quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Pais que dão "selinhos" nos filhos 2


O selinho é um toque entre lábios fechados e é uma das formas de demonstrar carinho. Segundo Ashley Montagu, cada cultura e em cada época elegem formas de tocar, como expressão de afeto.


O selinho, no Brasil, na última década tem sido utilizado nos cumprimentos e manifestação de carinho entre pessoas que possuem um nível maior de intimidade. Muitos pais utilizam desse toque com os filhos. Se essa prática se dá de forma espontânea, numa situação que caberia essa expressão sem exageros e sem causar constrangimentos aos que estão ao redor, não há problema em ser utilizado. É necessário, porém, que os pais eduquem os filhos ensinando-lhes que determinados gestos são adequados entre algumas pessoas e em alguns ambientes e não em outros. Por exemplo, assim como ensina-se como se deve comportar num restaurante, num teatro e numa festa, ensinar quais os toques são pertinentes entre pessoas também faz parte do aprendizado da criança.

Philippe Ariès, no seu livro História Social da Criança e da Família afirma que no século XVI as brincadeiras e os gestos com que os adultos tratavam as crianças beiravam ao despudor e à indecência, se considerados segundo o olhar da moral contemporânea.

Também cada família tem sua forma peculiar de expressar seus afetos, que se diferenciam entre o pai e a mãe, entre os filhos, entre irmãos e outros parentes. Os adultos, comumente sentem-se mais à vontade para tocar as crianças, beijando-as, abraçando-as, colocando-as no colo. Mas à medida que a criança vai crescendo, sendo pais ou não esse adulto vai diminuindo o toque ao mesmo tempo em que o pré-adolescente e adolescente também vai ficando menos expansivo nas demonstrações físicas de carinho. Neste caso, à medida que a criança vai crescendo é importante os pais estabelecerem para si alguns limites bem como respeitarem os limites estabelecidos pelos próprios filhos.

Há de se pensar, também, se aquele carinho é um estímulo que agrada mais a quem o dá do que a quem o recebe. Não é incomum um adulto, pai ou mãe, se beneficiar do carinho da criança porque não o recebe de outrem.

Na nossa sociedade, é mais comum o carinho ser expresso mais pela mulher do que pelo homem e dessa forma, uma mãe que acaricia seu filho, beija-lhe dando um selinho é mais aprovado socialmente, do que um homem que faça o mesmo. Isso porque a nossa sociedade dita regras e comportamentos estabelecendo que a expressão de carinho é mais coibida se manifesta pelos homens. Ainda assim é bom lembrar que alguns gestos ou toques são interpretados como estímulos sexuais e que não são bem aceitos socialmente.

Freud afirma que os toques, gestos e palavras são, muitas vezes, carregados de estímulos sexuais e que estão presentes desde tenra infância. A sexualidade é constituída de fantasias calcadas nestes toques e manifestações afetivas e que, segundo este psicanalista, são responsáveis pela organização psíquica do sujeito. Dessa forma, é preciso que os pais reflitam sobre os gestos e expressões de carinho que dirigem aos filhos, pois a criança poderá interpretá-los e distorcê-los, comprometendo o seu funcionamento psíquico e social. 

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