FILHOS
AUTORITÁRIOS DE PAIS OBEDIENTES
Parece que, atualmente, um dos
maiores problemas dos educadores, sejam eles pais ou professores, tem sido o de
entender como praticar uma educação democrática com seus filos ou alunos. Na teoria,
tudo parece ser muito simples. Mas ali, no dia-a-dia em que a educação
acontece, a coisa se complica, e os alunos se atrapalham. Por que? Porque na
verdade não é mesmo nada fácil educar levando em consideração a participação de
quem está sendo educado.
Todos conhecem o tipo de educação
autoritária, em que criança ou adolescente tem apenas uma coisa a fazer: cumprir
o que lhe é determinado. Nesse tipo de educação nada mais importa, a não ser o
que os pais querem que ele faça. Se é bom ou não para ele, se ele consegue ou não
atender o que é dele exigido, se o jeito de ele ser tem a ver com o que ele tem
que fazer e do modo como tem que fazer, nada disso é considerado. Vale apenas
uma coisa: a convicção e a certeza dos pais, ou professores, de que isso é bom
para ele. E ainda tem gente que sente saudades do tempo em que a educação
praticada era essa! Nesse tipo de educação o que importa é a obediência. Dos
filhos!
Lamentavelmente, nesse caso ainda
vale a obediência. Dos pais. Nesse caso, ainda praticamos uma educação autoritária.
Um exemplo? Um jovem casal
combina com o filho, de menos de 6 anos, que sempre que chegarem em casa juntos
será o filho a entrar primeiro em casa. Talvez isso fossem apenas pais
sucumbindo a um capricho infantil ou alguma boa estratégia a que os pais
chegaram, isso não importa. Acontece que um dia o casal saiu com o filho e
voltou um pouco mais tarde do que o costume. Vencida pelo cansaço a criança
chegou dormindo. Mas, antes de continuar o sono tranqüilo na cama, acordou e
armou a maior confusão por não ter sido o primeiro a entrar em casa. Adivinhem o
que os pais fizeram para superar o conflito? Saíram de novo para que a criança
pudesse entrar em casa primeiro. Que pais exemplares na obediência ao filho! Mas
educação que é bom nada! E muito menos educação democrática.
Para educar democraticamente não basta
virar o jogo: é preciso mudar o jogo, e ai reside a dificuldade. Não se trata
de quem obedece e de quem manda, mas sim de dirigir um processo em que os pais
têm mais experiência do que o filho, em que os pais têm a responsabilidade e o
filho precisa aprender a ter, em que os pais sabem o que o filho precisa e o
filho acha que precisa do que lhe dá prazer.
No nosso exemplo, se os pais
tivessem conseguido colocar o filho na cama sem atender aos apelos dele, sem se
sentirem obrigados a cumprirem as regras que haviam combinado com o filho a
qualquer custo, teriam cumprido seu papel educativo.
Não é tão difícil: observei uma
mulher conversar com uma amiga, sentada num banco de praça. A filha, uma
garotinha vivaz de mais ou menos 4 anos brincava ao lado da amiguinha. De repente
decidiu que queria tomar refrigerante e interpretou a mãe de imediato,
interrompendo a conversa. A reação da mãe? “Espere
a sua vez de falar”, disse à filha.
É assim que terminou a frase com
a amiga, perguntou à filha o que ela queria. Que belo exemplo de educação democrática
essa mãe deu!
Rosely Sayao
Fonte: Folha de São Paulo – 05/10/2000
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