O selinho é um toque
entre lábios fechados e é uma das formas de demonstrar carinho. Segundo Ashley
Montagu, cada cultura e em cada época elegem formas de tocar, como expressão de
afeto.
O selinho, no Brasil,
na última década tem sido utilizado nos cumprimentos e manifestação de carinho
entre pessoas que possuem um nível maior de intimidade. Muitos pais utilizam
desse toque com os filhos. Se essa prática se dá de forma espontânea, numa situação
que caberia essa expressão sem exageros e sem causar constrangimentos aos que
estão ao redor, não há problema em ser utilizado. É necessário, porém, que os
pais eduquem os filhos ensinando-lhes que determinados gestos são adequados
entre algumas pessoas e em alguns ambientes e não em outros. Por exemplo, assim
como ensina-se como se deve comportar num restaurante, num teatro e numa festa,
ensinar quais os toques são pertinentes entre pessoas também faz parte do
aprendizado da criança.
Philippe Ariès, no seu
livro História Social da Criança e da Família afirma que no século XVI as
brincadeiras e os gestos com que os adultos tratavam as crianças beiravam ao
despudor e à indecência, se considerados segundo o olhar da moral
contemporânea.
Também cada família tem
sua forma peculiar de expressar seus afetos, que se diferenciam entre o pai e a
mãe, entre os filhos, entre irmãos e outros parentes. Os adultos, comumente
sentem-se mais à vontade para tocar as crianças, beijando-as, abraçando-as,
colocando-as no colo. Mas à medida que a criança vai crescendo, sendo pais ou
não esse adulto vai diminuindo o toque ao mesmo tempo em que o pré-adolescente
e adolescente também vai ficando menos expansivo nas demonstrações físicas de
carinho. Neste caso, à medida que a criança vai crescendo é importante os pais
estabelecerem para si alguns limites bem como respeitarem os limites
estabelecidos pelos próprios filhos.
Há de se pensar,
também, se aquele carinho é um estímulo que agrada mais a quem o dá do que a
quem o recebe. Não é incomum um adulto, pai ou mãe, se beneficiar do carinho da
criança porque não o recebe de outrem.
Na nossa sociedade, é
mais comum o carinho ser expresso mais pela mulher do que pelo homem e dessa
forma, uma mãe que acaricia seu filho, beija-lhe dando um selinho é mais aprovado
socialmente, do que um homem que faça o mesmo. Isso porque a nossa sociedade
dita regras e comportamentos estabelecendo que a expressão de carinho é mais
coibida se manifesta pelos homens. Ainda assim é bom lembrar que alguns gestos
ou toques são interpretados como estímulos sexuais e que não são bem aceitos
socialmente.
Freud afirma que os
toques, gestos e palavras são, muitas vezes, carregados de estímulos sexuais e
que estão presentes desde tenra infância. A sexualidade é constituída de
fantasias calcadas nestes toques e manifestações afetivas e que, segundo este
psicanalista, são responsáveis pela organização psíquica do sujeito. Dessa
forma, é preciso que os pais reflitam sobre os gestos e expressões de carinho
que dirigem aos filhos, pois a criança poderá interpretá-los e distorcê-los,
comprometendo o seu funcionamento psíquico e social.
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