domingo, 21 de novembro de 2010

Diferença entre Psicoterapia, Psicologia, Psiquiatria e Psicanálise

Introdução:

Psi é a vigésima terceira letra do alfabeto grego. Tem como símbolo um tridente, que também é o símbolo da Psicologia. Psic é um termo usado para designar alma, espírito, princípio da vida.

Outras ciências possuem na sua terminologia a letra psi: psicologia, psiquiatria, psicoterapias e psicanálise. Se fosse uma análise morfológica, pura e simples, essas ciências teriam como estudo a alma ou espírito que também podem ser traduzidas por emoções e razão ou mente.

Estaremos, neste estudo, marcando as diferenças dessas ciências e as indicações clínicas.

Psicoterapias:

Segundo do dicionário Dicmaxi Michaelis,  psicoterapia é: sf (psico+terapia2) Med 1 Tratamento por métodos psicológicos. 2 Conjunto das técnicas que visam ao tratamento das moléstias mentais por persuasão, sugestão, psicanálise, atividades lúdicas ou de trabalho; e terapia ou terapêutica é: sf (gr therapeutiké) Med 1 Parte da Medicina que se ocupa da escolha e administração dos meios de curar doenças, e da natureza dos remédios. 2 Tratamento das doenças.

Todas as abordagens teóricas são influenciadas pela cultura e a época em que são inseridas. E não foi de outra forma com as abordagens psicológicas. Neste breve resumo, estudaremos o cerne do pensamento de onde provêm as técnicas psicoterapêuticas e como se instalou no nosso meio.

1 – Psicologia behaviorista, cognitiva ou comportamental.

A psicologia pré científica: durante vários séculos o homem tentou formular uma teoria sobre o comportamento humano, apresentando-o sob a forma de dualismo ou espiritualismo. Não apenas o comportamento humano era causado por espíritos, mas o mesmo ocorria com acontecimentos da natureza. As tempestades, os incêndios, os tremores de terra e outros eventos eram explicados como “fúria dos deuses”  ou “ demônios”.
Para o aparecimento de uma ciência havia a necessidade de uma interpretação completamente diferente das coisas, baseadas em duas crenças afins:
1º. A crença de que os acontecimentos naturais são regulares ou obedecem a leis e que de um acontecimento é possível predizer outro.
2º. A crença de que a regularidade poderia ser descoberta por algum tipo de observação. Assim, a observação cuidadosa de acontecimentos poderia descobrir relações regulares entre eles. Esta é a a essência de toda a ciência.
Foi a descoberta dos métodos científicos que separaram a ciência da filosofia.
No final do século XIX, no cenário mundial do início deste século, algumas abordagens apresentavam tentativas de compreensão da psiquê humana através de métodos científicos e trazendo luz para questões fundamentais das relações intra e interpsíquicas.
Na Europa, instala-se o primeiro laboratório de Psicologia com uma forte influência do positivismo científico, fundado pelo Dr. Wilhelm Wundt, em 1879 na Universidade de Leipzig.

O trabalho do Dr. Wundt continha uma grande preocupação com a quantificação, análise e previsibilidade das reações humanas. Conseqüentemente, a base deste trabalho era o "visível", o que era passível de observação e testes que - seguindo a orientação científica - poderiam ser repetidos sob as mesmas condições, achando-se o mesmo resultado. Daí, o trato com a questão da psiquê humana foi reduzido ao "lidar com comportamentos", ao que o ser humano exteriorizava.

Outros teóricos, como John B. Watson, aprimoraram os pressupostos desta Psicologia com base no comportamento, trazendo-a para a prática clínica e estruturando um sistema próprio, que ficou conhecido como "Behaviorismo".
Bourroughs Frederich Skinner, americano que sistematizou análises experimentais do comportamento. Tinha como pressuposto que: “manipulando-se as variáveis ambientais pode-se controlar e prever o comportamento”.

É interessante notar que o comportamento seria a manifestação dessa alma, ou pensamento, logo, nesta teoria, manipulando-se o ambiente, pode-se prever a mudança do psiquismo.

Indicações:
Fobias, alcoolismo, drogadição, distúrbios de alimentação como anorexia e bulimia,  obesidade, grupos de auto-ajuda em geral, dificuldades de aprendizagem, treinamento organizacional e outros.

