terça-feira, 15 de julho de 2014

O EGO E OS MECANISMOS DE DEFESA

Os mecanismos  de  defesa são formações inconscientes, denominados por Anna Freud, filha e colaboradora de Sigmund Freud, e que têm a função de, inúmeras vezes, protegerem o Ego.



Desde o começo do seu trabalho analítico, Anna Freud preocupou-se com o ego. Para ela, a investigação do id e de seus processos de funcionamento se constituiram sempre como um meio para se alcançar a correção das anormalidades com vistas à recuperação do ego, em sua integridade.
Como podemos obter inferências sobre essas instâncias: ego, superego e id?

Ego é o meio pelo qual tentamos numa auto-observação obter imagem do funcionamento das duas outras instituições (id e superego) em nós mesmos (ou no caso do analista, do funcionamento destas instâncias no seu paciente). É pelo desenvolvimento do ego que a pessoa tem uma imagem de si mesma.

Superego – atua o tempo todo, mas os seus conteúdos e contornos só se tornam claros quando enfrenta o ego com hostilidade ou pelo menos com criticismo, ou quando gera sentimento de culpa no ego. O superego é normalmente hostil e tirânico, pois não permite que o sujeito obtenha prazer. Apenas o conduz à obtenção do gozo, que é um prazer na dor e no sofrimento.

Id – seu conteúdo é composto de afetos e instintos sexuais e agressivos que somente acessam ao consciente, ou seja, ao ego, com representações modificados em derivativos como sonhos, atos falhos, chistes, sintomas, etc).

Atualmente diríamos que a tarefa da análise se processa da seguinte maneira:

-        adquirir o máximo de conhecimento das 3 instituições psíquicas (ego, superego e id) e aprender quais são as suas relações mútuas com o mundo externo.

Logo:

-        em relação ao ego, explorar o seu conteúdo, as suas fronteiras e funções e apurar as influências no mundo externo, no id e no superego;

-        em relação ao id, dar uma explicação dos instintos, acompanhar as transformações por eles sofridas;
- em relação ao superego, observar em que medida este é tirânico, não permitindo que em momento nenhum o sujeito obtenha prazer, mas apenas gozo permeado de sofrimento.
Para o desenvolvimento das instâncias psíquicas, a criança utiliza das sensações corporais internas e externas, num jogo de gratificação e frustração, mas o princípio soberano que governa os processos psíquicos é o de obtenção de prazer.

Os impulsos instintivos buscam satisfação, e para isso é necessário que o EU, o ego, a pessoa o realize. Devido os imperativos da realidade externa, bem como os imperativos internos ditados pelo superego, o ego vê-se forçado a barrar a expressão dos impulsos instintivos do Id, submetendo-os a condições rigorosas.

Assim, os impulsos sofrem modificações, mas esforçam-se para alcançar seus fins, mesmo que para isso tenha que “burlar” o ego para obter a satisfação. O ego contra-ataca utilizando medidas defensivas para manter a sua própria integridade e a sua autoimagem.

Notamos que qualquer derivativo do inconsciente que se apresente na vida cotidiana sofreu alterações, seja as associações livres em psicanálise, sejam os atos falhos, sonhos, chistes, etc., porque ao se apresentarem ao ego este utiliza dos mecanismos do ego para barrá-los e quando estes mecanismos falham, ainda assim modificam os impulsos ou os mascaram.

Neste caso, observando os mecanismos de defesa, a analise do id e do ego, em fins práticos estão comparavelmente ligados entre si. Na situação analítica, todas as defesas contra o id se manifestam, o que propicia as operações defensivas do ego em plena ação.

O ego só pode ter à sua disposição um número citado de possíveis mecanismos de defesa, pois de acordo com a estrutura do sujeito e como ele defendeu em determinados períodos da vida (ego) selecionou-os para combater os conflitos para libertar alguns afetos.

