delirante pode associar-se ou confundir-se com o transtorno obsessivo compulsivo, ao transtorno dismorfico e aos transtornos de personalidade. 
Ao se avaliar a possível presença de um transtorno delirante, deve-se ter em conta a história cultural e religiosa do sujeito. Algumas culturas têm crenças amplamente difundidas e culturalmente aceitas que podem ser consideradas delirantes em outros contextos culturais.
A psicanálise aborda a paranóia sob o signo da psicose. Freud utiliza o “Caso Shereber (1911), em que desenvolve suas noções centrais sobre a paranóia e a psicose. Para Freud, a psicose é um modo de afastamento da realidade em que mecanismos de defesa são acionados para dar conta da angústia do sujeito. Freud não acreditava na cura da psicose e, por esse motivo, não se empenhava em buscar uma técnica para o tratamento. Assim,  para teorizar sobre a paranóia, ele não nos traz relatos de atendimentos a pacientes paranóicos, mas utiliza dos relatos autobiográficos, escritos por Shereber. Freud se preocupava com o desencadeamento da psicose, porque segundo a sua concepção, a psicose é uma abertura do inconsciente para o mundo externo. Aquilo que o sujeito não recalca com eficiência apresenta-se como alucinações e delírios, ou seja, o fracasso do processo de recalcamento provoca o retorno do que escapou ao recalcamento na forma de sintomas, e especificamente na psicose, em forma de alucinações e delírios. Lacan refere-se aos delírios paranóicos como “aquilo que foi forcluído no simbólico retorna no real”.  Vejamos:
Segundo Freud, no complexo edípico, constituído pela tríade pai/mãe/filho circulam afetos diversos, amorosos e hostís e é essa organização edípica que estrutura o sujeito.  Na psicose, o sentimento ambivalente de amor e hostilidade que o filho muitas vezes nutre pelo pai é transferido para alguém  respeitado e admirado, lugar anteriormente ocupado pelo pai na tríade edípica. Porém, um outro fator se associa a essa transferência para a erupção da doenca: nos primórdios do desenvolvimento psíquico do sujeito a libido estaria organizada em torno de um mecanismo narcísico onde a fantasia homossexual está presente. Somente mais tarde a orientação sexual se processa e a fantasia homossexual poderá então ser recalcada ou não. No caso da orientação heteressexual, as tendências homossexuais são interrompidas. Porém, no caso da paranóia, apesar do sujeito muitas vezes ter uma orientação heterossexual, a fantasia homossexual não é recalcada porque na psicose não existe o recalque e sim a forclusão, também chamada denegação. Denegação ou forclusão é a suspensão do recalque permitindo que conteúdos inconscientes aflorem, não em formas de sintomas, atos falhos, sonhos, chistes ou lapsos; mecanismos próprio da neurose; mas em conteúdos delirantes e alucinatórios.
Assim,  o aparecimento dos conteúdos inconscientes na paranóia se apresentam como vindos de fora, como intrusão de uma ou várias idéias delirantes, acompanhadas de fenômenos corporais e que mais tarde se constituirão na construção de um delírio sistematizado. O psicótico tenta através de um delírio sistematizado, com uma história, um planejamento e um propósito, organizar o seu mundo para aliviar sua angústia. O que caracteriza a psicose é o fato do sujeito ter certeza de que o que lhe ocorre é real e verdadeiro e em função disso, tudo o que pensa ou realiza circula em torno do seu delírio.
Retomando a discussão sobre o processo edípico, no desencadeamento da paranóia a outra pessoa que para o doente é significativa passa a lhe ser aterradora. Há uma ambivalência de sentimentos que oscilam entre o amor e o ódio. A pessoa que outrora fora amada e admirada agora ocupa o lugar de alguém que lhe causa ódio e repúdio Quanto mais o paranóico admira alguém por uma qualidade ou atributo que este possua ou que o doente acredite que esse outro possua, mais ele o perseguirá. O paranóico o perseguirá porque em seu delírio sente-se perseguido por esse outro. Isso é o que Freud denomina mecanismo de projeção: o sujeito atribui ao outro um sentimento, um pensamento ou uma idéia que é sua.
No seu delírio, ele atribui ao outro tanto poder que ele teme que esse outro possa dominá-lo, invadí-lo, perseguí-lo, pois esse outro tem um poder de tudo saber. É contra essa ameaça delirante vinda do outro que o paranóico luta. Assim, na paranóia o doente dirige seus afetos para aquele que ele acredita que tudo pode, tudo vê e tudo sabe. A base do delírio paranóico é uma fantasia homossexual inconsciente, não suportada, que transforma-se em delírio de perseguição.
A possibilidade de estabilidade da paranóia é quando o sujeito, na sua construção delirante organiza um mundo de forma a poder viver nele, mesmo que este mundo exterior apresente a desorganização e a ruina do seu mundo interno. Na sua tentativa de reorganização, o sujeito afasta-se das pessoas e coisas isolando-se.  Há um desligamento da libido, dificultando o estabelecimento de laços sociais. A libido, na paranóia, é então dirigida para o próprio ego do sujeito, engrandecendo-o e tornando-o megalomaniaco. Há um retorno ao estágio do narcisismo. Ele prescinde das pessoas porque é muito superior a elas. Assim, para a psicanálise, o delírio é a tentativa de cura realizada pelo próprio sujeito.
Conclusão:
Para o desencadeamento da psicose, algumas estapas se processam no comportamento do sujeito: afastamento das pessoas que lhe são mais afetas, isolamento,falta prazer em atividades corriqueiras, atenção voltada para atividades pouco comuns ou de nenhuma utilidade prática, dificuldade de expressar as idéias de forma coerente ou organizada, criação de um mundo de fantasia afastado da realidade ou em substituição a ela,  julgamentos precipitados e sem nexo sobre determinadas pessoas ou fenômenos. São esses apenas indícios de que o sujeito encontra-se num mundo imaginário e em plena construção de um delírio que poderá irromper-se, inclusive, como homicídio.
Vale refletir que a nossa volta algumas pessoas podem estar vivenciando alguma dessas fases e passa-nos despercebido. É claro que não cabe a nós, leigos cidadãos, sairmos fazendo diagnóstico ou propondo soluções para o mundo, mas podemos, afetivamente, oferecermos nossa ajuda acolhendo e orientando sempre que se fizer necessário.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
CALLIGARIS, Contardo, Introdução a uma clínica diferencial das psicoses. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.
DSM-IV - Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Porto Alegre, Ed. Artes Médicas, 2002.
FREUD, S. Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranóia (dementia paranoides – 1911) In: Obras Psicológicas Completas. Ed. Standard Brasileira. Rio de Janeiro: Imago, 1980. Volume VII
FREUD, S. A perda da realidade na neurose e na psicose (1924). In: Obras Psicológicas Completas. Ed. Standard Brasileira. Rio de Janeiro: Imago, 1980. Volume XIX
QUINET, Antônio. Teoria e clínica da psicose. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997.

