Desde o começo do seu trabalho analítico, Anna Freud preocupou-se com o ego. Para ela, a investigação do id e de seus processos de funcionamento se constituiram sempre como um meio para se alcançar a correção das anormalidades com vistas à recuperação do ego, em sua integridade.
Como podemos obter inferências sobre essas instâncias: ego, superego e id?
Ego é o meio pelo qual tentamos numa auto-observação obter imagem do funcionamento das duas outras
instituições (id e superego) em nós mesmos (ou no caso do analista, do funcionamento destas instâncias no seu paciente). É pelo desenvolvimento do ego que a pessoa tem
uma imagem de si mesma.
Superego – atua o tempo todo, mas os seus conteúdos e contornos só se tornam claros
quando enfrenta o ego com hostilidade ou pelo menos com criticismo, ou quando
gera sentimento de culpa no ego. O superego é normalmente hostil e tirânico, pois não permite que o sujeito obtenha prazer. Apenas o conduz à obtenção do gozo, que é um prazer na dor e no sofrimento.
Id – seu conteúdo é composto de afetos e instintos sexuais e
agressivos que somente acessam ao consciente, ou seja, ao ego, com representações modificados em derivativos como
sonhos, atos falhos, chistes, sintomas, etc).
Atualmente diríamos que a tarefa da análise se processa da seguinte
maneira:
-
adquirir o máximo de conhecimento das 3
instituições psíquicas (ego, superego e id) e aprender quais são as suas
relações mútuas com o mundo externo.
Logo:
-
em relação ao ego, explorar o seu
conteúdo, as suas fronteiras e funções e apurar as influências no mundo
externo, no id e no superego;
-
em relação ao id, dar uma explicação dos
instintos, acompanhar as transformações por eles sofridas;
- em relação ao superego, observar em que medida este é tirânico, não permitindo que em momento nenhum o sujeito obtenha prazer, mas apenas gozo permeado de sofrimento.
Para o desenvolvimento das instâncias psíquicas, a criança
utiliza das sensações corporais internas e externas, num jogo de gratificação e
frustração, mas o princípio soberano que governa os processos psíquicos é o de
obtenção de prazer.
Os impulsos instintivos buscam satisfação, e para isso é
necessário que o EU, o ego, a pessoa o realize. Devido os imperativos da realidade
externa, bem como os imperativos internos ditados pelo superego, o ego vê-se
forçado a barrar a expressão dos impulsos instintivos do Id, submetendo-os a
condições rigorosas.
Assim, os impulsos sofrem modificações, mas esforçam-se para
alcançar seus fins, mesmo que para isso tenha que “burlar” o ego para obter a
satisfação. O ego contra-ataca utilizando medidas defensivas para manter a sua
própria integridade e a sua autoimagem.
Notamos que qualquer derivativo
do inconsciente que se apresente na vida cotidiana sofreu alterações, seja as
associações livres em psicanálise, sejam os atos falhos, sonhos, chistes, etc.,
porque ao se apresentarem ao ego este utiliza dos mecanismos do ego para
barrá-los e quando estes mecanismos falham, ainda assim modificam os impulsos
ou os mascaram.
Neste caso, observando os
mecanismos de defesa, a analise do id e do ego, em fins práticos estão
comparavelmente ligados entre si. Na situação analítica, todas as defesas
contra o id se manifestam, o que propicia as operações defensivas do ego em
plena ação.
O ego só pode ter à sua
disposição um número citado de possíveis mecanismos de defesa, pois de acordo
com a estrutura do sujeito e como ele defendeu em determinados períodos da vida
(ego) selecionou-os para combater os conflitos para libertar alguns afetos.
Como paciente:
O ego mostra-se coerente no uso
de todo e qualquer mecanismo que estiver sob seu mando. A patologia consiste na
rigidez do uso de determinados mecanismos, que evoluem para traços
caracterológicos permanentes, como sorriso fixo, comportamento hostil, ironia,
arrogância, etc.
