sábado, 15 de outubro de 2011


ADOLESCÊNCIA E CONTEMPORANEIDADE

O ser adolescente sempre existiu, mas o comportamento “adolescente”, com todas as suas características e significados vêm mudando de época em época. Segundo Philippe Ariès, a descoberta da adolescência propriamente dita se deu a partir do momento em que se criaram escolas para educar os filhos e estes, aglomerados por faixa etária, demonstravam comportamentos típicos, diferentes de outros grupos.

Assim nasceu a nomenclatura “adolescência”. Adolescer significa maturar, e compreende aspectos como maturação física com possibilidade do exercício sexual e da reprodução, construção da identidade e possibilidade de produzir algo que possa ser dirigido para a sociedade, como o trabalho, criações artísticas ou outras atividades.

Essas características são universais e de acordo com cada cultura o jovem passa por rituais que marcam a sua passagem da infância para a adolescência. É conhecido os rituais tribais, em que o adolescente se submete a práticas em que deverá demonstrar força, coragem e inteligência.

Na sociedade contemporânea, os rituais de passagem dos adolescentes acompanha o avanço tecnológico e as influências do sistema, como as provas de vestibular para ingresso na universidade, tirar a carteira de motorista, o título eleitoral, os bailes de formatura, os bailes de debutantes, as viagens com os grupos de amigos sem a presença dos pais e outros.


Mas a adolescência não há só flores. Por ser um momento de transição em que o jovem está em construção da sua identidade, alguns transtornos também podem aflorar. Novos sintomas têm surgido, principalmente para essa faixa etária, tais como as distorções da imagem corporal, com todas as suas conseqüências, como anorexia, bulimia, vigorexia, e outros, os transtornos de conduta que tanto preocupam a sociedade, a prática sexual sem responsabilidade, gerando gravidez indesejada e doenças sexualmente transmissíveis, o isolamento relacional ou prática de relacionamentos apenas virtuais e outras.
Psicólogos, médicos, educadores e outros profissionais têm buscado respostas à essas questões que se impõe, através da interlocução com os vários saberes e o aprofundamento da subjetividade dos sujeitos envolvidos. Inicialmente enfrentam desafios, como abrir mão do saber constituído para a busca de algo novo.

O que se sabe é que nos tempos atuais, houve a queda da função paterna e a desverticalização da função social. De que se trata isso? Trata-se da diminuição da força da Lei e da hierarquia. Nesse sentido, pais, educadores, policiais e juízes, anteriormente representantes da lei pouco contribuem para a organização social. O jovem, principalmente não acata mais a autoridade que essas figuras impunham e, perdidos, vagueiam pelos rumos da transgressão e do desafio.

Não se sabe hoje, o que fazer para devolver às gerações o sentido do respeito, do cuidado, dos limites. Não temos destituição da cultura, mas muita coisa mudou. O conceito de adolescência tem que ser visto dentro dos vários contextos – social, político, econômico, etc.

No campo psíquico, percebemos uma invasão de questões psíquicas influenciando diretamente o campo físico, gerando fenômenos clínicos com desafios à área de saúde. Não se pode mais tratar apenas o físico, porque a saúde mental está na ordem do dia e o adolescente, principalmente, está totalmente imbricado na sua subjetividade. Há de se considerar que muitas vezes um sintoma físico se apresenta como um apaziguamento do sujeito, como uma solução para uma perturbação psíquica muito mais profunda do que aparenta.

Assim, a obesidade, muito mais do que demonstrar que o jovem come “bobagens” excessivamente, pode estar dizendo da dificuldade de socializar; a anorexia, muito mais do que dizer do perfeccionismo com a aparência pode estar dizendo da carência afetiva e da necessidade de ser aceita; o abuso de drogas, muito mais do que um vício pode estar dizendo de uma inibição sexual, intelectual. Há hoje a exigência da sexualidade exacerbada e os exageros e imposições podem gerar profundos sintomas.

Por outro lado, exigências como “passar no vestibular, ser pós graduado, estudar em escolas de elite, ter bens materiais sofisticados e outros, levam o sujeito a sucumbir diante de impossibilidades. Nem sempre é possível cumprir os ditames sociais e isso gera sentimentos de impotência a depressão. Por outro lado, a frieza para a busca dessas condições, bem como pensamentos e discursos paranóicos e megalomaníacos também podem ser sintomas dessas imposições.

É importante estudar a adolescência, porque ela desvela questões.  São os adolescentes que podem nos responder a que vieram. A abordagem do jovem hoje tem que ser  diferenciada em relação ao que se abordava há 30 anos atrás. Não há mais como impor um saber constituído, mas buscar neles as respostas para as demandas que se apresentam. É esse sujeito que pode nos responder e as suas respostas eu devo considerar. Apenas escutando-os, considerando-os podemos fazer emergir o novo, e assim, quem sabe protegê-los e proteger-nos.



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