Pai não tem que ser o
homem ... e mãe não precisa ser a mulher.
A
orientação sexual dos pais não faz diferença na educação da criança: o que
importa é cada um exercer uma função diferente.
Uma criança não precisa
de um homem e uma mulher, necessariamente, para que seja educada da melhor
maneira. Mães não precisam ser mulheres, nem pais precisam ser homens. Desde que
cada um cumpra sua função, é perfeitamente possível que uma família constituída
por pais homossexuais eduque seus filhos de maneira saudável, sem nenhuma
diferença entre famílias cujos pais são heterossexuais.
Em um estudo
qualitativo, mostramos, a partir de fragmentos de discursos de casais
homossexuais com filhos, e embasados na teoria de Lacan, que o desenvolvimento
mental (ou psíquico) de uma criança criada em um lar assim não seria nada
diferente do modelo familiar tradicional.
Lembrando: esta
hipótese vale apenas caso as funções psíquicas materna e paterna estejam
presentes e atuantes para a criança educada por um casal homossexual – seja masculino
ou feminino.
É importante que,
dentro da estrutura familiar, pais e mães se ocupem de suas funções. A função
materna pode ser exercida por qualquer um que esteja presente na vida da
criança desde o início, acalentando, ninando, dando carinho constante e
introduzindo a criança na linguagem. Desta forma, inicialmente a criança vai
construir uma relação simbólica com esta pessoa, sem se importar se ela é
biologicamente sua mãe, ou mesmo se é uma mulher.
A entrada do pai na
vida da criança acontece junto com o início da linguagem. Esta terceira figura
é importante para que ela perceba que não é o único objeto de desejo – ou do
interesse – de sua mãe. E que esta, por sua vez, não é toda dela, e que precisa
dividir sua atenção. Neste caso, também pouco importa se essa outra figura seja
uma mulher ou um homem. A diferença será percebida a partir dos dois ou 3 anos
de idade. A criança reconhece quem exerce cada função, mas não denomina como
pai uma mulher, ou como mãe a um homem.
Existe uma corrente
dessa teoria que afirma que casais homossexuais colocariam em risco a
diferenciação sexual da criança, defendendo que a construção do masculino e do
feminino estaria comprometida. Acreditamos que a vida infantil não está
restrita ao casal e ao ambiente dentro de casa. Existem a escola, os amigos, a
família, a televisão, a mídia, enfim, o resto do mundo, que vai ajudar nesta
construção psíquica da criança. As falhas nas funções psíquicas parentais podem
acontecer em todas as família, não importa qual seja sua orientação sexual.
Ricardo
de Souza Vieira é autor da dissertação de mestrado Homoparentalidade: um estudo
psicanalítico sobre os lugares e as funções psíquicas parentais em casais
homossexuais com filhos no Instituto de Psicologia da USP.
Texto publicado na Revista
Galileu, Editora Globo, agosto,2011, no 241, p.95
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