sábado, 11 de outubro de 2014

JOVEM ADULTO: MORAR OU NÃO NA CASA DOS PAIS?

Vivemos numa era de mudança de paradigmas e valores sociais, familiares e culturais.
Um jovem adulto morar ou não na casa dos pais não é problema, haja vista que na era medieval os castelos comportavam uma família enorme com tios, sobrinhos, netos, bisnetos, etc, mas cada um tinha o seu papel e a sua identidade bem definida.
Porém, atualmente perdeu-se essa identidade e papéis.
Até pouco tempo tornar-se adulto requeria do adolescente uma mudança de status, marcada pela "autorização" para que o mesmo pudesse iniciar a atividade sexual e o exercício do trabalho. A autorização consistia em "tirar a carteira de trabalho" e "pedir/dar a mão em namoro". Os ritos de passagens tradicionais que inseriam o adolescente no mundo adulto foram destituídos. O enigma da primeira relação sexual desapareceu e quanto ao trabalho, os jovens podem ou não estudar e trabalhar e podem morar e depender financeiramente dos pais por toda a vida.



Permanecer na casa dos pais é confortável e seguro. As preocupações quanto ao sustento e a organização do lar cabem a eles (os pais) e o jovem se esquiva dessa responsabilidade. Sair da casa dos pais requer se haver com questões objetivas e materiais, bem como subjetivas (lidar com a solidão ou com os laços que se estabelecem com quem se convive) e o jovem não se sente "nunca" suficientemente preparado.



O mercado de trabalho, por outro lado, propaga a exigência de cada vez mais especialidades e cursos preparatórios. É possível estudar para se profissionalizar eternamente.  Deparamos com pessoas que, já adultas, cursaram várias cursos de graduação, pós graduação e ainda se sentem inseguras e incompetentes para serem absorvidas pelo mercado.



Os pais sentem-se valorizados por manter os filhos sob sua dependência (ainda que seja somente financeira). O acesso aos bens e avanço tecnológico acenam como uma promessa de felicidade e os pais desejam proporcionar aos filhos aquilo que sua geração não lhe proporcionou.



A sociedade também valoriza a juventude e tenta estendê-la por todas as faixas etárias. Assim, não assumir os compromissos da vida adulta de certa forma é prolongar a juventude, é não envelhecer. Aliás, os avós, estes sim são os que, atualmente tem sustentado a família constituída de filhos, noras, genros e netos.



Lacan (1973), psicanalista francês que viveu no século passado atentou para o comportamento da juventude atual. Lacan afirmou que a contemporaneidade é esse tempo do desfalecimento da Lei, do império da aparência e da pluralização dos modos de gozar. O sujeito encontra-se desorientado, acomodado e incapaz de desejar. No lugar do desejo encontra-se um buraco que não é preenchido por relacionamentos, ideais ou idéias. Há um apagamento do sujeito que não pensa, apenas consome e se consome.  Os sintomas são a toxicomania, as dismorfobias corporais, a automutilação, as compulsões, os pensamentos obsessivos e outros. Enquanto isso o sujeito vive, mas não cresce, apenas adoece.

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