domingo, 21 de abril de 2013

Transtorno de comportamento antissocial


O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV-TR) compila toda espécie de comportamentos patológicos. Dentre eles, descreve o Transtorno de Personalidade Antissocial, também denominado psicopatia, sociopatia ou transtorno dissocial da personalidade como transtorno caracterizado por desprezo e violação dos desejos, sentimentos ou direitos dos demais em que os seus portadores frequentemente enganam e manipulam com intento de obter prazer ou benefícios pessoais. Pessoas portadoras desse transtorno iniciam os desvios de conduta na infância ou início da adolescência, mas o que o caracteriza é o fato do comportamento antissocial persistir pela vida adulta (DSM-IV-TR p.592). Estes indivíduos tendem a ter comportamentos que envolvem agressão a pessoas ou animais, destruição de propriedades, fraudes ou furtos, violação grave das normas sociais, desprezo pelas leis, podendo impetrar repetidamente atos que são motivos de detenção e ainda assim mostram indiferença pela responsabilização por seus atos.
Estudos[1] sobre o Transtorno de Personalidade Antissocial demonstram que o maior número de delinquências é cometido na adolescência, principalmente para indivíduos do sexo masculino, na idade em torno dos 17 anos, e decresce em 50% quando esta população atinge a idade de 20 anos diminuindo ainda mais em torno dos 28 anos.  Portanto, durante a fase da adolescência há uma prevalência do comportamento antissocial, mas este comportamento tende a desaparecer com a maturidade. Apontam, ainda, que crianças que possuem déficits cognitivos que atingem a memória, leitura, escrita, interpretação, verbalização, resolução de problemas e outras funções executivas possuem grande possibilidade de adotar condutas antissociais. Outros fatores neuropsicológicos também podem estar associados, como a hiperatividade, o déficit de atenção e a impulsividade.
Autores como Coie, Belding, & Underwood, 1988; Rodeio, Coie, & Brakke, 1982; Vitaro e outros, 1990, que tratam de indivíduos com comportamentos delinqüentes, ressaltam que crianças cujo comportamento é agressivo desde a infância naturalmente repelem oportunidades de adotarem comportamentos pró-sociais ou de adquirirem novos repertórios de comportamentos socialmente aceitáveis. Desta forma, são constantemente rejeitados por seus pares e por adultos, e, consequentemente trazem grandes transtornos para a escola.
A síndrome do comportamento antissocial persistente tem uma base biológica em deficiências orgânicas sutis do sistema nervoso, mas que não são determinísticas (Moffitt, 1990) e é ainda, associada a outros transtornos mentais. Os indivíduos com essa síndrome são impermeáveis a intervenção e adotam esse comportamento indiscriminadamente em qualquer situação. Servem ainda de modelo para os jovens adolescentes que os imitam e os idealizam, pois nossa sociedade acaba reforçando modelos agressivos.
Moffit (1990), realizou vários levantamentos bibliográficos e estatísticos do tema em questão e, dentre eles, analisando longitudinalmente uma amostra da população de crianças da Nova Zelândia, nos anos1972-1973, o autor pode nos apontar dois grupos de adolescentes com comportamentos antissociais, sendo que um grupo apresentou esse comportamento especialmente durante a adolescência enquanto outro grupo apresentou o comportamento desde a infância e permaneceu com o comportamento antissocial também após a idade adulta. Afirma que o comportamento antissocial possui uma preponderância no gênero masculino e comparando os dois grupos, o autor ressalta que “um corpo substancial da pesquisa longitudinal aponta consistentemente a um grupo muito pequeno de machos que indicam taxas elevadas de comportamento antissocial através do tempo e em situações diversas”.
O autor, ao longo do estudo ressalta que o ambiente interacional da criança, compreendido pela família na sua relação pais-filhos, escola e outros ambientes podem agravar as condições que promoveriam uma conduta antissocial no adolescente. Assim, a gestação em que a mãe faz uso frequente de álcool ou drogas comprometeria o desenvolvimento neuronal do feto e isso, se associado a negligencia dos familiares no cuidado da criança, maus tratos e outros abusos seriam fatores de contribuição para a formação de uma personalidade com comportamento antissocial que poderia inclusive, persistir no jovem ao longo da vida adulta.
Apesar de ser pequena a porcentagem da população que mantém ao longo da vida o comportamento antissocial, este indivíduo apresenta desde a infância indícios de comportamentos desviantes como fazer birras, morder, bater, cometer pequenos furtos, mentir, utilizar de ociosidade e que se agravam durante a vida adulta e que geram, ao mesmo tempo, uma reação muitas vezes agressiva do ambiente em que estão inseridos.
Mofitt (1993),  enfatiza que não é a gravidade das sanções e punições legais que inibirão o indivíduo com comportamento antissocial persistente a desistir do crime.  Avalia que estes indivíduos possuem traços com desordem de personalidade, déficit cognitivo e histórias de vida de privações que os impedem de buscar resultados pró-sociais e explorarem novos caminhos na vida.
Moffit (1993) cita autores como Oeste e Farrington (1977) que observaram que o prognóstico para o indivíduo com comportamento antissocial persistente é desolador, uma vez que muitas vezes o mesmo se vê envolvido com drogas e álcool, muda constantemente de emprego, é impulsivo e violento, contrai dívidas, agrava a pobreza, adota comportamentos de risco como dirigir bêbado, relacionamentos múltiplos e instáveis, promiscuidade sexual, imprudência, falta de capacidade para a lealdade e amizade, falta de empatia e falta de remorso ou vergonha, dificuldade para envolver-se afetivamente e outras características compatíveis com sintomas de doenças psiquiátricas.
O autor ressalta que pela apuração dos levantamentos longitudinais do comportamento do sujeito ao longo da sua vida efetuado através de relatórios judiciais, percebe-se que os psicopatas diminuem suas condutas ofensivas e criminosas em torno dos 40 anos, mas arrastam atrás de si uma constelação de traços antissociais da personalidade que poderiam ser confirmados através de relatórios escolares, relatórios trabalhistas e até mesmo em fichas policiais. Duvida-se que esse comportamento realmente se extinga em torno dessa idade, pois o que se hipotetisa é que a justiça acaba por ser mais conivente com criminosos idosos além de outros fatores que poderiam confundir os números estatísticos levantados.
O que é mais preocupante é que, conforme o autor, os indivíduos com comportamentos antissociais persistentes na vida adulta não desistem da delinquência e não são permeáveis a intervenções.
  


[1] Psychological Review, Vol 100(4), Oct 1993, 674-701, ADOLESCENCE-LIMITED AND LIFE-COURSE-PERSISTENT ANTISOCIAL BEHAVIOR: A DEVELOPMENTAL TAXONOMY, By Moffitt, Terrie E.
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