quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012


Vivência de perdas: luto e melancolia -  neurose e depressão

O artigo Luto de Melancolia, escrito por Freud em 1915, faz parte dos textos metapsicológicos, época em que Freud reflete sobre o funcionamento psíquico no que concerne a pulsão de morte, o massacre que o superego exerce sobre a outra instância psíquica - o ego, e sobre o masoquismo.


Neste artigo, Freud discorre sobre as diferentes formas de manifestações que o sujeito apresenta diante de situações de perdas. Freud percebe que a diferença que se observa nessas manifestações às perdas deve-se ao funcionamento psíquico do sujeito, que pode estar estruturado segundo uma organização psíquica que envolve os objetos libidinais.

Assim, na organização psíquica da neurose de transferência, o sujeito investe a energia libidinal em objetos do mundo externo. Seus afetos ligam-se a pessoas, ideais, aquisições, etc, mas quando, por algum motivo há uma ruptura dessa ligação por perda do objeto, o neurótico sofre inicialmente, porque desinveste a energia dirigida àquele objeto, de forma que, temporariamente essa energia fique desligada, suspensa, e a reinveste num momento posterior em um objeto substituto. Durante o período que ocorre esse desinvestimento de energia o sujeito recolhe-se em luto.

Porém, existem sujeitos em que as manifestações desse luto são tão profundas que se tornam patológicas. É o caso da organização psíquica da neurose narcísica, atualmente denominada estrutura psicótica. O sujeito, então, investe a energia libidinal em objeto narcísico, ou seja, em um objeto fantasístico, que muitas vezes é mais fruto da imaginação e das fantasias daquele sujeito do que da realidade. Pode ser um amor platônico, um relacionamento de fato, um ideal, um status, etc, mas que quando ocorre uma frustração que remeta à perda desse objeto, o sujeito entra em melancolia, com sintomas de depressão profunda, com idéias de autorecriminação e autodesvalorização tão intensas que podem, inclusive, levar o sujeito ao auto-extermínio.

É que a energia libidinal que se desligou do objeto foi recolhida ao Ego e não se vinculou novamente a outro objeto. Os sentimentos de raiva, angústia e culpa pela perda do objeto são dirigidas a si mesmo, característica da melancolia, e nada que se faça, consegue tirar o sujeito deste estado.

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