Como paciente:

O ego mostra-se coerente no uso de todo e qualquer mecanismo que estiver sob seu mando. A patologia consiste na rigidez do uso de determinados mecanismos, que evoluem para traços caracterológicos permanentes, como sorriso fixo, comportamento hostil, ironia, arrogância, etc.

O papel desempenhado pelo ego na formação de sintomas consiste no uso invariável de um método especial de defesa, com repetição desse processo de forma estereotipada.

O estudo dos sintomas habilita-nos a inferir sobre a estrutura das suas resistências e de sua defesa contra os conteúdos instintivos e afetivos.

 Mecanismos de defesa, segundo as estruturas psíquicas:

Neurótica – recalque – possui mecanismos de defesa que se apresentam em forma de :
-        sintomas (conversão)
-        culpa/angústia
-        lapsos, chistes, atos falhos, sonhos...

 Perversa – recusa – Burla os mecanismos
-        Sabe do certo e do errado, possui mecanismos mas não os utiliza, não se angustia nem sente culpa

Psicótica – Forclusão – atua no real com alucinações e delírios
-        não tem os mecanismos de defesa com um funcionamento equilibrado e saudável.

O recalque tende essencialmente a separar o afeto da representação, o que gera sintoma (conversão) ou angústia.

É no período dos primeiros anos da infância que se registram os passos cruciais no desenvolvimento, que se atravessam as importantes fases pré-genitais da organização sexual e que se desenvolvem e entram em ação os diversos instintos que serão determinantes da normalidade ou da patologia do indivíduo, da sua capacidade ou incapacidade para o amor.

Há muitos jogos e fantasias infantis em que, através da metamorfose do objeto aterrador, converte a ansiedade numa segurança mais agradável.

Mecanismos de defesa:

Defesa – empregado em 1894 por Freud para descrever a luta do ego contra idéias ou afetos dolorosos ou insuportáveis. Era uma forma de proteção do ego contra exigências instintivas que não poderiam ser satisfeitas.
Enumeramos:

Repressão/Inibição – método especial de defesa, onde rechaça da consciência o afeto ou o instinto. Mecanismo de desenvolvimento da estrutura neurótica (recalque) – onde a idéia é lançada novamente no id.

Identificação – é um dos processos centrais da formação do eu (narcisismo x percepção do outro) e contribui para o domínio dos instintos. Nossas primeiras identificações tendem a ser globais, de abrangência total, mas com o tempo identificamos parcial e seletivamente, podendo nos identificar com o que é admirável quanto o que não o é nem tanto.

Projeção 1)– favorece o desenvolvimento do ego no que concerne ao julgamento crítico e moral, intolerando em outras pessoas comportamentos que tem aversão em si mesmo. O que não tolera em si não tolera nos outros.

Projeção 2) – a ideia ou o impulso objetal é lançado, deslocado para o mundo externo. O mecanismo de projeção perturba nossas relações humanas quando projetamos o nosso ciúme e o atribuímos a outras pessoas os nossos atos agressivos – paranoia. Pode funcionar também estabelecendo vínculos, como seria numa rendição altruísta, colocando nossos impulsos instintivos em favor de outras pessoas.

Introjeção – também participa do desenvolvimento do ego, introjetando as autoridades a cuja crítica está exposto e a incorpora no superego. A rigidez do superego em não suportar, sendo implacável quanto ao comportamento dos outros e do próprio comportamento gera patologicamente a melancolia ou depressão.

A combinação de introjeção e projeção, a que damos o nome de identificação com o agressor representa uma fase preliminar no desenvolvimento do superego e auxilia o ego a resolver seus conflitos com autoridade, diminuindo sua ansiedade. É um processo defensivo, desde que não haja rigidez e fixação no uso do mecanismo.

Identificação com o agressor: uma criança introjeta uma certa característica de um objeto causador de ansiedade e assim assimila uma experiencia de ansiedade que acabou de ser sofrida. Nesse caso, o mecanismo de identificação e introjeção combinam-se entre si, ao personificar a agressão, assumindo seus atributos ou imitando a sua agressão e a criança transforma-se, passando da pessoa ameaçada para a pessoa que ameaça.

