PREPARE-SE PARA SEUS QUINZE MINUTOS DE FAMA
Reinaldo Polito
No futuro todos terão direito a quinze minutos de fama
(Andy Warhol)
Se é mesmo verdade que todo ser humano tem
direito a pelo menos quinze minutos de fama na vida, todos nós estamos na fila
e, mais cedo ou mais tarde, nosso momento vai chegar. E, quando chegar,
precisamos estar preparados para aproveitá-lo bem e, quem sabe, repeti-lo,
multiplicá-lo ou até eternizá-lo.
Se os holofotes já se detiveram em você, não
baixe a guarda, pois temos direito a pelo menos quinze minutos de fama, mas não
necessariamente só quinze, o que significa que outros tantos poderão surgir, e
a chance de alguém que já esteve na passarela voltar a ela é ainda maior. Tenho
visto, até com boa freqüência, pessoas que lutaram uma vida inteira para ter
seu reconhecimento público e, quando chega o momento da consagração, vacilam,
deixam o cavalinho selado passar com aquele trote macio, perfeito para
cavalgar. E dizem que esse animal dócil da fama, do poder e da conquista só
passa uma vez na vida; os que vêm depois
são burrinhos xucros, indomáveis, sem sela, excelentes para um rodeio, mas
péssimos para nos levar.
Por isso, vamos aprender já como devemos nos preparar para quando as
trombetas anunciarem a nossa entrada e os flashes acompanharem os nossos passos.
Luzes, câmera, abram o caminho, que vamos entrar em ação.
Uma homenagem
Em 25 anos ministrando cursos de expressão verbal, já atendi a dezenas de empresários,
executivos e profissionais liberais preocupados, e até desesperados, porque
receberam algum tipo de prêmio e “precisariam brilhar”, isto é, deveriam
comparecer diante de milhares de pessoas para fazer um discurso de
agradecimento. O que deveria ser motivo de alegria e comemoração acabou se
transformando para eles em momentos de angústia e sofrimento. Alguns não
resistem e mandam representantes, outros simplesmente deixam de comparecer e,
nos casos mais graves, comparecem e depois se arrependem, pois fazem
apresentações desastrosas: em vez de projetarem a imagem de forma positiva,
protagonizam verdadeiros fiascos, por não saberem o que e como falar.
Está ai uma boa oportunidade para ser aproveitada e creditar alguns preciosos
minutos na conta dos quinze. Se você for homenageado, saiba como preparar um
excelente discurso de agradecimento.
Fale do seu sentimento
Inicie o agradecimento falando da emoção, da alegria, do prazer e da
satisfação que está sentindo por receber aquela homenagem. Revele como se sente
privilegiado e honrado pelo fato de estar sendo alvo de tantas amabilidades e
deferências. Pense bem. Quando se presta homenagem a uma pessoa, espera-se que
ela fique feliz e se sinta lisonjeada. Se são estes os sentimentos que esperam
que ela esteja vivenciando, nada mais natural e apropriado, portanto, que começar
fazendo essas referências.
Agradeça ao orador que o
homenageou
Para que alguém seja o representante de um grupo e fale em nome de todos,
para prestar a você a homenagem, é porque ele deve ser importante e admirado
naquela comunidade. Por isso, ao agradecer as palavras dele, você estará
demonstrando que possui identidade com aquela platéia, já que revelou que
aquele que escolheram para falar também lhe agradou.
Se por acaso julgar que o orador exagerou nos elogios a você, demonstre
humildade e procure justificar aquela atitude, dizendo, por exemplo, que
palavras tão benevolentes só poderiam ter partido de um amigo de tantos anos
(se for verdade, evidentemente), ou de alguém que, sabidamente, tem um coração
bondoso e que, ao longo da vida, sempre conseguiu enxergar só qualidades e
virtudes nas pessoas com quem convive.
Se você está achando que essas palavras são melosas demais e que as frases
exageram no sentimentalismo, acertou. Mas é assim mesmo que deve funcionar,
pois o momento é, por si só, de grande emoção, e todos, de uma maneira ou de
outra, prepararam o coração e, para eles, provavelmente, nada será exagerado.
Para constatar este fato, basta recordarmos as madrugadas que perdemos em
frente da televisão, ouvindo esses “mesmos exageros” nos agradecimentos das
pessoas agraciadas com o Oscar.
Agradeça às pessoas
presentes
As pessoas que foram assistir à homenagem que lhe fizeram provavelmente
tiveram que sair de suas casas, cancelar compromissos, enfim, se submeteram a
algum tipo de esforço ou até de sacrifício para estar presente à solenidade.
Ao agradecer a presença de todos, você estará demonstrando que tem
consciência desse fato, conquistando, assim, a benevolência, a simpatia e a
torcida da plateia. Diga também como a presença de todos torna esse marcante
momento de sua vida ainda mais importante.
Distribua os louros
Ninguém faz nada sozinho. Sempre dependemos da ajuda de alguém para
realizar nossos projetos.
