Como
lidar com o mau humorado?
Existem pessoas que pode-se dizer que são cronicamente mau
humoradas. O mau humorado revela uma enorme insatisfação com seu estilo de
vida, responsabilizando o outro pelo seu sofrimento.
E existem, digamos graus de mau humor. Existem situações que nos
deixam mau humorados, como o estresse cotidiano com o trânsito, conflitos no
trabalho, excesso de compromissos, calor e outros. Apesar de às vezes despertar
no sujeito um acesso de fúria, muitas vezes o mau humor é brando e passa logo.
Ocorre porém, que num grau muito elevado e crônico, o mau humor
pode ser indício de uma doença denominada distimia ou transtorno do humor. Nesse
caso, a pessoa mostra uma amargura na vida e um desprazer de viver. São
sintomas que evoluem para a depressão.
O problema porém, nem sempre é percebido, pois inicia-se num
processo lento, gradual mas contínuo, de modo que a doença pode ser confundida
apenas com um estado de espírito.
Neste caso, a pessoa apresenta também baixa autoestima, irritabilidade,
tristeza profunda, mágoas e ressentimentos, falta de projetos ou desesperança e
descrença no futuro. É um pessimista convicto. Essas pessoas tendem ao
isolamento e veem tudo com grande dificuldade.
O problema maior é que vivemos numa sociedade que, apesar de
exigir que se desfrutem os prazeres na vida, proporciona às pessoas muito mais
amarguras do que possibilidades de alegrias. Há uma contradição: exige-se que
sejamos alegres numa sociedade depressiva, que enfatiza os infortúnios e as
desgraças.
Se a pessoa está sempre
de cara amarrada, isso significa que o seu mau humor já se tornou crônico. É difícil
conviver com uma pessoa assim. O mau humor contamina o ambiente e as pessoas. Quem
está sempre perto do mau humorado tende a sentir-se irritado, desgastado,
cansado, intolerante e normalmente, com o tempo as pessoas tendem a se afastar
do mau humorado. O mau humorado necessita de ajuda e não é fácil ajuda-lo,
porque as vezes ele entende sua doença como característica da sua personalidade
e não está disposto a mudar. Não compreende que tem tratamento.
Ninguém nasce mau humorado. O bebê chora ao nascer, porque ele é
retirado do útero que é um lugar extremamente aconchegante para ele e a intensidade
do seu chorar demonstra a sua força para se indignar com as agruras da vida. Mas
a partir de então, viver não é chorar. Viver é criar estratégicas para diminuir
o impacto dos sofrimentos da vida. E ao choro se contrapõe o humor e a alegria.
As crianças fazem isso muito bem. Porém, ao longo da vida, à medida que o
sujeito vai sendo frustrado, ele pode ir perdendo a energia para atribuir às situações
aparentemente desesperadoras novos sentidos. E então, a pessoa vai tornando-se mau humorada.
É claro que pode existir um componente genético, um distúrbio orgânico
e que nesse caso deve ser tratado com medicamentos, mas muitos mau humorados são
pessoas que se deixam levar pelo desânimo, pela apatia e pela acomodação diante
dos obstáculos que a vida nos impõe. Estes atribuem aos outros, à economia, à
política, à vida os seus infortúnios e não fazem nada para superar isso. Queixam-se,
queixam-se, queixam-se.
Sinalizar para a pessoa que ela está sempre mau humorada e que
isso parece ser um indício de doença, poderia despertar nela um interesse em
procurar ajuda. Mas ninguém pode fazer nada pelo mau humorado se ele não
quiser. Apenas ele pode ajudar-se a sair dessa condição.
Devemos lembrar sempre que para o mau humor o humor é o melhor
remédio. Devemos colocar alegria na nossa vida. Freud, o pai da psicanálise nos
adverte que o humor é o que nos permite suportar as agruras da vida. Uma dose
de humor nas situações adversas é uma forma saudável de compensar o desprazer com o prazer. Gonzaguinha
estava certo quando compôs o verso: “viver e não ter vergonha de ser feliz,
cantar e cantar e cantar...” - o bom humor é o que nos salva.
Resumo
da entrevista que realizei para a Rádio Inconfidentes AM 880 / www.inconfidencia.com.br, programa “Em boa companhia”, apresentação
de Selma Sueli, Pedro Henrique e Gustavo Abreu no dia 07/10/2015 às 10:05h.
Tema: Como o mau humor pode afetar o nosso cotidiano
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