Na identificação com o agressor reconhecemos o estágio do desenvolvimento normal do superego.  Quando uma criança repete as críticas de determinadas pessoas, internaliza o seu comportamento e introjeta as qualidades destes, fazendo suas as características e opiniões dessas pessoas. Quando o criticismo externo for introjetado, a ofensa é externalizada em forma de raiva ou culpa.

Formação de reação ou anulação – desfazer o que foi feito – alteração reativa do ego, substituindo o ódio por excessivo amor/ternura. Significa manter o impulso indesejado longe do consciente, super-enfatizando o impulso oposto.

Inversão contra o eu – inverte os impulsos ou afetos contra o próprio eu com autoacusação, lesando meus próprios interesses e gerando sentimento de inferioridade. Logo: odeio o outro – odeio a mim mesma (masoquismo).

Isolamento – separar a idéia do seu conteúdo emocional. Penso, mas não sinto.

Negação – eliminação de conteúdos indesejáveis pela idéia de não aceitação dos mesmos. Fantasia em que a situação real é invertida.

Regressão – escapar do impulso indesejado voltando a um estágio anterior do desenvolvimento.

Sublimação – substituir o impulso indesejável por atividades socialmente aceitáveis.

Formação de sintomas – repetição estereotipada do mecanismo de defesa podendo convertê-lo para o corpo. O estudo dos sintomas habilita-nos a inferir a estrutura das suas resistências e de sua defesa contra seus próprios instintos e afetos.

Mecanismos do inconsciente:

-        sonhos = distorções oníricas –     deslocamento

-        condensação

-        representação

Na luta id x ego, o ego sai vitorioso quando as medidas defensivas atingem seus propósitos gerando ansiedade, angústia, culpa, mas advindo certa dose de gratificação dos instintos.

Condições para análise do ego:

Em análise, todo o conteúdo das fases pré-genitais podem vir a consciência e o cliente pode atuar (acting-out na transferência), ou seja, apresentar comportamentos infantís na idade adulta. O elemento recalcado infantil se apresenta no aqui-agora como uma repetição neurótica.

A psicanálise não visa concentrar-se no sintoma. Esse efeito é conseqüência da análise. Ela visa restabelecer o conflito para que as forças libidinais sejam capazes de se vincular a outros objetos.

A transferência permite que o ego do paciente, em contato com o ego do analista coloque o sintoma ou mecanismos de defesa em observação, para que os conteúdos recalcados possam ser compreendidos e para que o paciente aceitando o seu desejo sexual infantil possa direcionar sua energia para a produtividade e para uma experiência sexual mais satisfatória.

A libido deve ser colocada à disposição do ego, que a partir de então se amplia percebendo que aquilo que nunca admitiu desejar era um desejo sexual infantil, uma libido recalcada e por meio do insight (reconhecimento da situação pelo paciente) ele se torne apaziguador de suas resistências, modificando a imagem que ele tem de si mesmo e corrigindo o rumo do seu destino.
A imutabilidade do id é compensada pela mutabilidade do ego.

Cura se dá quando o cliente recupera seus conteúdos infantis, reconhecendo-se enquanto desejante daqueles desejos. O cliente tem que se implicar (retificação subjetiva).

Se tivermos acesso ao saber do nosso desejo teremos o saber do nosso dia-a-dia.

Ao fim, ele descarta o analista e segue sozinho e resoluto.

Para Anna Freud, o terapeuta deve treinar a criança para entrar na transferência, induzindo o acting-out. Ela acreditava que o método mais seguro para avaliar a influência dos pais sobre a criança é proceder uma análise simultânea destes e de seus filhos (logo: pedagogizava a criança e analisava os pais). Em certos casos é só com a análise dos pais que se torna possível afrouxar o vínculo patológico para agir como medida terapêutica no filho (se não mudar a posição dos pais, não muda a criança).


Elaborado por Eliana Olimpio,
em leituras psicanáliticas e anotações em sala de aula
Setembro/2009
cel.: (31)9723.0845

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