RECURSOS
AUDIOVISUAIS NAS APRESENTAÇÕES
Revista Vencer Jan/2002 – p.54 a 59
Por Reinaldo Polito
-
Gostou da apresentação?
-
Gostei, foi muito legal.
-
E sobre o que ele falou?
- Rapaz, sabe, o que gostei? Foram os recursos visuais - a cada tópico o
palestrante comandava uma espécie de raio que crivavam o ambiente, acompanhados
de sons que balançavam a sala – muito legal.
- certo – mas sobre exatamente o que ele falou?
- Bem, na verdade não me liguei muito na mensagem, mas achei bastante
interessante.
Nao pense que esse diálogo é pura fantasia, pois multiplicam-se os exemplos
de apresentações que valorizam tanto o visual, que acabam ofuscando a
verdadeira razão de ser do evento – a mensagem.
Os recursos audiovisuais são importantes para que os ouvintes compreendam
melhor a mensagem e guardem as informações por muito mais tempo.
Quando utilizados de forma apropriada, facilitam a boa ordenação da
mensagem e permitem ao orador que apresente as informações em sequencia
coerente e destaque os tópicos mais relevantes da exposição.
Alguns estudos mostram que, se
transmitirmos a mensagem apenas verbalmente, depois de 3 dias os ouvintes irão
se lembrar apenas de 10% do que falamos. Entretanto, se essa mesma mensagem for
apoiada por um recurso visual, no final do mesmo tempo, os ouvintes se
recordarão de 65% do que comunicamos.
Quando lançar mão de um recurso
visual:
O primeiro passo para saber se um visual deve ou não ser utilizado é botar
a cabeça para funcionar e refletir sobre a seguinte questão: se eu incluir este
visual, ele irá reforçar ou complementar a informação? Se for útil, meta o
carimbo de aprovado. Se não ajudar, nao vacile: lixo!
Você já percebeu que nem sempre um visual deve ser utilizado. Ao contrário,
em certas circunstâncias é mais conveniente dispensá-lo.
Pela minha experiencia, se uma pessoa planeja fazer uma apresentação com o
apoio de 60 telas (ou transparências, ou slides), de maneira geral poderia
obter melhores resultados se reduzisse esse número para 20 ou 30. Se a intenção
inicial era de usar 20, muito provavelmente a apresentação ganharia em
eficiência se o número baixasse para 8 ou 10.
Quando apoiamos com visuais todos os itens da exposição, se, por um lado,
temos a segurança de que não esquecemos de nenhum dado de ponta a ponta, por outro
podemos nos escravizar ao roteiro e perdemos um pouco a liberdade de ação e não
interagirmos de maneira conveniente com os ouvintes.
Portanto, é preferível trabalhar com um número menor de visuais e aproveitar mais as informações que surgem no ambiente, durante o momento da exposição, do que cobrir toda a apresentação com visuais e deixar de incluir a emoção produzida pelo contato com os ouvintes.
Tome muito cuidado também com a parafenália - lembre-se de que, quanto
maior o número de máquinas para manusear e maior o número de botões para
apertar, maior o risco de cometer erros e de se perder. Seja prudente e só use
o que puder dominar e controlar com segurança.
Alguns oradores usam tantos equipamentos que mais parecem seres
extraterrestres - headphone, laserpoint,
mouse para controlar a distância (das luzes e do computador), galocha,
escafandro, repelente de morcego. Isso só porque têm duas mãos e uma cabeça,
senão a lista com certeza seria ampliada. Você usará com mais eficiência um
visual se lembrar que ele é útil quando ajuda a reforçar a mensagem, auxilia a
ressaltar as informações mais relevantes e possibilita esclarecer e
complementar as etapas mais importantes da exposição. Assim, um recurso visual
é aquele que serve para apoiar a apresentação, e não suplantar em importância o
orador.
Bons motivos para usar um visual
Fazer comparações numéricas
De forma geral, os ouvintes
compreendem melhor os comparativos numéricos quando apresentados por um visual,
pois, além de visualizarem a informação, têm mais tempo para refletir sobre
ela.