As pessoas gostam muito dessa demonstração de reconhecimento e de
consideração àqueles que ajudaram na conquista. Você pode, por exemplo,
agradecer à equipe que participou de seu projeto e mencionar algum momento de
superação, em que, graças ao trabalho, à dedicação e à eficiência de todos, o
desafio foi vencido.
Se algum dos membros da equipe faleceu, adoeceu ou por um motivo muito
grave interrompeu suas atividades, não se esqueça de fazer referências a ele,
destacando suas qualidades, seu espírito de companheirismo e sua dedicação ao
trabalho.
Associe sua conquista a uma
causa nobre
É natural que alguém se empenhe em uma atividade
também com o objetivo de obter resultados financeiros, mas esse não é o momento
oportuno para tocar nesse assunto. Mesmo que o lucro tenha sido expressivo e
até tenha motivado sua decisão para abraçar aquela causa, este é um aspecto que
precisa ser desconsiderado nessa
ocasião.
Sempre haverá uma causa nobre que possa ser associada à sua conquista. Para
descobrir qual é essa causa, faça a seguinte pergunta: que tipo de beneficio
foi produzido para a sociedade?
Pode ser, por exemplo, que tenha recebido a homenagem por fazer o projeto
vencedor para a construção de um museu, uma escola, um teatro, ou qualquer obra
que beneficie a sociedade. É esse beneficio da coletividade que constitui a
causa nobre que precisa ser mencionada.
Faça um fechamento marcante
As palavras finais precisam ser pronunciadas com emoção mais acentuada,
para tocar o sentimento da plateia. Você poderá renovar os elogios à equipe e
dizer que deseja estar com todos novamente, participando de empreendimentos
grandiosos como o que motivou a homenagem. Poderá, ainda, agradecer a uma
pessoa querida que o tenha ajudado muito para que trilhasse os caminhos que o
levaram até aquela conquista, como, por exemplo, seu pai, um tio ou um amigo.
Entrevista em um programa de
grande audiência
Neste caso, alguns poucos segundos poderão representar horas na conta dos
quinze minutos. Sobra crédito. Mas não se satisfaça só com esse momento,
procure ter um desempenho que o projete de uma forma tão positiva que outros
programas também possam se interessar em entrevistá-lo. Se você já esteve nessa
situação e não se saiu muito bem, fique tranqüilo e se prepare melhor, porque
sempre há um jeitinho de se recuperar. Se seu desempenho foi bom, parabéns, mas
prepare-se para que seja ainda melhor na próxima vez. Se você nunca esteve
diante das câmeras, não espere a oportunidade para se preparar, porque, quando
ela chegar, você já deverá estar pronto.
Conheça o programa
Assim que receber o convite para participar, procure saber como o programa
funciona.
Tendo oportunidade, assista a pelo menos um deles e, se puder, grave para
assistir mais vezes. Sendo um programa de grande audiência, você provavelmente
já o conhece, mas, para dar entrevista, deverá observá-lo com outros olhos. Ao
assistir ao programa, poderá descobrir qual é o tipo de cenário e, a partir
dessa informação, escolher a roupa mais apropriada para a entrevista. Saberá
também o estilo do entrevistador — se é espirituoso, sério demais, se deixa o
entrevistado falar à vontade ou gosta de respostas curtas —, para que possa ter
maior participação.
Escolha a roupa apropriada
Escolha uma roupa com cores que sejam contrastantes e que, ao mesmo tempo,
se harmonizem com o cenário. Evite roupas listradas, xadrez, com estampas
pequenas e de cores berrantes ou chamativas, como o vermelho e o branco, que
acabam sobrepujando a imagem da pessoa.
Também não se aconselha o uso de acessórios brilhantes, como brincos, anéis
e pulseiras que reflitam a luz e sejam barulhentas, pois podem distrair a
atenção. Nada de bancar o Zé Bonitinho, com gravatas, lenços de cores berrantes
ou estampas exageradas e meias curtas, que mostrem um pedaço da perna, para que
não quebrem a harmonia do conjunto.
Só use óculos se forem extremamente necessários. Dificilmente eles ajudam a
fisionomia diante das câmeras. Se, mesmo assim, decidir usá-los, escolha os que
tenham lentes anti-reflexivas e armação leve, que combinem com a cor dos
cabelos e se adaptem perfeitamente ao formato do seu rosto. Se tiver condições,
valerá a pena procurar uma ótica que trabalhe com estilistas, pois são
profissionais preparados para analisar o formato do rosto, o tipo de
olhos, a cor dos cabelos e, a partir dessas informações, indicar os óculos
mais apropriados para as suas características.
Não se surpreenda com o medo
Se você for uma pessoa comum e não tiver muita experiência em dar
entrevistas, saiba desde já que as chances de sentir medo são de um para um.
Por isso, não se surpreenda com o medo, como se não soubesse que ele ocorreria
e fosse, assim, uma grande novidade. Quando o medo surgir, encare-o
naturalmente com a consciência de que a grande maioria passa pela mesma
situação. Com essa atitude, o mecanismo do medo não será realimentado.
