segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

NEUROPSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO: UM ENFOQUE CLÍNICO

Este trabalho trata do resumo do capítulo 15 do livro Aspectos Biopsicossociais da saúde na Infância e Adolescência – Prof. Vitor Geraldi Haase.

A neuropsicologia  estuda as relações entre cérebro e comportamento e tem como objetivos:
a)     localizar a lesão em termos de um modelo de correlação estrutura-função e modelo de processamento de informação.
b)     Obter informações sobre o perfil de funções comprometidas e preservadas para orientar o processo de reabilitação.
 
Cognição – trabalha com modelos de processamento de informação (analogia entre cérebro e computador).
Etapas:
a)     atenção e percepção dos estímulos,
b)     representação e interpretação na memória,
c)     acesso e avaliação das respostas possíveis,
d)     tomada de decisão,
e)     implementação de respostas, modificando o ambiente ou os estados mentais.

Exigências para atuar com neuropsicologia:
a)     conhecimentos de medicina, nas áreas de neurologia, psiquiatria e epidemiologia clínica,
b)     conhecimentos específicos sobre correlação estrutura-funcao e modelos de processamento de informação,
c)     conhecimentos sobre ciências sociais, comportamentais, desenvolvimento humano e reabilitação.

O cérebro em desenvolvimento se difere do cérebro adulto em pelo menos seis aspectos:
1) mudanças maturacionais;
2) potencial para reorganização funcional,
3) limitação intrínseca dos modelos de correlação estrutura-função;
4) diferenças nos quadros clínicos e etiologias;
5) variabilidade situacional do desempenho,
6) sensibilidade ao contexto social, cultural e familiar.

A neuropsicologia do desenvolvimento consiste de subárea da neuropsicologia que enfoca os aspectos da correlação anatomoclínica e da reabilitação a partir de uma perspectiva do desenvolvimento.

Avaliação cognitiva:
1.     Realização da história clínica sem a presença da criança com os pais. Em adolescentes, entrevistas conjuntas.
2.     Sessões de exame – testes.
3.     Preparação do relatório.
4.     Comunicação dos resultados.

A história clínica serve principalmente para levantar hipóteses diagnósticas. O restante da investigação serve para testagem de hipóteses.

Testes/instrumentos de avaliação:
a)     Observação do comportamento durante a anamnese, interação com a família e durante a realização das tarefas propostas,
b)     Realização de tarefas neurocognitivas pertinentes às hipóteses levantadas,
c)     Utilização de escalas respondidas pelo cliente, familiares e educadores,
d)     Eventualmente observar o comportamento do cliente em outros ambientes em que se insere, além do consultório,
e)     Manter contato com outros profissionais que lidam com o cliente,
f)      Finalmente, os dados são integrados em um modelo cognitivo de correlação estrutura-função no cérebro.

ASMOCPLIMAC – significa:
Atenção
Sensopercepção
Memória
Orientação
Consciência
Pensamento
Linguagem
Inteligência
Motricidade
Afeto
Comportamento

O modelo de processamento de informação facilita a tarefa de localização lesional, uma vez que sugerem modos de analisar as tarefas mentais em componentes cuja localização é mais fácil e contribui para a caracterização do perfil do desempenho do paciente em termos de funções comprometidas e funções preservadas, o que tem conseqüências para a reabilitação e orientação do processo educacional.

Projeto de vida tem que considerar:

Déficit de cognição à projetos ligados ao exercício sexual irresponsável.

Diagnóstico de localização  - é feito com base em um sistema espaço cerebral.

Eixos: Vertical-Arousal



Eixos cerebrais:

Arousal -  vertical ( do tronco para o córtex)
Subcortical   Cortical –
Liberação     Deficit

Latero  -  lateral (lateral esquerdo para o direito)
Motor       sensorial
Executivo representacional

Antero  -  posterior (da nuca para a fronte)
Verbal          espacial
Seqüencial   simultâneo
Analítico      holístico
Rotinas         contexto

Comprometimentos:
- Corticais – síndromes como afasia, apraxia e agnosia.
- Desenvolvimento – dificuldade de aquisição da linguagem oral e de aprendizagem de leitura (dislexia).
- Condições psiquiátricas envolvem disfunções subcorticais, de estrutura, gânglios de base e regiões do prosencéfalo basal.