Apresentar dados estatísticos
Os dados estatísticos quase
sempre exigem análise e reflexão, por isso é recomendável que sejam
apresentados por meio de visuais.
Destacar informações essenciais
É muito provável que uma
apresentação seja realizada por causa de determinadas informações que são
essenciais dentro da mensagem. Por esse motivo, para que os ouvintes percebam melhor a importância desse dado e o
guardem por tempo mais prolongado, pode-se recorrer ao apoio do visual.
Expor dados técnicos ou científicos
As informações técnicas ou
científicas, na maioria das vezes, são mais complexas e exigem grande esforço
de concentração dos ouvintes. Com o uso de visuais adequados, toma-se mais
fácil explicar e esclarecer esse tipo de mensagem.
Ampliar a retenção de informações dos ouvintes durante a fala
Os visuais atuam como recurso
extraordinário quando os ouvintes precisam se lembrar de informações
transmitidas no inicio da exposição para compreenderem mensagens que serão comunicadas
mais para o final.
Possibilitar a visualização de objetos
Nem sempre épossível levar
objetos para que os ouvintes possam observar -alguns porque são
demasiadamente grandes, e outros,
ao contrário, porque são muito pequenos. Nesses casos, os visuais resolvem a
questão com facilidade.
Dez regras básicas para produzir
um bom visual
Não basta apenas produzir um
visual. É importante que ele seja bem feito para que possa servir de apoio
eficiente para a apresentação. Observe algumas recomendações que poderão
ajudá-lo:
1. Coloque um título
O título do visual auxilia o
ouvinte a identificar imediatamente as informações que irá observar. Um bom
título deve ser simples, de poucas palavras e muito esclarecedor. Normalmente o
título deve ser colocado na parte superior do visual.
2. Faça legendas
Colunas coloridas e linhas
horizontais serão apenas colunas coloridas e linhas horizontais se não forem
identificadas por legendas. Facilite a visualização das legendas arredondando
os números. Prefira, por exemplo, colocar que a população é de 15 milhões de
habitantes, em vez de escrever 15.001.600, a não ser que esses 1.600 habitantes
sejam muito importantes para a informação - o que é pouco provável.
3. Escreva com letras legíveis
Alguns visuais são produzidos com
letras tão pequenas que só quem está nas primeiras fileiras consegue ler. Os
demais ficam sem entender do que se trata e, por isso, podem perder o interesse
pela exposição. Escolha letras grandes, com tamanho suficiente para serem lidas
por todas as pessoas da sala.
4. Limite a quantidade de tamanho das letras
Você conseguirá melhor
uniformidade se usar o máximo de três tamanhos de letra por visual.
Com um número reduzido de
tamanho, as letras poderão ser lidas mais rapidamente.
5. Componha frases curtas
Cada frase deve representar em
essência uma idéia completa, com o menor número de palavras possível. De
maneira geral, seis ou sete palavras são suficientes.
6. Use poucas linhas
Como idéia de grandeza, se o
visual for elaborado no sentido horizontal, procure usar seis ou sete linhas.
Se for no sentido vertical, poderá chegar a oito ou nove linhas.
7. Use cores
Use, mas não abuse. Com a
facilidade proporcionada pelos atuais programas de computadores, algumas
pessoas fazem de seus visuais verdadeiros mostruários de cores e pecam pelo
excesso. Use cores contrastantes para destacar bem as informações e, a não ser
que seja muito necessário usar um número maior, estabeleça um limite de três a
quatro cores por visual.
8. Use apenas uma idéia em
cada visual
Identifique a idéia central da mensagem e restrinja-se
a ela no visual. Escreva com letras legíveis
9. Utilize apenas uma ilustração em cada visual
A ilustração pode ajudar a tomar clara a mensagem,
facilitando a compreensão dos ouvintes. Uma única ilustração é suficiente. Se
precisar, complemente o visual com setas e flechas que orientem o sentido em
que a informação deve ser lida - horizontal, vertical, de cima para baixo, de
baixo para cima, etc.
10. Retire tudo o que prejudicar a compreensão da mensagem
Retire todas as informações
desnecessárias, como números, gráficos, legendas que possam distrair a
concentração ou dificultar o entendimento do ouvinte. Só deixe no visual os
dados que facilitem a compreensão da mensagem.