Veja como funciona esse mecanismo da realimentação do medo:
“Hii, fiquei com medo, agora vou ficar nervoso, ao ficar nervoso, todos vão
perceber, com receio de que todos percebam, fico com medo e por isso mais
nervoso ainda e...” não tem fim.
Lembre-se também de que, se você foi convidado para uma entrevista, é
porque tem informações sobre o assunto o suficiente para que possa encontrar
respostas para as questões mais complexas. Mesmo conhecendo o tema com
profundidade, faça antes uma simulação com os colegas de trabalho, amigos ou
parentes. Converse bastante sobre o assunto, responda a perguntas — lembre-se
de sugerir que façam algumas provocativas —, verbalize seus pensamentos e se
acostume a ouvir o som da própria voz quando estiver passando as informações.
Tenha em mente que pensar é uma coisa, escrever é outra e falar, às vezes, não
tem nada a ver com essas duas atividades.
E, por falar em treino, procure exercitar respostas cadenciadas, sem
correria. Isso porque é comum, por causa do nervosismo, as pessoas acelerarem a fala quando são entrevistadas
e correrem, assim, o risco de dar respostas que depois produzem
arrependimentos.
Entenda bem: não estou sugerindo para você ir mortinho para a entrevista.
Ao contrário, vá disposto, animado, leve e espirituoso, mas, ao treinar, puxe um
pouco o freio de mão, porque na entrevista você vai acelerar. Esse mesmo jeito
natural de conversar que você terá com os amigos durante o treinamento deverá
ser transportado para a entrevista. Portanto, nada de querer fazer discurso ou
falar como se fosse um computador programado para dar respostas.
Como se comportar na
entrevista
Se você ficar sentado durante a entrevista, o que normalmente ocorre,
posicione-se de maneira firme, sem rigidez e com elegância. Evite cruzar os pés
em forma de “x” embaixo da cadeira, para não demonstrar que não está à vontade.
Não deixe as pernas esticadas, numa atitude negligente, e nada de ficar se
balançando ou girando a cadeira de um lado para o outro.
Se usar uma poltrona ou um sofá macio, que dificultam o posicionamento,
sente-se na parte da frente do assento, que em geral é mais rígida e permite
melhor equilíbrio. Faça uma carinha descontraída para demonstrar que sente
prazer em estar ali e explore de maneira positiva a expressividade do
semblante.
É provável que mostrem a câmera que irá focalizá-lo. Se não o fizerem,
saiba que é a que estará direcionada para você com uma luz vermelha acesa.
Com exceção dos programas em que a câmera focaliza simultaneamente o
entrevistador e o entrevistado (e neste caso esqueça que ela existe), quando o
entrevistador estiver fazendo a pergunta, olhe em sua direção. Ao respondê-la,
comece a falar ainda olhando para ele e, depois das primeiras palavras,
volte-se para a lente da câmera e continue como se estivesse conversando
naturalmente com três ou quatro pessoas numa pequena reunião íntima. De vez em
quando, retorne ao contato visual com o entrevistador, para demonstrar mais
espontaneidade.
Repita o que quiser destacar
e prepare-se para encerrar
Não perca a oportunidade de dizer o que julgar importante. Desde que não se
transforme num trator, para não atropelar a entrevista, repita sempre a
informação importante. Assim, não diga apenas que a revista foi lançada com
grande sucesso, aproveite para repetir o nome e deixá-lo gravado: a revista Vencer! foi lançada com grande sucesso.
E fale o que for importante logo que puder. Na primeira oportunidade, dê um
jeitinho de tocar no assunto. Por exemplo, se o entrevistador pergunta se é
difícil escrever um texto, não se limite a responder sim ou não, mas nesse
momento deixe o seu recado. Poderia responder: “A revista Vencer! É muito exigente com a qualidade dos textos, por isso,
quando sento para escrever e lembro que é para a revista Vencer!, já sei que deverei
me dedicar ainda mais à qualidade do artigo.”
Pronto, você já deixou o recado que desejava. Porque, se não agir assim,
vai descobrir que o tempo voa e logo estará ouvindo: “Foi com muito prazer que
recebemos o senhor...” E aí já foi, perdeu a chance.
Procure seus quinze
Está certo que Andy Warhol foi um dos maiores gênios que a humanidade
conheceu, mas não é porque ele disse . . .que basta sentar e esperar os quinze
minutos de fama chegar.
Além do mais, fama de quê? Pois é, algo tem que ser feito para merecê-la e
gozá-la. Assim, empenhe-se de maneira obstinada ao aperfeiçoamento do que você
sabe fazer melhor e esteja pronto para se destacar. E comece já, porque seus
quinze minutos já devem estar chegando. ~
Bibliografia para este tema:
POLITO, Reinaldo. Como se tomar um bom orador e se
relacionar bem com a Imprensa.
(Editora Saraiva)
Reinaldo Polito á
professor de expressão verbal há 25 anos, publicou nove livros, entre eles Como
falar corretamente e sem inibições – 93a edição, Gestos e postura para falar
melhor – 22a edição, e Assim é que se fala – 15a edição. Seus livros estão há
mais de dois anos nas listas dos mais vendidos.
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