quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Novo ano em novos tempos: manter a atualização profissional

Novo ano em novos tempos! A pandemia acelerou a incorporação tecnológica ao nosso cotidiano provocando mudanças nos nossos padrões de comportamento, alterou nossa subjetividade e produziu consequências benéficas e maléficas. Isso remete à que, qualquer profissional, mas principalmente aqueles voltados para as àreas humanas e de saúde necessitam atualizar seus estudos levando em conta essas consequências e exige o profissional se empenhe em se aprimorar para oferecer o que há melhor para o seu cliente. Vamos criar, então, para os nossos planos para 2023, independente da nossa área de atuação, estratégias de investimento de tempo, dinheiro e dedicação à nossa reciclagem ou atualização profissional. Muitos cursos são oferecidos, e hoje temos a vantagem de podermos fazê-los à distancia, no conforto da nossa casa, sem as despesas de deslocamento. Freud, há mais de 100 anos já recomendava que os analistas permanecessem em constante atualização dos estudos em psicanálise, bem como a supervisão dos casos com outro profissional experiente e mantivessem a sua análise pessoal. É uma prática a que devemos estar atentos. E feliz 2023 com muito estudo e dedicação.

sexta-feira, 24 de junho de 2022

O que é a felicidade?

O progresso material garante felicidade? A resposta é controversa. Para Aristóteles o ser humano é feliz na medida em que realiza a obra da sua vida. É necessário que a pessoa tenha atingido certa etapa na vida para poder começar a considerar se é feliz ou não. Na perspectiva estóica, a sabedoria consiste em não desejar o que não está ao seu próprio alcance e assim ser feliz. Já para a concepção eudemonica, o nível sócioeconomico correlaciona-se com a felicidade independente da idade, porém, em pesquisa recente constatou-se que o nível de bem estar subjetivo de uma população em relação à renda (PIB) sustenta-se apenas até determinado patamar, acima do qual a renda deixa de acrescentar à felicidade. Duas parecem ser as ordens de fatores que influenciam as percepções de felicidade: a) fatores subjetivos, determinados tanto pela constituição genética quanto pela experiência individual, b) fatores objetivos, relacionados principalmente às circunstancias externas, como o bem estar material. Logo, cada indivíduo possui um nível ótimo de bem-estar, o qual pode ser, ao menos parcialmente, geneticamente determinado, mas que se mantêm regulado à medida em que pode lançar mão de mecanismos moderadores para compensar os efeitos de situações danosas. Há também os mecanismos neurobiológicos que implementam as experiências de felicidade no cérebro. Por exemplo, um modelo contemporâneo sugere que os dispositivos de prazer estão relacionados à ativação dopaminérgica de um circuito límbico com epicentro na medula (core) do núcleo accumbens (NAc), de forma que a felicidade pode depender do desenvolvimento de circuitos pré-frontais que amadurecem lentamente até a terceira década de vida e que são desenvolvimentos relativamente recentes na árvore evolutiva das espécies. Ora, a busca pela felicidade constitui ao mesmo tempo uma obsessão motivacional entre os humanos e uma armadilha evolutiva. A ideologia iluminista sugeriu que seria possível concretizar um estado de bem-aventurança na Terra por meio do progresso material e social. Mas, as diversas engenharias sociais, socialistas e capitalistas não conduzem forçosamente à felicidade ou à infelicidade. Teorias humanistas apontam para a satisfação subjetiva, enquanto teorias cerebrais encontram respostas nos mecanismos neurobiológicos proximais. O desafio, porém, que se lança aos indivíduos, para além das questões cerebrais, é maximizar e simultaneamente, compartilhar com as gerações, sua aptidão para a felicidade no longo prazo. Infelizmente, os seres humanos, na maioria das vezes, não se comportam como agentes racionais e a experiência acumulada não se transmite automaticamente entre gerações sucessivas. Cada geração e cada indivíduo precisam encontrar por si próprios a solução para o paradoxo da felicidade.

