TRABALHO INTELECTUAL: proteção e resiliência para o adolescente.
Sabemos que a adolescência é uma fase
de transição na vida da pessoa. É uma fase de intensas mudanças tanto do ponto
de vista biológico, quanto psicológico e social. O adolescente sai de um estado
de total dependência para um estado de relativa autonomia. Utiliza do seu
desenvolvimento cognitivo e emocional para ampliar seus contatos sociais,
saindo de um estado de inatividade para um momento de produtividade. Todos
esses aspectos vão contribuir para o amadurecimento psicológico do jovem,
dirigindo-o para a fase adulta.
É claro que ele ainda depende em muito
da orientação dos adultos e é por isso que o adulto deve estimulá-lo a
exercitar essas faculdades, bem como facilitar o seu desenvolvimento.
Por ser um momento em que o jovem quer
explorar uma variedade de situações das quais ainda não experimentou ele muitas
vezes pode se colocar em situações de risco. Se o adolescente não é resiliente,
ele terá maiores dificuldades em superar e sobreviver às exigências do
cotidiano, às pressões e restrições sociais, às crises familiares ou a um
entorno negativo, ficando assim, susceptível a possíveis vulnerabilidades.
Nesse sentido, entender quais os
fatores e recursos favoreceria a superação dos problemas desta população e
quais intervenções preventivas estão disponíveis na escola e na comunidade
passa a ser um objeto de investigação. O que se sabe, de antemão, é que a
educação e o trabalho se constituem como algumas das formas de intervenções
preventivas que poderão ser consideradas como redutores de possíveis disfunções
ou desordens na vida do adolescente.
A intenção é que o trabalho
intelectual promova a resiliência.
Resiliência é um termo utilizado pelas ciências humanas e sociais que significa
a capacidade de uma pessoa resistir a situações traumáticas ou em extremas
adversidades, mantendo a sua integridade, mesmo nos momentos mais críticos. Por que
nós pensamos que o trabalho, especialmente o trabalho intelectual favoreceria
essa resiliência nos jovens?
Freud no seu texto, o Mal Estar da
Civilização, postula que o que de fato distingue os homens dos animais é a sua
capacidade em obter prazer nas diversas circunstâncias da sua vida. Enquanto o
animal visa apenas a satisfação dos instintos, o homem, mesmo no trabalho busca
a obtenção desse prazer.
Autores como Dejours, defendem o
trabalho como fonte de saúde para o desenvolvimento psíquico do sujeito.
Dejours afirma que “ [...] quando as pessoas não fazem nada e podem manter-se
num estado de inatividade total, é sinal de que estão muito doentes”. Esse
autor leva em consideração o pensamento freudiano que enfatiza que o trabalho
serve como um mecanismo de deslocamento das pulsões sexuais para atividades
valorizadas socialmente, o que caracterizaria a sublimação dos instintos.
O trabalho como exercício
especificamente humano pressupõe que quem o exerce ultrapassou as etapas
necessárias à sua consolidação psíquica e pode oferecer a sua força de
trabalho.
Para o adolescente, sua maturidade
passa pela necessidade de produzir, realizar algo e criar alternativas e
soluções às problemáticas que se apresentam no mundo, unindo suas idealizações à realidade.
Mas o
trabalho, ao longo dos anos e nas diversas sociedades não tem sido somente
fonte de prazer. Se assim fosse, não teríamos legislações que estipulam
direitos aos trabalhadores, e especialmente às crianças e adolescentes,
protegendo-os de trabalhos forçados ou insalubres.
O mercado atual nos impõe a
desmaterialização do trabalho fazendo da informação e do conhecimento
requisitos fundamentais para a sobrevivência. Isso estabelecerá uma sociedade
com um grande contingente de adolescentes com condições quase nulas de competir
no mundo do trabalho, pois o mercado valoriza o acesso a educação, à tecnologia
de ponta, a capacidade de trabalho em grupo, liderança, visão global,
velocidade nas decisões, criatividade, domínio de línguas estrangeiras,
etc. Então, a inteligência não mais será
medida pelo grau de raciocínio abstrato, numérico ou lógico. Ela será medida
pela capacidade que o sujeito tem de solucionar problemas. As soluções virão
pelas associações de idéias mediadas pelo fluxo contínuo de informações e de
conhecimento e pela rede de contatos que
o sujeito estabelece. O trabalho intelectual será visto como uma ferramenta
para a solução de problemas.
Então, a escola pode utilizar de um
recurso que a psicanálise chamou de sublimação.
