ADOLESCÊNCIA
E CONTEMPORANEIDADE
O ser
adolescente sempre existiu, mas o comportamento “adolescente”, com todas as
suas características e significados vêm mudando de época em época. Segundo
Philippe Ariès, a descoberta da adolescência propriamente dita se deu a partir
do momento em que se criaram escolas para educar os filhos e estes, aglomerados
por faixa etária, demonstravam comportamentos típicos, diferentes de outros
grupos.
Assim nasceu
a nomenclatura “adolescência”. Adolescer significa maturar, e compreende
aspectos como maturação física com possibilidade do exercício sexual e da
reprodução, construção da identidade e possibilidade de produzir algo que possa
ser dirigido para a sociedade, como o trabalho, criações artísticas ou outras
atividades.
Essas
características são universais e de acordo com cada cultura o jovem passa por
rituais que marcam a sua passagem da infância para a adolescência. É conhecido
os rituais tribais, em que o adolescente se submete a práticas em que deverá
demonstrar força, coragem e inteligência.
Na sociedade
contemporânea, os rituais de passagem dos adolescentes acompanha o avanço
tecnológico e as influências do sistema, como as provas de vestibular para
ingresso na universidade, tirar a carteira de motorista, o título eleitoral, os
bailes de formatura, os bailes de debutantes, as viagens com os grupos de
amigos sem a presença dos pais e outros.
Mas a
adolescência não há só flores. Por ser um momento de transição em que o jovem está
em construção da sua identidade, alguns transtornos também podem aflorar. Novos
sintomas têm surgido, principalmente para essa faixa etária, tais como as
distorções da imagem corporal, com todas as suas conseqüências, como anorexia,
bulimia, vigorexia, e outros, os transtornos de conduta que tanto preocupam a
sociedade, a prática sexual sem responsabilidade, gerando gravidez indesejada e
doenças sexualmente transmissíveis, o isolamento relacional ou prática de relacionamentos
apenas virtuais e outras.
Psicólogos, médicos,
educadores e outros profissionais têm buscado respostas à essas questões que se
impõe, através da interlocução com os vários saberes e o aprofundamento da
subjetividade dos sujeitos envolvidos. Inicialmente enfrentam desafios, como
abrir mão do saber constituído para a busca de algo novo.
O que se sabe
é que nos tempos atuais, houve a queda da função paterna e a desverticalização
da função social. De que se trata isso? Trata-se da diminuição da força da Lei
e da hierarquia. Nesse sentido, pais, educadores, policiais e juízes,
anteriormente representantes da lei pouco contribuem para a organização social.
O jovem, principalmente não acata mais a autoridade que essas figuras impunham
e, perdidos, vagueiam pelos rumos da transgressão e do desafio.
Não se sabe
hoje, o que fazer para devolver às gerações o sentido do respeito, do cuidado,
dos limites. Não temos destituição da cultura, mas muita coisa mudou. O
conceito de adolescência tem que ser visto dentro dos vários contextos –
social, político, econômico, etc.
No campo
psíquico, percebemos uma invasão de questões psíquicas influenciando
diretamente o campo físico, gerando fenômenos clínicos com desafios à área de
saúde. Não se pode mais tratar apenas o físico, porque a saúde mental está na
ordem do dia e o adolescente, principalmente, está totalmente imbricado na sua
subjetividade. Há de se considerar que muitas vezes um sintoma físico se
apresenta como um apaziguamento do sujeito, como uma solução para uma
perturbação psíquica muito mais profunda do que aparenta.
Assim, a obesidade,
muito mais do que demonstrar que o jovem come “bobagens” excessivamente, pode
estar dizendo da dificuldade de socializar; a anorexia, muito mais do que dizer
do perfeccionismo com a aparência pode estar dizendo da carência afetiva e da necessidade
de ser aceita; o abuso de drogas, muito mais do que um vício pode estar dizendo
de uma inibição sexual, intelectual. Há hoje a exigência da sexualidade exacerbada
e os exageros e imposições podem gerar profundos sintomas.
Por outro
lado, exigências como “passar no vestibular, ser pós graduado, estudar em
escolas de elite, ter bens materiais sofisticados e outros, levam o sujeito a
sucumbir diante de impossibilidades. Nem sempre é possível cumprir os ditames
sociais e isso gera sentimentos de impotência a depressão. Por outro lado, a
frieza para a busca dessas condições, bem como pensamentos e discursos paranóicos
e megalomaníacos também podem ser sintomas dessas imposições.
É importante
estudar a adolescência, porque ela desvela questões. São os adolescentes que podem nos responder a
que vieram. A abordagem do jovem hoje tem que ser diferenciada em relação ao que se abordava há
30 anos atrás. Não há mais como impor um saber constituído, mas buscar neles as
respostas para as demandas que se apresentam. É esse sujeito que pode nos
responder e as suas respostas eu devo considerar. Apenas escutando-os,
considerando-os podemos fazer emergir o novo, e assim, quem sabe protegê-los e
proteger-nos.
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