Indicação bibliográfica:
"PRÁTICA DE TERAPIA COMPORTAMENTAL"
Autor: Joseph Wolpe


2 -  Psicologia fenomenológico-existencial organísmica,  também chamada de humanista:

A Psicologia Existencial Humanista fundamenta sua concepção dos pensadores como Edmund Hussel,  Nietzsche,  S. Kiergaard, Hegel, Sartre, Martin Buber  que consideram a pessoa, sua subjetividade e as relações interpessoais e tem o pressuposto de que é a perda da habitualidade de uma atitude fenomenológica o fator preponderante no desenvolvimento dos distúrbios e desajustes humanos, assim como a perda de seus potenciais criativos.  É uma abordagem que atenta para uma correlação intrínseca e ativa que envolve vivencialmente o encontro do psicólogo com o cliente, dentro dos limites da instituição em que este encontro ocorre. Sullivan enfatizou o papel da relação entre o terapeuta e o cliente como um dos fatores fundamentais da produtividade do processo terapêutico.

A Psicologia Humanista abrigou dissidentes da psicanálise, como Erick Fromm que enfatizou explicitamente a benignidade do potencial humano e a sua tendência natural a uma explicitação produtiva e saudável, num meio que atendesse a suas necessidades básicas. Fromm, teve, desta forma, assim como Ferenczi e Rank, marcante influência sobre o desenvolvimento das linhas de psicoterapias humanistas que desconfiaram do primado da técnica para privilegiar a relação imediata e natural com o cliente no processo do trabalho psicológico e psicoterapêutico.

Também foi influenciada pela Gestalterapia através das correntes desenvolvidas pelos alemães Kohler, Koffka e Wertheimer e serviu-se da gestalt como importante suporte para o seu desenvolvimento.

A Psicologia Humanista está para além da técnica, já que funde a filosofia fenomenológico-existencial, a gestalt e a logoterapia. Neste sentido, a psicologia seria uma prática, o existencialismo uma filosofia, a fenomenologia um método e o humanismo uma ética.  É uma abordagem centrada na Pessoa, cujos nomes expoentes destacam-se os trabalhos de Abraam Maslow, Fritz Perls, Carl Rogers e Eugene Gendlin. Abriga ainda em seu seio, outras psicoterapias, como a Dasein-análise, de Ludwing Binswanger, a Análise Existencial de Medrad Boss e a Análise Antropológica ou Logoterapia, de Victor Frankel.

Do Humanismo há uma reflexão sobre o humano. Questões como: o ser e não ser, o nada, as escolhas, a liberdade, a responsabilidade, o homem como ser temporal, a  morte que remete ao limite, a finitude, o homem só no mundo remetendo à solidão, a importância de ser para o outro apesar de ser para si mesmo.

Do  Existencialismo, abrigam questões essênciais que vão nortear a escuta: a angústia, a culpa, a impotência, o medo...

Da Fenomenologia, utiliza da redução fenomenológica, onde o observador suspende todo o juizo ou pré-conceito para a busca da essencia do ser, essencia da presença no aqui e agora, o uso de uma compreensão empática e de autenticidade.

A Psicologia Existencial Humanista adota uma postura não diretiva, reflexiva e elucidativa com tendência a realização da pessoa enquanto ser no mundo. Assim, enfatiza a importância da pessoa compreender a si mesmo, resolver seus problemas com recursos eficazes para um funcionamento adequado da sua vida e num clima interpessoal desprovido de ameaças ao Eu. Culmina com a busca do sentido da vida.

Indicações:
As mais diversas indicações, passando tanto questões existenciais marcadas pelas fases da vida, como adolescência, relacionamentos,  profissão, menopausa, velhice, perdas afetivas, lutos, quanto conflitos familiares, profissionais e outros.

Indicação bibliográfica:
Não apresse o rio, ele corre sozinho.
Autora: Barry Stevens

3 – Gestalterapia:

A Gestalt-terapia também utiliza dos conceitos da psicologia existencial humanista fenomenológica. Surgiu na década de 50, nos EUA, como uma nova abordagem psicoterapêutica. A origem do seu nome ( "Gestalt" ) é proveniente da Psicologia da Gestalt, que pesquisa as formas de percepção do mundo, a maneira como vemos as coisas (a percepção visual) . Gestaltlung (organização da forma) - sm (al Gestalt, forma+ismo) Psicol Doutrina que tem por base a afirmação de que a percepção se realiza sobre o todo e não como apreensão cumulativa das partes que o compõem. A palavra "Gestalt" não tem tradução literal para nossa língua, mas possui um significado de "forma", de "partes que se somam formando um todo".