Freud diz que a busca incessante de
prazer precisa ser contido. A energia libidinal deverá ser contida ou desviada,
porque a energia solta, livre pode causar destruição. Assim, canalizar a
energia para atividades socialmente aceitas é o que define a sublimação.
Sublimação é a capacidade que o sujeito tem de produzir algo, colocando essa
energia a serviço da sociedade.
A sublimação é extremamente necessária
à sociedade e o jovem tem muita energia para sublimar. As fantasias são
intensas no pensamento do adolescente e é nessa época que surgem os escritores,
os poetas e os artistas que revolucionam a cultura. É importante que a escola
utilize dessa capacidade de sublimação do jovem orientando-o e canalizando sua
energia para o trabalho intelectual.
Como isso é possível?
A criança apreende o mundo através do
brincar. O adolescente, por outro lado, ensaia sua inserção social através das
atividades em grupo e da sua aceitação como um ser capaz de relacionar e
produzir. Atualmente o adolescente quer apresentar como atividade produtiva o
trabalho intelectual e ele quer ser valorizado por isso. É importante estimular
o adolescente para que participe das atividades
comunitárias bem como a sua atitude social reivindicatória para que ele possa manifestar oposição às
condições que lhe são impostas. É importante que ele possa projetar suas
raivas, as suas frustrações e as suas condutas destrutivas para atividades
sublimatórias. Escrever, compor músicas, elaborar coreografias, histórias e
peças teatrais seriam formas de sublimar essas pulsões, pois quando eles se
organizam, suas reivindicações podem revolucionar o sistema.
Nós precisamos entender que quando o
adolescente está estudando ou desenvolvendo atividades acadêmicas está
trabalhando no sentido literal do termo. Vincular a produção acadêmica à
produção laborativa é essencial para que nessa fase da vida, o adolescente
possa sentir-se contextualizado no sistema produtivo, o que elevará sua
auto-estima diminuindo sua vulnerabilidade.
Termos como: “Ele só estuda e não
trabalha!” deveria ser substituído por “Ele estuda!”, dando ênfase ao trabalho
que está explícito nessa atividade acadêmica.
Neste contexto o trabalho intelectual
promoverá a saúde afastando o tão temido desgaste e adoecimento. Além disso, o
trabalho intelectual é uma das formas de
participação social ao mesmo tempo que engendra novas articulações de poder.
O grande papel da Escola será
promover o protagonismo juvenil. Ela não deixará de contribuir com as
informações teóricas, com o conhecimento técnico e social, mas acima de tudo o
professor deverá estimular o trabalho em
grupo e propor situações problemas. O trabalho intelectual deverá envolver a
participação ativa, construtiva e solidária, com vistas a resolver os problemas
de moradia, transporte e educação, saneamento básico e emprego. É utilizar as idéias dos adolescentes,
estimulando a iniciativa e a produção. Buscar o sentido da liberdade e o
compromisso, porque não há liberdade sem respeito pelo outro, disciplina, metas
e direitos.
É delegar aos jovens para resolverem
os problemas que nós, "velhos" não resolvemos e estamos deixando ai
para eles.
Aos profissionais envolvidos com os adolescentes,
cabe estimulá-los à procura, à profissionalização, à adaptação para o trabalho
em todas as classes sociais e, respeitando e conhecendo a individualidade de
cada jovem, orientá-los para a construção de um mundo mais solidário para hoje
e para as futuras gerações.
Só recentemente a adolescência tem
sido reconhecida como objeto de atenção e incluída como parte integrante dos
programas sociais. Com o crescente aumento da expectativa e da qualidade de
vida das pessoas, bem como com a queda da mortalidade geral, aumenta o
contingente numérico de adolescentes.
Este aumento exerce uma influência considerável no mercado capitalista e
de consumo.
Há de se considerar que neste século,
as possibilidades de participação social, e especialmente, de acesso a emprego
estarão cada vez mais dependentes do domínio do conhecimento científico e
tecnológico disponível. A prática da solidariedade e da cooperação, o exercício
da cidadania e a garantia de ampliação dos direitos básicos exigem mudanças
profundas de atitudes e valores, para que a juventude supere os obstáculos ao
seu desenvolvimento pleno. O trabalho intelectual é uma das formas de
participação social e engendra novas articulações nas relações de poder. Espera-se que pelo trabalho intelectual o
jovem possa se integrar nos processos coletivos, aumentar sua auto-estima e
tornar-se sujeito de sua própria história.
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