terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Os mecanismos de defesa a luz dos mitos gregos: Mito do Édipo Rei - Recalque

Escrevi um texto longo, enumerando os mecanismos de defesa e exemplificando cada um deles através dos mitos gregos. Por esse motivo, estarei postando separadamente, dia a dia um mecanismo de defesa e seu respectivo mito. Iniciarei pelo mito de Édipo, que trata do mecanismo de recalque ou rejeição, próprio da neurose. Espero que elucidem como estes mecanismos se apresentam nas pessoas, no dia a dia.


MECANISMOS DE DEFESA


"Todo o repertório de mecanismos que o ego é compelido a desenvolver para manejar as múltiplas, variadas e insistentes situações de conflito que tem que fazer face, vem a constituir um patrimônio individual especifico de recursos e de mecanismos psíquicos que vai estabelecer os padrões de ação e de reação, os sintomas prevalentes, os traços de caráter, os jogos interacionais, configurando a "história" deste ego especificamente, e configurando o "destino" da pessoa portadora do mesmo"

Marco Antônio Biaggio

O que determina se o curso das defesas psicológicas vai ser normal ou patológico é a maneira pela qual se manipulam os conflitos internos do sujeito. A capacidade de descarregar tendências instintivas, hostis ou não, mediante gratificação periódica constitui a melhor maneira de garantia da saúde mental, e também representa pré-requisito para uma sublimação tranqüila. Assim, diríamos que normal seria a descarga da energia contida através de diversos mecanismos de defesa ou através do mecanismo da sublimação, enquanto o patológico seria a fixação em descarregar essa energia através de um único mecanismo.


A capacidade que o sujeito desenvolve em  descarregar tendências instintivas, hostis ou amorosas, constitui a melhor maneira de garantia da saúde mental, e também representa pré-requisito para uma sublimação tranqüila.
O que seria descarregar essas tendências?  Inconscientemente o sujeito satisfaz sua energia pulsional através dos sonhos, atos falhos, chistes, sexo, e até mesmo através dos sintomas. Assim, se ele tem uma energia agressiva que precisa circular, esta energia será descarregada através dos sonhos em que a agressividade esteja presente, ou através de palavras, ou pela realização sexual, etc. As vezes não compreendemos como os sintomas, um pesadelo ou outras formas de descarga de energia podem trazer satisfação, mas basta pensar que um incômodo, uma ansiedade, uma dor poderia estar atendendo uma tendência de satisfação masoquista do sujeito que faz descarregar em si mesmo a energia, sem permitir que esta expresse-se no mundo.

Defesas ineficazes – são mecanismos psicológicos que por não permitirem a descarga completa ou satisfatória da energia pulsional,  exigem repetição ou perpetuação do processo a fim de impedir a irrupção dos impulsos rejeitados; daí provocando tensão. Os impulsos rejeitados exercem pressão constante no sentido da motilidade e privados da possibilidade de descarga direta usam todas as oportunidades que lhe aparecem para uma descarga, mesmo que indireta, deslocando a energia que possuem para qualquer outro impulso que a eles se ligue associativamente. Essa descarga indireta faz aumentar a intensidade da energia pulsional, muda o seu alvo para um alvo substitutivo ou até modifica a qualidade do afeto conexo.

Assim, amor pode tornar-se ódio, uma descarga que sairia por um canal pode ser descarregado em outro, etc...

As defesas que abaixo enumeramos, constituem-se nesta categoria:

Repressão ou recalque: repelir ou manter inconscientes pensamentos, imagens ou recordações ligadas a um afeto insuportável.

Mito: Édipo Rei

Édipo é abandonado por um súdito do seu pai, o rei de Tebas aos pés de uma árvore, no caminho para Corinto. Um casal que por ali passa acolhe o menino e o cria como se fosse filho legítimo. Édipo cresce amando muito aos seus pais, então adotivos. Mas por obra do destino, procura por um oráculo para predizer-lhe o futuro. O oráculo lhe diz: “Tú és o filho que matarás seu pai e desposarás sua mãe”. Ora, Édipo amava seus pais e então fugiu para Tebas, com a intenção de fugir ao destino. Em fuga, sem saber, atropela seu pai legítimo, Laio, que disfarçadamente viajava para Corinto.

Édipo ao chegar a Tebas soube de uma desgraça que acometera a cidade, com o assassinato do Rei Laio. Uma esfinge assolava a cidade e prometia que quem decifrasse o seu engima casaria com a Rainha Jocasta e assumiria o trono. Édipo procura pela esfinge e desvenda a charada proposta, casando-se assim com a Rainha, sua mãe. Com ela teve duas filhas.

Mais tarde, Tirésias, um sábio cego que o orientava revelou-lhe que fora ele próprio quem assassinara seu pai durante a viagem e acabara por casar com a viúva rainha, sua mãe. Édipo reconhece seu erro, lembra-se do destino predito pelo oráculo e em desespero cega-se.

Esse mito foi utilizado por Freud para tratar dos complexos neuróticos, em que os filhos mesmo amando seus pais, fantasiam o assassinato do genitor do mesmo sexo para ocuparem o seu lugar junto ao genitor do sexo oposto. Segundo Freud esse mito é universal, e, segundo o arranjo que o sujeito inconscientemente organiza neste complexo, possibilita determinar as estruturas psicológicas. Assim, o mecanismo de defesa “recalque ou rejeição” é a expressão de um afeto insuportável (assassinato do pai e desposar a mãe) e o sujeito se organiza rejeitando repetidamente esse destino, gerando ai os seus sintomas e as suas neuroses.

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