sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012



Meio  e normas do homem no trabalho

Discorrerei sobre um texto que li na revista Pro-posições, 12 (2-3), 2001, p.109-121, que traz um artigo de Canguilhem, referente a uma análise que ele faz às posições teóricas de Friedmann.

Georges Canguilhem (1904-1995), foi um filósofo e médico francês preocupado com a saúde e as patologias do trabalhador. Foi orientador de Michel Foucault e compartilhava com ele muitas das suas idéias.

Georges Friedmann Philippe (1902-1977), francês, se tornou um cientista político cujos trabalhos enfocavam o marxismo e a relação do homem e o trabalho.  Valorizava o humano em detrimento da máquina.

Neste texto, Canguilhem analisa o trabalho sob o governo taylorista e aponta que há um desencontro entre os avanços tecnológicos e a adaptação do humano a essa tecnologia. É de Friedmann e de outros teóricos, que Canguilhem subtrai a filosofia humanista que imprime neste artigo.


Sabe-se que a tecnologia visa à racionalização do tempo e do trabalho, com vistas ao aumento da produtividade, conseqüentemente, o aumento do capital.

A racionalidade técnica dita as normas que acredita serem adequadas ao emprego do operário, sem considerar o que esse operário tem a dizer sobre essas normas. Há uma desconsideração do humano, já que este é visto como apenas mais uma engrenagem a fazer girar o capital.  Friedmann aponta que esta é uma ilusão cientificista, que pretende responder através do conhecimento científico questões sobre a racionalização. Por outro lado, aponta a ilusão tecnicista, que acredita no progresso social pela racionalização no emprego das máquinas e da mão de obra.

Ora, o homem foge à lógica. O homem se subjuga à razão e as normas para engatar-se corretamente às máquinas para a perfeita produção. O operário resiste e escapa a esse controle, produzindo descontentamento, angústia e sintomas.

Canguilhem aponta que Friedmann procura mostrar que todo o movimento de adequar o homem ao meio está fadado ao insucesso, haja vistas que o homem é dinâmico, participativo e ativo. Mesmo que se empreguem as técnicas psicológicas para a seleção, o treinamento e a adaptação, buscando colocar o “homem certo no lugar certo”, ainda assim a técnica incorrerá na ilusão do controle sobre o homem, porque é a subjetividade que direciona as suas escolhas.

Canguilhem enfatiza:

“São os operários que  fazem para si suas normas: “O que escapou ao psicólogos da enquete de Hawthorne é que os operários não tomariam como autenticamente normais senão as condições de trabalho que eles mesmos teriam instituído em referencia a valores próprios e não emprestados, é que o meio de trabalho que eles tomariam como normal seria aquele que eles teriam feito eles mesmos, a eles mesmos, para eles mesmos. Todo homem quer ser sujeito de suas normas. A ilusão capitalista está em acreditar que as normas capitalistas são definitivas e universais, sem pensar que a normatividade não pode ser um privilégio.”

Canguilhem valoriza a vida acima das normas e mostra que as reações de saúde compõem-se de defesa biológica e social.  O trabalho entra como um mediador de conflitos e as normas deveriam servir  enquanto filosofia e não para fazer adoecer o trabalhador.

Referência bibliográfica:
CANGUILHEM, G. Meio e normas do homem no trabalho. Pro-posições, 12 (2-3), 2001, p.109-121.


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