quinta-feira, 7 de julho de 2011

Ressaca Moral

Quero compartilhar com vocês reflexões de uma psicóloga, Luciana Gaudio*, que achei muito interessante.
Espero que apreciem.
Ressaca Moral
Muitas vezes queremos tomar certas atitudes, adotar determinados modelos de comportamento, melhores que os atuais, mas não conseguimos, pois, o simples ato da vontade (embora seja o passo inicial e fundamental) não faz com que deixemos para traz todos os maus hábitos cultivados há tempos.
Parece simples fazer isto, se analisarmos racionalmente, mas quando há o atravessamento da emoção (e sempre há) tudo ganha nova dimensão. A  vontade de acertar e fazer tudo diferente é tão grande que  o  desejo de que seja assim faz parecer que vai ser tão fácil. Na realidade porém, é tudo mais difícil e nos vemos diante de desafios inimagináveis e nem mesmo narráveis,  pois só sentindo para saber do que se trata. Geralmente subestimamos a força das fraquezas morais que ainda residem em nós. Prometemos a nós mesmos fazer diferente e nos vemos fazendo tudo que não gostaríamos. Lembrando o apóstolo Paulo “O mal que não quero, faço. O bem que quero, este não faço.” A questão é que estamos saindo da lama moral rumo a uma postura melhor agora, mas esquecemos que nosso pé está muito mais encharcado na lama do que fora dela e nos candidatamos a angelitude antecipadamente, sem termos lastro para isso.
Faz-se um abismo entre a vontade de querer ser melhor e o que se é ainda de verdade. É preciso haver um exercício constante de humildade para se aceitar como se é, e para ter paciência o suficiente para cair muito mais vezes do que gostaria. É necessário também força e persistência  para levantarmos porque senão a ressaca moral nos deixa na lona e atrasa nossa caminhada ainda mais. Na nossa caminhada evolutiva não podemos nos esquecer jamais de que para voar rumo ao criador e voltar a origem, precisamos de duas asas em equilíbrio: a moral e a intelectual. A primeira, ao meu ver mais difícil de ser conquistada, pois para isso temos que lapidar vários defeitos para torná-los virtudes. Conquistar a intelectualidade por outro lado, requer o seu esforço mas pode até exacerbar o orgulho e a vaidade, duas grandes pedras no sapato moral da humanidade. O conhecimento é o farol que ilumina o caminho a seguir mas somente o aspecto moral será o motor que vai nos colocar efetivamente neste caminho. Estou me referindo aqui a um conhecimento da “verdade”, daquele saber que reside no âmago de cada um e que a vida, generosamente nos lembra o tempo todo. Estamos sempre diante de situações no cotidiano que nos remetem a magnitude de Deus e as suas verdades. Em nós também há uma centelha divina que através da intuição e da consciência nos mostra o caminho certo. Se ignorarmos estes mecanismos que Deus bondosamente nos concedeu, um incômodo irá surgir. Se tentarmos fugir dele, podemos até nos iludir, mas em algum momento, quando ficarmos sozinhos conosco mesmos ele irá surgir com toda força trazendo angústia para que possamos perceber que há outras possibilidades. Da mesma forma, quando estamos coerentes com o fluir da vida e da vontade de Deus, uma paz nos toma intimamente, mesmo que externamente só haja barulho. E no mundo, principalmente em um de provas e expiações, há inúmeras formas de nos iludir: O imediatismo dos divertimentos fáceis, a volúpia carnal, o desregramento sexual, atividades vazias, as conversas maledicentes, os programas sociais fúteis, o poder, a fama, a ganância e tantos outros. É muito comum escutarmos no dia-a-dia que, “saber viver” é aproveitar intensamente cada minuto fazendo somente o que dá prazer. Aí as pessoas acham que viajar, fazer sexo, estar se divertindo o tempo todo, não ter tantas responsabilidades se resume em “aproveitar a vida”. Este é o raciocínio das “formigas” que não vêm além do palmo do chão que se encontram. Quando se sobe mais alto um pouquinho, é possível enxergar que o mundo é muito mais amplo e que estamos aqui em uma breve passagem. O objetivo principal desta nossa estadia no planeta é tirarmos um pouco daquela lama da qual falei no início da conversa. Precisamos conquistar o domínio sobre nós mesmos para estarmos mais próximos do nosso criador, isto sim garante uma alegria perene e genuína. Aproveitar a vida, sobre este ponto de vista, é nos esforçamos ao máximo para vencermos a nós mesmos, pois a recompensa deste esforço é muito mais duradoura e grandiosa do que a ilusão destes divertimentos mundanos e passageiros. É muito fácil nos entregarmos a nossa vontade que se encontra encharcada de vícios. Difícil é domar estas vontades. A escolha é de cada um. Pode-se iludir e achar que se é feliz vivendo “loucamente” ou encarar a realidade e arregaçar as mangas para se tornar alguém melhor e conquistar a paz íntima. Podemos usar o lado  racional para nos enganarmos (e somos bons nisso!), mas não podemos fugir daquele vazio interior quando estamos as sós  com o travesseiro. Por isso as duas asas têm que estar juntas, a inteligência precisa estar a serviço da sabedoria.