O papel desempenhado pelo ego na
formação de sintomas consiste no uso invariável de um método especial de
defesa, com repetição desse processo de forma estereotipada.
O estudo dos sintomas
habilita-nos a inferir sobre a estrutura das suas resistências e de sua defesa
contra os conteúdos instintivos e afetivos.
Neurótica – recalque – possui
mecanismos de defesa que se apresentam em forma de :
-
sintomas (conversão)- culpa/angústia
- lapsos, chistes, atos falhos, sonhos...
Psicótica – Forclusão – atua no
real com alucinações e delírios
-
não tem os mecanismos de defesa com um funcionamento equilibrado e saudável.
O recalque tende essencialmente a
separar o afeto da representação, o que gera sintoma (conversão) ou angústia.
É no período dos primeiros anos
da infância que se registram os passos cruciais no desenvolvimento, que se
atravessam as importantes fases pré-genitais da organização sexual e que se
desenvolvem e entram em ação os diversos instintos que serão determinantes da
normalidade ou da patologia do indivíduo, da sua capacidade ou incapacidade
para o amor.
Há muitos jogos e fantasias infantis em que, através da metamorfose do objeto aterrador, converte a ansiedade numa segurança mais agradável.
Mecanismos de defesa:
Defesa – empregado em 1894 por
Freud para descrever a luta do ego contra idéias ou afetos dolorosos ou
insuportáveis. Era uma forma de proteção do ego contra exigências instintivas
que não poderiam ser satisfeitas.
Repressão/Inibição – método
especial de defesa, onde rechaça da consciência o afeto ou o instinto.
Mecanismo de desenvolvimento da estrutura neurótica (recalque) – onde a idéia é
lançada novamente no id.
Identificação – é um dos processos centrais da formação do eu (narcisismo x percepção do outro) e contribui para o domínio dos instintos. Nossas primeiras identificações tendem a ser globais, de abrangência total, mas com o tempo identificamos parcial e seletivamente, podendo nos identificar com o que é admirável quanto o que não o é nem tanto.
Projeção 1)– favorece o
desenvolvimento do ego no que concerne ao julgamento crítico e moral,
intolerando em outras pessoas comportamentos que tem aversão em si mesmo. O que
não tolera em si não tolera nos outros.
Projeção 2) – a ideia ou o
impulso objetal é lançado, deslocado para o mundo externo. O mecanismo de
projeção perturba nossas relações humanas quando projetamos o nosso ciúme e o
atribuímos a outras pessoas os nossos atos agressivos – paranoia. Pode
funcionar também estabelecendo vínculos, como seria numa rendição altruísta,
colocando nossos impulsos instintivos em favor de outras pessoas.
Introjeção – também participa do
desenvolvimento do ego, introjetando as autoridades a cuja crítica está exposto
e a incorpora no superego. A rigidez do superego em não suportar, sendo
implacável quanto ao comportamento dos outros e do próprio comportamento gera
patologicamente a melancolia ou depressão.
A combinação de introjeção e
projeção, a que damos o nome de identificação com o agressor representa uma
fase preliminar no desenvolvimento do superego e auxilia o ego a resolver seus
conflitos com autoridade, diminuindo sua ansiedade. É um processo defensivo,
desde que não haja rigidez e fixação no uso do mecanismo.
Identificação com o agressor: uma
criança introjeta uma certa característica de um objeto causador de ansiedade e
assim assimila uma experiencia de ansiedade que acabou de ser sofrida. Nesse
caso, o mecanismo de identificação e introjeção combinam-se entre si, ao
personificar a agressão, assumindo seus atributos ou imitando a sua agressão e
a criança transforma-se, passando da pessoa ameaçada para a pessoa que ameaça.
Na identificação com o agressor
reconhecemos o estágio do desenvolvimento normal do superego. Quando uma criança repete as críticas de
determinadas pessoas, internaliza o seu comportamento e introjeta as qualidades
destes, fazendo suas as características e opiniões dessas pessoas. Quando o
criticismo externo for introjetado, a ofensa é externalizada em forma de raiva
ou culpa.