Hiperatividade = disfunção em circuitos dopaminérgicos dos gânglios de base com alterações de comportamento (impulsividade, impersistência e agitação), com incidência de disfunções maiores no hemisfério direito.

O eixo látero-lateral do diagnóstico diferencia as doenças do hemisfério esquerdo das doenças do hemisfério direito.

O eixo Antero-posterior diz respeito às síndromes disexecutivas e as síndromes representacionais.
Disexecutivas = regulação do comportamento ou função executiva, ou seja, funcionamento não automático ou não rotineiro da mente.
Representacionais = percepção e representação do conhecimento.

Neurotransmissores: dopamina, noradrenalina e serotonina.

Síndromes neuropsicológicas do desenvolvimento:

Transtornos do desenvolvimento (TDs) podem ser definidas como quaisquer entidades nosológicas ou eventos de origem genética ou adquiridos até os primeiros meses de vida, que comprometem o desenvolvimento cerebral do individuo, podendo causar deficiências físicas ou mentais, bem como restrições à funcionalidade e à participação social.

Síndromes do desenvolvimento:
1.     Deficiência mental (QI abaixo de 80) é diferente de inteligência rebaixada.
2.     Transtornos de aprendizagem: comprometimento seletivo de determinados domínios do funcionamento mental, com domínios circunscritos à leitura ou aritmética, por exemplo.
3.     transtornos disexecutivos – impulsividade e dificuldades de auto-regulação (TDAH, por exemplo).
4.     Atraso de aquisição de linguagem oral.
5.     Dislexia específica de evolução – dificuldade nas habilidades fonológicas de segmentar mentalmente as palavras nos seus fonemas constituintes, de modo a estabelecer correlações com os grafemas na escrita.
6.     Transtorno não-verbal de aprendizagem: dificuldades de coordenação motora, habilidades viso-espaciais, aritmética, na cognição sócia e na capacidade de fazer inferências.
7.     Discalculia específica de evolução – dificuldades de processamento numérico e operações aritméticas.
8.     Autismo e Síndrome de Asperger – caracterizados por sintomas nas áreas de interação social, comunicação e restrição do repertório comportamental/dificuldades com o comportamento lúdico e imaginativo.

Reabilitação – é a área da saúde que trata da prevenção terciária que diz respeito à independência funcional, qualidades de vida e adaptação psicossocial.
- Restituição funcional (neuroplasticidade) para restabelecimento do nível prévio de funcionamento.
- Compensação – estratégias cognitivas e comportamentais que visam suprir os papéis funcionais dos sistemas neuronais afetados.

O pressuposto da terapia de indução de restrições consiste em forçar o uso do sistema lesado.
O planejamento de um programa de reabilitação envolve uma consideração do perfil do cliente (seus pontos fortes e fracos), da sua família e dos recursos disponíveis na comunidade.

Estratégias na neurorreabilitação:
1)     Advocacia – organização e lutas por direitos.
2)     Cognitiva – desenvolvimento de habilidades e promoção de crenças, atitudes e valores mais adaptativos.
3)     Comportamental – modificação de contingências que controlam comportamentos desadaptativos, substituindo-as por outras, mais adaptativas.

Técnicas de reabilitação:
Aconselhamento ao cliente e à família, de preferência não diretivo. O profissional deve discutir com o cliente e a família quais são as opções, considerando as peculiaridades individuais e da situação, bem como os recursos da família e a comunidade.
O processo de reabilitação pode consistir tanto de esforços para melhorar o padrão de desempenho do cliente quanto de medidas para reduzir ou modificar as exigências e expectativas.

O que é uma deficiência? Falha, carência, defeito.
Deficiência passou a se denominar “estrutura e função do organismo”,
Incapacidade foi denominada de atividades,
Desvantagem tornou-se participação.
O modelo indicava uma cadeia de relações causais que começava com a deficiência, passava pela incapacidade e terminava na desvantagem.

Tendo um pé na medicina e outro na psicologia, mas desenvolvendo seus próprios conceitos e métodos, a neuropsicologia do desenvolvimento mantém um olho na mente e outro no cérebro, um no individuo e outro na família, um olho na natureza e outro na criação.
É intrinsecamente interdisciplinar, biopsicossocial e evolutiva.

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