terça-feira, 14 de junho de 2022

O perfeccionismo é bom ou ruim? Não raras vezes queremos ser e fazer tudo com tanta perfeição e nos exigimos tanto, que nem começamos o que havíamos planejado. Não percebemos que o que interessa é o que está feito. Não nos permitimos errar. Então, procrastinamos e deixamos para depois, para quando estiver tudo pronto, tudo organizado, e ai, não começamos nunca. O perfeccionismo não deixa a pessoa fazer nada. Fomos criados para ser o bebê mais lindo do mundo e nossos pais acreditavam que iriamos atender todas as exigências sociais, familiares e do sistema, sem errar. Vamos crescendo e absorvendo essa mentalidade de que temos que ser perfeitos para sermos aceitos. Preocupamos com o que as pessoas esperam de nós e temos uma enorme necessidade de agradar as pessoas para sermos amados. O perfeccionismo tem muito a ver com a questão do narcisismo e num grau muito acentuado gera a megalomania – um sentimento de superioridade, que é patológico. Por outro lado, tem a pessoa que não se vê perfeita, se sente inferior, destruída, que se vê como um sujeito que não tem nada, que não consegue fazer nada direito. Isso também é patológico. Entre esses dois extremos é que se encontram aqueles que buscam alcançar a perfeição, mas que têm a consciência de que a perfeição em si é inalcançável. O perfeccionismo gera dois sentimentos: a inibição e a ansiedade. Ambos te deixam paralisados. É algo assim: “ ah... eu preciso fazer mas eu não sei como e eu ando para lá e para cá e não saio do lugar”. Bauman, o sociólogo, fala que na atualidade existem três exigências que nos levam ao perfeccionismo: o controle para obter segurança, o controle para obter o máximo de higiene, e o controle para obter a liberdade. De fato, as pessoas pensam que elas tem controle sobre as coisas – e isso é uma ilusão porque a gente não tem controle sobre nada. O perfeccionista precisa controlar tudo, ele tem que controlar antes da coisa acontecer, tem que planejar excessivamente a coisa, se apega aos detalhes, é extremamente crítico. Ele tem uma autocritica muito grande, e muitas vezes ele coloca essa crítica sobre os outros. Ele não consegue olhar o outro com um olhar amoroso, tem sempre ali um olhar feroz chamando aquela pessoa aos pontos que ele vê como negativos. Também tem a ver com o sentimento de insegurança e instabilidade. As pessoas procuram estabilidade. É como se quisessem ter controle sobre o incontrolável, já que a vida é dinâmica e inusitada. Associado a isso, o sistema capitalista exige o máximo de produção e o mínimo de perda e o sujeito tem que fazer esse cálculo em que ele precisa produzir com o máximo de perfeição para que não ter prejuízos. É claro que a gente pode ter a perfeição como meta. Algo a se alcançar. Mas, nesse processo, temos que nos dar o direito de sermos humanos, podermos errar. Saber que eu não sou Deus. Se eu sou humana, e se eu tenho esse lugar para errar, por que que eu preciso me apresentar como se eu fosse super-herói? Como se eu fosse infalível? Por que que eu não me apresento com as minhas dificuldades, com as minhas deficiências, com a minha necessidade de melhorar todos os dias? O que vai contrapor a esse sistema que exige da gente o perfeccionismo é justamente a humanidade. É você falhar, é você ser você mesmo. É você dizer: “olha, não estou dando conta disso! Depois eu vou aprimorar!” Sair dos extremos que seriam patológicos – perfeito demais ou imperfeito demais – para o meio, ou seja, a perfeição é algo a se alcançar, mas com leveza, porque assim fica melhor e mais saudável.

sábado, 11 de junho de 2022

Relações amorosas nos dias atuais

Os relacionamentos amorosos, desde a antiguidade, são causa de reflexões por parte de religiosos, filósofos, escritores, psicanalistas e outros pensadores. A psicanálise considera que as relações amorosas se iniciam em tenra infância, entre a criança e seus pais ou com qualquer pessoa que tenha desempenhado os cuidados essenciais à sobrevivência da criança. Os cuidados, como amamentação, higiene e aconchego são fundadores do processo psíquico do sujeito. Os cuidados ultrapassam a necessidade para se constituírem como demandas que partem tanto do bebê quanto dos seus cuidadores. A alimentação, por exemplo, deixa de ser apenas uma necessidade de saciar a fome e passa a constituir-se como uma demanda de se deixar alimentar. Também a higiene em torno das fezes deixa de ser uma necessidade de reter/expulsar e passa à demanda de agradar/aborrecer o outro. O bebê entende que o cuidador tem sobre ele expectativas assim como, por outro lado, há expectativas do cuidador que o bebê pode ou não atender. Com base nesta relação é que se desenvolvem os afetos que podem ser hostis ou amorosos. É que os sentimentos são ambíguos, permeados de amor e ódio e se repetirão ao longo da vida adulta dos sujeitos, se estendendo nas mais diversas formas de relacionamentos, como entre professor aluno, padre devoto, analista paciente, chefe subordinado, mas, principalmente entre os pares amorosos. O sujeito, na sua vida adulta, tende a escolher como parceiro amoroso aquela pessoa que de alguma forma favoreceria a repetição da sua relação com os pais da infância. O tratamento psicanalítico possibilitaria ao sujeito reconhecer as motivações inconscientes das suas escolhas ou se livrar de repetição de vivencias de relacionamentos tóxicos e agressivos visando novas modalidade de relacionar-se, com afetos amorosos e não mais hostis. Hoje, dia dos namorados, seria interessante refletir sobre as relações amorosas que estabelecemos e cuidar de, para além da troca de presentes, buscarmos o diálogo, a transparência e o amor.