Meio e normas do homem no trabalho
Discorrerei sobre um texto que li na
revista Pro-posições, 12 (2-3), 2001, p.109-121, que traz um artigo de
Canguilhem, referente a uma análise que ele faz às posições teóricas de
Friedmann.
Georges Canguilhem (1904-1995), foi um filósofo e médico francês preocupado
com a saúde e as patologias do trabalhador. Foi orientador de Michel Foucault e
compartilhava com ele muitas das suas idéias.
Georges Friedmann
Philippe (1902-1977), francês, se tornou um cientista político cujos trabalhos
enfocavam o marxismo e a relação do homem e o trabalho. Valorizava o humano em detrimento da máquina.
Neste texto, Canguilhem analisa o trabalho sob o governo
taylorista e aponta que há um desencontro entre os avanços tecnológicos e a adaptação
do humano a essa tecnologia. É de Friedmann e de outros teóricos, que
Canguilhem subtrai a filosofia humanista que imprime neste artigo.
Sabe-se que a tecnologia visa à racionalização do tempo e do
trabalho, com vistas ao aumento da produtividade, conseqüentemente, o aumento
do capital.
A racionalidade técnica dita as normas que acredita serem
adequadas ao emprego do operário, sem considerar o que esse operário tem a
dizer sobre essas normas. Há uma desconsideração do humano, já que este é visto
como apenas mais uma engrenagem a fazer girar o capital. Friedmann aponta que esta é uma ilusão
cientificista, que pretende responder através do conhecimento científico
questões sobre a racionalização. Por outro lado, aponta a ilusão tecnicista,
que acredita no progresso social pela racionalização no emprego das máquinas e
da mão de obra.
Ora, o homem foge à lógica. O homem se subjuga à razão e as
normas para engatar-se corretamente às máquinas para a perfeita produção. O
operário resiste e escapa a esse controle, produzindo descontentamento,
angústia e sintomas.
Canguilhem aponta que Friedmann procura mostrar que todo o
movimento de adequar o homem ao meio está fadado ao insucesso, haja vistas que
o homem é dinâmico, participativo e ativo. Mesmo que se empreguem as técnicas
psicológicas para a seleção, o treinamento e a adaptação, buscando colocar o
“homem certo no lugar certo”, ainda assim a técnica incorrerá na ilusão do
controle sobre o homem, porque é a subjetividade que direciona as suas
escolhas.
Canguilhem enfatiza:
“São os operários que fazem para si suas normas: “O que escapou ao
psicólogos da enquete de Hawthorne é que os operários não tomariam como
autenticamente normais senão as condições de trabalho que eles mesmos teriam
instituído em referencia a valores próprios e não emprestados, é que o meio de
trabalho que eles tomariam como normal seria aquele que eles teriam feito eles
mesmos, a eles mesmos, para eles mesmos. Todo homem quer ser sujeito de suas
normas. A ilusão capitalista está em acreditar que as normas capitalistas são
definitivas e universais, sem pensar que a normatividade não pode ser um
privilégio.”
Canguilhem valoriza a vida acima das normas e mostra que as
reações de saúde compõem-se de defesa biológica e social. O trabalho entra como um mediador de
conflitos e as normas deveriam servir
enquanto filosofia e não para fazer adoecer o trabalhador.
Referência bibliográfica:
CANGUILHEM, G. Meio e normas do homem no trabalho. Pro-posições, 12 (2-3), 2001, p.109-121.
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