domingo, 10 de abril de 2011

Confiança, amor e autoridade: estabelecendo limites

Anotações da Conferência proferida pela Prof. e Dra. Alitta Guimarães C. R. Ribeiro Silva, para a Ama - Associação Mineira de Adolescência em agosto/2000.

Para estabelecer limites é necessário:
- Ter confiança em si mesmo, acreditar que é possível e ter segurança.
- Ter empatia – procurar ver tudo de outra forma, no lugar do outro.
- Ter auto-controle – não se deixar levar pelos outros, não ser controlado pelo outro, mas se controlar.
- Ter amor.
- Ter trabalho – ser ético, dar o exemplo, ter coerência.
- Autoridade é querer o bem àquela pessoa que eu estou mandando/orientando.
- O déspota não deixa crescer.

Estabelecer limites é em certo sentido frágil.
É difícil saber quando deixo de exercer minha própria vontade em favor do outro.

Frases:
“Gosto de você e não posso permitir isso”.
“Não vai ser possível. Se eu deixasse não seria bom pra você!”
Explicar a razão.
Jamais diga: “Porque não quero!” – Diga: “Vou ver... deixe-me pensar um pouco nisso”! e ao decidir, seja sincero.

Usar sempre a linguagem do adolescente, porém com atitudes coerentes.
Não se impor pela sofisticação, pelo poder ou pela força.

Esclarecer que: prevenção é “econômico”.
Não querer todas as respostas, porque se a tivéssemos, enlouqueceríamos.
Esclarecer que um encontro tem quer ser bom para as duas pessoas.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Amor e Trabalho


Márcio Augusto Martins


O velho e conhecido Freud considerava saudável uma pessoa que fosse capaz de Trabalhar e Amar. Trabalhar exige cada vez mais técnica, conhecimento e sorte, tornando difícil essa exigência freudiana em nosso tempo. Amar sempre foi difícil, e acho que os poetas sabem melhor do que eu sobre esse assunto.


Parece ser complicado conseguir o título de saudável em tempos de amores descartáveis, do só ficar, e do desemprego generalizado. Mas talvez Freud tenha esquecido um item anterior, que garanta sobrevivência até a conquista do nobre título de saudável: o sonho.


Estudando muito, e observando mais ainda, Freud concluiu que para uma pessoa ser feliz ela necessitava trabalhar e amar. Naqueles tempos talvez fosse comum alguém concluir o curso universitário e conseguir trabalho, coisa escassa hoje. A confusão é tamanha que não sabemos se a profissão que escolhermos existirá daqui dez anos. O número crescente de carreiras universitárias amplia possibilidades e multiplica dilemas na hora da escolha. O abismo entre gerações, no que se refere ao mercado de trabalho, gera preconceitos e estigmas quanto às profissões, tudo contribuindo para confundir os jovens.