Assim, com a base empírica da Psicologia da Gestalt, com as reflexões da filosofia existencialista, com a base biológica da Teoria Organísmica e com o equilíbrio da filosofia Zen-Budista (entre outras importantes influências como o psicodrama de J.L. Moreno, a Bioenergética de Wilhelm Reich e Alexander Lowen), a Gestalt-terapia unificou em seu corpo prático e teórico um conhecimento voltado especificamente para a área clínica.  O primeiro autor da Gestalt-terapia foi o então psicanalista Frederic S. Perls, que lançou o livro "Ego, hunger and aggression" em 1942.

Esta abordagem utiliza-se das sensações e percepções com toda sua classe de características estéticas tanto positivas como negativas do mundo que nos cerca, quer se trate de ornamento, pintura, escultura, música etc., ou de árvores, paisagens, casas, carros -- e outras coisas do tipo. Por que tanto interesse pela percepção? Simplesmente porque, em nenhum outro campo da Psicologia, os fatos são tão acessíveis à observação. Rubin chamou a atenção para a diferença entre figura e fundo. David Katz encontrou amplas evidências para o papel dos fatores da Gestalt no campo do tacto, bem como da visão a cores e assim por diante. Todos esperavam que, assim como alguns princípios funcionais importantes haviam sido revelados nessa parte da Psicologia, outros semelhantes mostrar-se-iam relevantes, tais como a memória, a aprendizagem, o pensamento e a motivação.

Os gestaltistas consideram como sendo o mais significativo aspecto da experiência sua totalidade e inter-relacionamento. Para eles, qualquer tentativa de analisar o comportamento em partes estava condenada a falhar porque perdia a mais importante e distintiva característica da experiência - sua totalidade, organização e configuração. Nenhum estímulo tem um sentido ou significado constante; tudo depende do padrão de eventos circundantes. A GT parte do pressuposto que cada indivíduo apresenta sua específica organização interna; cada indivíduo é único e inigualável, e o seu funcionamento é sua melhor tentativa de se adaptar às pressões do seu meio. Utiliza das percepções sensoriais para a pessoa tramitar na fronteira de contato Eu/mundo/outro. É nesse limite de contato que ocorrem os eventos psicológicos pelo ajustamento criativo do organismo ao meio.

Várias são as fronteiras: do Eu , do corpo, de valores, de familiaridade, de expressão, de exposição... todas essas fronteiras compõe os meus limites que são regulados pelo contato com o outro.

O contato implica situações de atração e rejeição, aproximação e distanciamento, dependência e independência. O contato se dá a cada momento e terminando-o, a pessoa segue imediatamente para um novo contato. Enfatiza que o maior contato é o contato consigo mesmo, onde o observador é observador de si mesmo.

O agrupamento ilustra claramente a noção geral da Gestalt de que o todo é diferente da soma de suas partes. Uma cena global, portanto, depende de como você vê a relação figura-fundo e de como as várias partes da cena estão organizadas umas em relação às outras.

Os itens são agrupados em termos de:
Proximidade. Itens próximos um ao outro são percebidos como um todo.
Semelhança. Itens que se parecem mais estreitamente uns com outros são percebidos como unidades.
Simetria. Itens que formam unidades simétricas são agrupados juntos.
Fechamento. Itens são percebidos como formando uma unidade completa, mesmo que estejam interrompidos por lacunas.
Continuação. Itens com as mínimas interrupções são percebidos como unidades.
Locomoção. Conduta motora
Vetor. Meta ou objetivo
Valência. Atrações e repulsões de objetos
Retrogressão. Saciamento ou resolução da tensão de modo que haja aproximação do estado de equilíbrio.

Para Lewin, a percepção de um objeto ou fenômeno pode dar nascimento a uma tensão psicológica (por exemplo, um desejo), ou pode comunicar-se com um estado de tensão já existente, de tal modo que esse sistema de tensão assuma com ele o controle da conduta motora. As valências (atrações e repulsões de objetos - meta percebidos) atuam como forças ambientais que guiam a conduta subseqüente. Então essa conduta leva ao saciamento ou à resolução da tensão, de modo que haja aproximação de um estado de equilíbrio, ou seja, é importante que a pessoa complete a experiência inacabada, a conclua para que possa seguir para outra experiência. A não conclusão da experiência se dá por obstáculos polares: uma compulsão a completar a antiga situação inacabada ou a uma instabilidade mental com pensamentos fugazes que impedem a finalização.
Eis alguns princípios da teoria topológica:
a) Espaço vital. O espaço em que vivemos é psicológico, não físico. Duas pessoas que caminham pela rua se destinam a lugares diferentes; quando andam, o lugar em que andam tem diferentes significados para ambos. Meu espaço vital é o que vivo psicologicamente, visto de minha posição. O espaço vital é quase físico, quase social e quase conceptual. Está condicionado e influenciado pelo meio físico, social e conceptual, mas não pode ser identificado com o referido ambiente.
b) A pessoa no espaço vital. A pessoa é um ponto que se desloca no espaço vital. É uma região do espaço vital, tendo uma estrutura própria. A criança por exemplo, vive dentro das dimensões do espaço vital que não são semelhantes às do espaço vital que não são semelhantes às do espaço de um adulto. Ela não pode distinguir suas esperanças e desejos e as circunstâncias reais da vida. conforme envelhece, a pessoa tem maior diferenciação entre a realidade e a irrealidade, maior compreensão do passado, presente e futuro.
c) A concepção da personalidade. A personalidade é um todo único que não pode ser analisado por partes. Nada adianta analisar separadamente traços. No conjunto, cada traço adquire uma outra significação daquela que tinha quando visto isoladamente. A personalidade, enfim, deve ser entendida, não explicada. O entendimento é obtido pelo estudo do passado histórico do indivíduo e do presente cultural.