Uma  ótima forma de testarmos os sentimentos e exercitarmos nossa vontade de melhorar é o que Jesus nos ensinou: a caridade. A caridade se reveste de várias formas e a mais meritória costuma ser a mais sutil. Ir aos asilos, em creches, doar seu tempo ao próximo é um ótimo antídoto para fugir da mente vazia que é a “oficina do diabo”. A caridade mais difícil de exercer, porém, é a primeira que devemos realizar: a convivência com os mais próximos, principalmente os mais difíceis. Esta deve começar em casa, através da tolerância com os familiares difíceis, através da paciência com os filhos, o esposo, da compreensão com os colegas de trabalho que testam nosso limites..
Quando paramos de insistir no erro e escolhemos não nos iludirmos mais, aí temos um looongo caminho pela frente. Quando temos convicção de que queremos ser melhor já há muito o que fazer, imaginem quando ainda estamos vacilantes, o quanto retardamos nossa plenitude voluntariamente, sem a menor necessidade.  Bem, feita esta primeira escolha voltamos ao raciocínio inicial para enfim, concluí-lo. Quando queremos de todo o coração sermos melhores, vamos nos deparar com tantas dificuldades e perceberemos surpresos que as maiores sempre residiram em nós mesmos. Um exemplo: proponho-me seguir o modelo do nosso irmão mais evoluído: Jesus. Aí já não quero me entregar à maledicência, e me incomodo com julgamentos e criticas ácidas ao próximo. Afinal, Jesus ensinou a ver o melhor das pessoas, pois até num cão em estado de putrefação Ele conseguiu enxergar seus belos dentes. Já consciente de que meu telhado moral é completamente de vidro, sei que não tenho o direito de julgar quem quer que seja. Porém, com certa freqüência me vejo interessada em conversas sobre a vida alheia, me flagro emitindo opiniões vazias sobre atitudes de pessoas próximas, me interesso por notícias sobre artistas que se separaram, engravidaram, enfim... Pior, me pego apontando de mão cheia os defeitos das pessoas que trabalham comigo, dos familiares, dos amigos. E quando cai a ficha (a consciência ajuda a cair mais rápido se estivermos aptos a ouvi-la) bate a ressaca moral. Por que estou fazendo isto se tinha prometido a mim mesma não mais fazer? Aí vem novamente a possibilidade de novas escolhas: posso me demorar no remorso e ficar me martirizando por ser ainda tão imperfeita ou posso reagir o mais rápido que conseguir e me aceitar ainda falha como sou, mas com o firme propósito de a cada queda moral levantar um pouquinho mais fortalecida. Como o orgulho e a vaidade são dois dos nossos principais inimigos (e grandes professores), escolher a segunda opção é mais difícil. Exige mais coragem. Se aceitar defeituoso e com vícios que não gostaríamos de ter não é fácil. Aceitar que, mesmo querendo fazer diferente, ainda estamos longe de conseguir, nos dá uma sensação de impotência  ultrajante para nossa enorme vaidade. Saber que, mesmo querendo acertar ainda vou errar muitas vezes é o começo da humildade conquistando espaço em nós. A sensação horrível de derrota depois de uma queda moral só começa a ser superada quando nos lembramos da misericórdia de Deus conosco, mesmo sem o nosso merecimento, pois Ele está sempre renovando nossas oportunidades. Diante disso, podemos ampliar o olhar para vários outros aspectos. Exemplo: Vemos que tirar uma nota ruim, principalmente para quem está acostumado à só tirar notas altas, ser criticado, errar, não passar numa prova, não ser o escolhido da vez são acontecimentos fundamentais para avaliarmos as quantas anda nossa vaidade e orgulho. Quanto maior estiverem, mais longe estaremos dos nossos objetivos evolutivos. Diante das situações citadas como ficamos? Tranquilos, conscientes das nossas atitudes, ou agitados, nervosos, chateados ao extremo? A resposta desta análise pessoal é um termômetro para nosso autoconhecimento.
Por isso considero a vontade o ato inicial e fundamental de qualquer mudança. Com ela já será bastante trabalhoso deixar o homem velho para trás, sem ela, estacionamos.  Jesus disse que a fé remove montanhas. Quando queremos algo é porque acreditamos que é possível, caso contrário, mergulhamos na escuridão do estado depressivo que não vê solução e não acredita na melhora. É, alías, outra forma de nos iludirmos, pois por pior que seja uma situação sempre há saída. Quando não enxergarmos isto nos encontramos com o raciocínio bloqueado pelo viés da emoção perturbada pelos nossos instintos inferiores. Sendo assim, a vontade aliada a fé realmente remove qualquer obstáculo. Este é o exercício para conquistarmos a mola que move o mundo: o amor. Por ela despertamos a vontade, consolidamos a fé e todo o resto vem por conseqüência. Podemos pensar que o ódio também tem este poder, mas aí já estamos atentos para as armadilhas da ilusão, o ódio nada mais é do que o amor magoado. Força verdadeira só existe no que nos afeta e só o amor é capaz de nos afetar. Ele possui múltiplas facetas, algumas irreconhecíveis por sermos tão limitados para entendê-lo. Mas, por mais que o tumulto da nossa invigilância nos desespere quando conseguimos retomar a sintonia com o mais “alto” vemos que tudo ocorre dentro da permissão e sabedoria de Deus. Sempre temos o que precisamos e a riqueza da caminhada é que nos faz valorizar todas as conquistas. Fazemos o que damos conta e querer violentar isso é atentar contra a humildade da aceitação. Que Deus continue tendo misericórdia de nós...

* LUCIANA GAUDIO MARTINS FRONTZEK é psicóloga, com consultório em Belo Horizonte.

2 comentários:

  1. Estranho texto, sou graduanda de Psicologia e o texto parece mais de uma religiosa do que de alguém da área da Psicologia...

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