11. Tipos mais importantes de visuais
Decida-se pelo tipo mais
apropriado de visual a partir do objetivo da informação que deseja transmitir.
Com o visual mais adequado, haverá perfeita harmonia no conjunto da
apresentação.
Tabelas - É um visual recomendado para situações que necessitem
relacionar dados a serem comparados, divididos em diversas características,
épocas ou regiões.
Gráfico de barras - Os gráficos de barras devem ser
usados para relacionar duas ou mais variáveis, sendo uma delas, de maneira
geral, o tempo, e a outra, a representação da quantidade.
Gráfico
setorial (pizza ou torta) - Os
gráficos setoriais são úteis para identificar e comparar as diversas partes de
um todo. Procure limitar a seis o número de partes. Para ressaltar uma
informação importante, destaque levemente a parte para fora do círculo.
Gráfico de linhas - Os gráficos de linhas são
recomendados para mostrar as variações ou tendências de um dado dentro do
tempo. Além desses tipos, são comuns também os visuais produzidos para mostrar
mapas, fluxogramas, desenhos e relação de itens.
Recursos visuais mais Importantes
Embora ainda possamos utilizar
retroprojetores, projetores de slides e projetores de originais, a verdade é
que esses equipamentos, com o uso generalizado dos computadores, já fazem parte
do passado. Entretanto, eles ainda estão por aí servindo de apoio para muitas
apresentações e sempre poderão ser úteis. Mas tome cuidado, pois, dependendo da
sua atividade, se fizer uso, como recursos visuais, de equipamentos
ultrapassados, poderá prejudicar sua imagem. Os ouvintes esperam que um
profissional de ponta use recursos atualizados e, se essa expectativa não for
correspondida, poderão ficar frustrados e não dar ao orador o valor que talvez
mereça.
Conheço também oradores que não
dão a mínima importância para esses conceitos e se apresentam com desenvoltura
com os velhos retroprojetores e fazem grande sucesso.
Ocorre que esses profissionais
são palestrantes excepcionais e de qualquer maneira encantariam as platéias.
São exceções.
O meu amigo Flavio Gikovate, por
exemplo, é um dos maiores conferencistas que já vi em ação e, diante de uma
platéia de 2.000 pessoas, com toda naturalidade, usou um minúsculo flip chart.
Com o charme que sempre o caracterizou, brincou com a platéia dizendo que sabia
que ninguém enxergaria nada, mas ele o utilizava só com o intuito de fazer
alguns rabiscos para orientação própria.
Estou fazendo essas considerações
para mostrar que, em comunicação, também com os recursos visuais, nenhuma regra
é tão definitiva que não possa ser desconsiderada de vez em quando - tudo
dependerá da circunstância e do estilo de quem se apresenta. Falando em flip
chart, ele, o quadro de giz e o quadro branco se constituem em recursos visuais
excelentes para apresentações diante de pequenos grupos. São mais utilizados em
pequenas reuniões e salas de treinamento.
Algumas orientações para usar bem o quadro branco e o flip chart
No dia-a-dia, de maneira geral,
participamos mais de reuniões com pequenos grupos e naturalmente recorremos aos
recursos visuais mais simples. Portanto, saiba como utilizá-los bem.
Procure não falar enquanto
estiver escrevendo. Fale antes e escreva depois, ou escreva antes e fale
depois. É lógico que pronunciar algumas escrevendo, mas faça olhando para os
ouvintes.
você não está proibido de
palavras enquanto estiver os comentários mais longos
Evite ficar escrevendo muito
tempo para não perder o ‘interesse da platéia. Alterne momentos para escrever e
para falar com os ouvintes.
Posicione-se, sempre que puder,
ao lado do quadro, quando estiver escrevendo, para que os ouvintes possam
acompanhar.
Escreva frases curtas que sirvam
para reforçar, esclarecer e ordenar a mensagem.
Planeje com antecedência o que
pretende escrever para aproveitar melhor o tamanho da letra e a quantidade de
informações.
Faça traços firmes e letras com
tamanho suficiente para que todos possam ler.