A Gestalt terapia é holística, visa restituir o todo, a saúde, a manutenção do bem estar. Valoriza a originalidade do ser para uma qualidade de vida melhor. Nesse sentido, prioriza a vivência concreta, que se dá no mundo real e com laços afetivos. Da fenomenologia utiliza o conceito de que é mais importante descrever do que explicar e da singularidade de cada vivência. Há uma tomada de consciência temporal e espacial, trazendo como grande ênfase a percepção do EU, AQUI E AGORA.

Indicações:
- Falta de interesse, opressão no trabalho, estudos, projetos de vida; ansiedade e depressãp; dificuldades interpessoais; autodesvalorização, fobias e medos; sintomas obsessivos compulsivos, falta de realidade (neurose e psicose), distúrbios de aprendizagem, traumas corporais e queimaduras; visão corporal distorcida e outras.

Indicações bilbiográficas

Introdução à Gestalt-terapia:conversando sobre os fundamentos da abordagem gestáltica
Autor: Hugo Elidio Rodrigues, Hugo Elidio

 GT – Refazendo um caminho
Autor: Jorge Ponciano Ribeiro.


3 - Terapia sistêmica, cognitiva ou familiar:

A abordagem sistêmica derivou-se do pensamento da teoria geral dos sistemas que propunha-se a estudar as correspondências ou isomorfismos entre os sistemas de todo tipo e a cibernética que ocupava-se dos processos de comunicação e controle nestes sistemas.

Os primeiros trabalhos em terapia familiar foi marcado pela interdiciplinariedade e  iniciaram-se com famílias de esquizofrênicos na década de 50 e basearam-se na teoria da comunicação cuja perspectiva central é a transformação do conceito de informação para as praticas relacionais e circulares ao dizer que o “observado tem a marca de quem observa”.
Embora a teoria geral dos sistemas, em parceria com a cibernética, tenha configurado os limites dos paradigmas para uma teoria clínica de psicoterapia, na prática diferentes sistemas de crenças resultaram em distintos modelos de terapia familiar, caracterizando diversos sistemas de inteligibilidade que, praticamente coexistiram.

A terapia propõe que o cliente seja o especialista no que diz respeito ao conteúdo, isto quer dizer que ele sabe sobre suas própria vida e dos motivos que o trouxeram para a terapia, enquanto que o terapeuta é o especialista no processo, permitindo por sua especialidade criar um contexto propiciador e facilitador para uma conversação que permita a reconstrução dos significados da história de vida do cliente.

Neste sentido, o processo terapêutico, coloca ênfase sobre a linguagem e a pessoa do terapeuta, e segundo estende o território da terapia sistêmica, originalmente uma terapia de família como um sistema, para além das fronteiras, ao incluir o indivíduo, as comunidades e outras organizações sociais, envolvidos numa trama significativa.

O que é a terapia familiar e para quem servem as terapias familiares?
Embora não se possa deixar considerar a interdisciplinaridade da terapia familiar e a diversidade de modelos de atuação nesta área acredita-se que a compreensão sobre o que se entende por família e sistema é fundamental para a discussão sobre a atuação clínica da terapia familiar.

Tem-se como preceito que a família circula no campo ideal (modelo cultural), no campo imaginário (aquela família a que o sujeito pensa que pertence) e no campo real (aquela família como realmente é). A família, como sistema é uma rede, ou seja, um conjunto de elementos em interação comunicacional. Na comunicação implica uma linguagem (código e signos) e uma mensagem (com meio, emissor e receptor). A família é um sistema aberto a informação, onde não pode não se comunicar. Qualquer comunicação implica em compromisso e define um relacionamento e toda comunicação é feita em cima de outra comunicação.

