terça-feira, 14 de junho de 2022

O perfeccionismo é bom ou ruim? Não raras vezes queremos ser e fazer tudo com tanta perfeição e nos exigimos tanto, que nem começamos o que havíamos planejado. Não percebemos que o que interessa é o que está feito. Não nos permitimos errar. Então, procrastinamos e deixamos para depois, para quando estiver tudo pronto, tudo organizado, e ai, não começamos nunca. O perfeccionismo não deixa a pessoa fazer nada. Fomos criados para ser o bebê mais lindo do mundo e nossos pais acreditavam que iriamos atender todas as exigências sociais, familiares e do sistema, sem errar. Vamos crescendo e absorvendo essa mentalidade de que temos que ser perfeitos para sermos aceitos. Preocupamos com o que as pessoas esperam de nós e temos uma enorme necessidade de agradar as pessoas para sermos amados. O perfeccionismo tem muito a ver com a questão do narcisismo e num grau muito acentuado gera a megalomania – um sentimento de superioridade, que é patológico. Por outro lado, tem a pessoa que não se vê perfeita, se sente inferior, destruída, que se vê como um sujeito que não tem nada, que não consegue fazer nada direito. Isso também é patológico. Entre esses dois extremos é que se encontram aqueles que buscam alcançar a perfeição, mas que têm a consciência de que a perfeição em si é inalcançável. O perfeccionismo gera dois sentimentos: a inibição e a ansiedade. Ambos te deixam paralisados. É algo assim: “ ah... eu preciso fazer mas eu não sei como e eu ando para lá e para cá e não saio do lugar”. Bauman, o sociólogo, fala que na atualidade existem três exigências que nos levam ao perfeccionismo: o controle para obter segurança, o controle para obter o máximo de higiene, e o controle para obter a liberdade. De fato, as pessoas pensam que elas tem controle sobre as coisas – e isso é uma ilusão porque a gente não tem controle sobre nada. O perfeccionista precisa controlar tudo, ele tem que controlar antes da coisa acontecer, tem que planejar excessivamente a coisa, se apega aos detalhes, é extremamente crítico. Ele tem uma autocritica muito grande, e muitas vezes ele coloca essa crítica sobre os outros. Ele não consegue olhar o outro com um olhar amoroso, tem sempre ali um olhar feroz chamando aquela pessoa aos pontos que ele vê como negativos. Também tem a ver com o sentimento de insegurança e instabilidade. As pessoas procuram estabilidade. É como se quisessem ter controle sobre o incontrolável, já que a vida é dinâmica e inusitada. Associado a isso, o sistema capitalista exige o máximo de produção e o mínimo de perda e o sujeito tem que fazer esse cálculo em que ele precisa produzir com o máximo de perfeição para que não ter prejuízos. É claro que a gente pode ter a perfeição como meta. Algo a se alcançar. Mas, nesse processo, temos que nos dar o direito de sermos humanos, podermos errar. Saber que eu não sou Deus. Se eu sou humana, e se eu tenho esse lugar para errar, por que que eu preciso me apresentar como se eu fosse super-herói? Como se eu fosse infalível? Por que que eu não me apresento com as minhas dificuldades, com as minhas deficiências, com a minha necessidade de melhorar todos os dias? O que vai contrapor a esse sistema que exige da gente o perfeccionismo é justamente a humanidade. É você falhar, é você ser você mesmo. É você dizer: “olha, não estou dando conta disso! Depois eu vou aprimorar!” Sair dos extremos que seriam patológicos – perfeito demais ou imperfeito demais – para o meio, ou seja, a perfeição é algo a se alcançar, mas com leveza, porque assim fica melhor e mais saudável.

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