Se ficar muito nervoso e começar
a tremer, prefira escrever com letras de imprensa, que poderão ser feitas com
traços retos e permitem maior firmeza de mão.
Cuidado para não usar o pincel
próprio para escrever nas folhas do flip chart no quadro branco, pois a tinta
não poderá ser apagada.
Apresentação com
uso de computadores
Prepare sua apresentação em Power
Point. Se você não tiver muita habilidade para produzir telas nesse programa e
a sua apresentação for muito importante, peça ajuda de alguém mais competente,
ou pague a um profissional para produzi-lo. Há muita gente que domina esse
programa e cobra barato para preparar visuais com boa qualidade para
apresentações.
Siga as recomendações dadas até
aqui para escolher e produzir um bom visual.
Mande o arquivo com os visuais da
sua apresentação com antecedência para o responsável pelo evento, para se
certificar de que os sistemas são compatíveis e para que organizem sua exposição.
Nunca confie que os visuais que mandou estejam prontos e disponíveis para o
momento de sua apresentação. Leve sempre um disquete com uma cópia do que
mandou para se garantir.
Se puder interferir na disposição
do projetor e da tela, coloque-os em uma posição que facilite a visualização de
toda a platéia e não prejudique sua movimentação.
Sempre que possível, prepare uma
pessoa para acionar o computador e controlar a projeção. Ensaie a apresentação
com ela para que os dados projetados estejam bem sincronizados com sua fala.
Se não puder contar com a ajuda
de uma pessoa que esteja bem preparada, prefira cuidar pessoalmente da
projeção. Para facilitar seu trabalho, use um controle remoto, mas, se não for
possível, posicione o teclado em lugar de fácil acesso.
Posicione-se no local mais
iluminado que puder encontrar, para que todos possam enxergá-lo com facilidade.
Comece a explicar a informação que irá desenvolver, projete o visual, faça
alguns comentários complementares e retire a informação da tela (para ocultar
uma informação projetada, use a tecla com a letra C). Se, entretanto,
necessitar do visual por mais tempo para orientar o raciocínio ou reforçar a
mensagem, deixe-o projetado até que não precise mais dele.
É interessante, de vez em quando,
retirar o visual e acender as luzes para tornar a apresentação mais movimentada
e mudar o foco de atenção dos ouvintes.
Em determinados momentos, use a
“anteninha” para apontar a informação na própria tela e tomar a exposição mais
dinamica.
Se fizer uma apresentação depois
de outro palestrante, certifique-se de que ele não deixou “rastros” do que
utilizou, como cartazes, flip chart e outros detalhes que poderão desviar a
atenção dos ouvintes.
Não deixe que apaguem todas as
luzes. Só escureça a sala de maneira que o visual possa ser visto por todos. Se
ficar muito tempo sem precisar do visual, peça que acendam as luzes. Quanto
mais claro, melhor, pois menos pessoas ficarão tentadas a cochilar.
Vemos assim que os recursos
visuais se constituem em uma poderosa e eficiente arma para o sucesso de uma
apresentação, mas que, acima de tudo, precisam ser utilizados com critério para
que possam servir de apoio efetivo para a exposição, pois - não custa nada
repetir - em uma apresentação, a peça mais importante é o orador, e ele jamais
deverá ser ofuscado por um recurso visual, por mais desenvolvido que seja e por
mais caro que tenha custado.
Bibliografia para esse tema:
Polito, Reinaldo. Recursos Audiovisuais nas apresentações de de
sucesso. 4a edição 1999. São Paulo: Saraiva. Zelansny, Gene. Comunicação visual para executivos. Tradução por Anibal Mari 1999.
São Paulo: Futura.
Reinaldo Polito é mestre em
Ciências da Comunicação, professor de Expressão Verbal há 26 anos e autor de 11
obras, entre elas: Como falar corretamente
e sem inibições – 98a edição; Gestos
e postura para falar melhor- 23a edição; Assim é que se fala - 23a
edição e Um jeito bom de falar bem –
10a edição. Seus livros permaneceram 2 anos e meio nas listas dos mais
vendidos. www.polito.com.br
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