Formação de reação ou anulação –
desfazer o que foi feito – alteração reativa do ego, substituindo o ódio por
excessivo amor/ternura. Significa manter o impulso indesejado longe do
consciente, super-enfatizando o impulso oposto.
Inversão contra o eu – inverte os
impulsos ou afetos contra o próprio eu com autoacusação, lesando meus próprios
interesses e gerando sentimento de inferioridade. Logo: odeio o outro – odeio a
mim mesma (masoquismo).
Isolamento – separar a idéia do
seu conteúdo emocional. Penso, mas não sinto.
Negação – eliminação de conteúdos
indesejáveis pela idéia de não aceitação dos mesmos. Fantasia em que a situação
real é invertida.
Regressão – escapar do impulso
indesejado voltando a um estágio anterior do desenvolvimento.
Sublimação – substituir o impulso
indesejável por atividades socialmente aceitáveis.
Formação de sintomas – repetição
estereotipada do mecanismo de defesa podendo convertê-lo para o corpo. O estudo
dos sintomas habilita-nos a inferir a estrutura das suas resistências e de sua
defesa contra seus próprios instintos e afetos.
Mecanismos do inconsciente:
-
sonhos = distorções oníricas – deslocamento
-
condensação
-
representação
Na luta id x ego, o ego sai
vitorioso quando as medidas defensivas atingem seus propósitos gerando
ansiedade, angústia, culpa, mas advindo certa dose de gratificação dos
instintos.
Condições para análise do ego:
Em análise, todo o conteúdo das
fases pré-genitais podem vir a consciência e o cliente pode atuar (acting-out
na transferência), ou seja, apresentar comportamentos infantís na idade adulta.
O elemento recalcado infantil se apresenta no aqui-agora como uma repetição
neurótica.
A psicanálise não visa
concentrar-se no sintoma. Esse efeito é conseqüência da análise. Ela visa
restabelecer o conflito para que as forças libidinais sejam capazes de se vincular
a outros objetos.
A transferência permite que o ego
do paciente, em contato com o ego do analista coloque o sintoma ou mecanismos
de defesa em observação, para que os conteúdos recalcados possam ser
compreendidos e para que o paciente aceitando o seu desejo sexual infantil
possa direcionar sua energia para a produtividade e para uma experiência sexual
mais satisfatória.
A libido deve ser colocada à
disposição do ego, que a partir de então se amplia percebendo que aquilo que
nunca admitiu desejar era um desejo sexual infantil, uma libido recalcada e por
meio do insight (reconhecimento da situação pelo paciente) ele se torne
apaziguador de suas resistências, modificando a imagem que ele tem de si mesmo
e corrigindo o rumo do seu destino.
A imutabilidade do id é
compensada pela mutabilidade do ego.
Cura se dá quando o cliente
recupera seus conteúdos infantis, reconhecendo-se enquanto desejante daqueles
desejos. O cliente tem que se implicar (retificação subjetiva).
Se tivermos acesso ao saber do
nosso desejo teremos o saber do nosso dia-a-dia.
Ao fim, ele descarta o analista e
segue sozinho e resoluto.
Para Anna Freud, o terapeuta deve
treinar a criança para entrar na transferência, induzindo o acting-out. Ela
acreditava que o método mais seguro para avaliar a influência dos pais sobre a
criança é proceder uma análise simultânea destes e de seus filhos (logo:
pedagogizava a criança e analisava os pais). Em certos casos é só com a análise
dos pais que se torna possível afrouxar o vínculo patológico para agir como
medida terapêutica no filho (se não mudar a posição dos pais, não muda a
criança).
Elaborado por Eliana
Olimpio,
em leituras
psicanáliticas e anotações em sala de aula
Setembro/2009
cel.: (31)9723.0845
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