A terapia familiar sistêmica estruturada em torno desses conceitos entende a família como um sistema aberto que se auto-governa através de regras que definem o padrão de comunicação mantendo uma interdependência entre os membros e com o meio no que diz respeito a troca de informações e usa de recursos de retroalimentação para manter o grau de equilíbrio em torno das transações entre os membros.
O aspecto fundamental é a de que o ser “doente” ou a pessoa que apresenta problemas, é apenas um representante circunstancial de alguma disfunção no sistema familiar. Enquanto o modelo tradicional de práticas psicoterapeuticas diria que o transtorno mental se manifesta pela força dos conflitos internos ou intra-psiquícos, tendo sua origem no próprio indivíduo, o modelo sistêmico daria ênfase a tal transtorno como expressão de padrões inadequados de interações familiares.
Assim sendo considera-se relevante priorizar o trabalho direto e efetivo com as necessidades da família e do meio ambiente, sendo que esta família é definida pelos seus padrões de interação, em detrimento de rebuscar somente os dificuldades de ordem intra-psíquica individuais.  O terapeuta deve confrontar o sintoma com o sistema e muitas vezes o sintoma vem provocar mudanças no sistema.

Na terapia são consideradas todas as informações e outros sistemas envolvidos, como políticos, educacionais, sociais, biológicos e afetivos, e leva-se em conta até três gerações da família envolvidas no tratamento. Isso dá uma característica do trabalho, tanto no nível da remediação quanto de possibilidades preventivas e que implicam na transformação dos padrões transacionais que constituem a estrutura familiar.

O tratamento possibilita que mais de uma pessoa seja atendida por um profissional ou uma equipe de profissionais que compartilham da mesma visão de homem e de mundo permitindo o vínculo e a linguagem comum com todos os membros da família, possibilitando uma re-construção dos significados que giram em torno do problema.

Uma outra abordagem que também se apresenta atualmente, dentro da Psicoterapia Sistêmica é a Ciência Cognitiva que atravessa os limites da psicologia, da educação e se coloca como área multidisciplinar reunindo biólogos, neurocientistas, teóricos de sistemas computacionais, estudiosos de inteligência artificial, etc.., enfim pesquisadores comprometidos com a epistemologia, ou seja o estudo da construção do conhecimento nas mais diversas áreas.


Indicações: A Terapia Familiar/Casal não é recomendada para qualquer caso, porém tem indicação clara para certas situações:
· problemas com várias pessoas da mesma família
· problemas evidentes de relacionamentos entre pais
· violência, alcoolismo, drogadição, distúrbio psíquico, luto patológico entre outros.

Indicações bibliográficas:
A história social da família e da criança
Autor: Philippe Ariès.

Concumbinato ou União Estável
Autor: Rodrigo Pereira da Cunha

4. Psicanálise:

Poucas contribuições à cultura e ao conhecimento universal influenciaram tanto o pensamento contemporâneo como a psicanálise. Idealizada por um jovem médico vienense, permeou nossa cultura em geral e não ficou só nos meios acadêmicos, mas, também se popularizou.

A Psicanálise foi criada por Sigmund Freud (1856-1939). A partir da histeria, Freud foi estudando os processos psíquicos e se deparou com a sexualidade, como formadora do aparelho psíquico.  Freud dividiu o aparelho psíquico, num primeiro momento, em Inconsciente, Pré-consciente e Consciente e, num segundo momento em   Id, Ego e Superego.  Na formação da estrutura psíquica, há uma diferenciação do id para a formação do ego e do superego. Para Freud, o inconsciente é o reservatório das pulsões da vida mental do sujeito.

Assim, os sintomas nervosos baseiam-se, de um lado, nas exigências dos instintos libidinosos a serem satisfeitos,  e, de outro, na reação do Ego contra os mesmos.  Isso porque, o sujeito uma vez inserido na cultura, internaliza as leis, e essas incluem uma realidade cujas satisfações nem sempre podem ser satisfeitas. Dessa forma, estabelece-se um conflito entre o Ego e o Id. Os sintomas representam um substitutivo de tendências que tiram a força da fonte da pulsão sexual. Se estabelece entre a opressão da pulsão e a resistência da repulsa sexual, que, não resolvendo o conflito, tenta esquivar-se pela transformação das idéias libidinosas em sintomas.

A divisão psíquica consciente/inconsciente é fundamental para a psicanálise.
Para lidar com as pulsões sexuais, o aparelho psíquico desenvolveu instâncias que regulam a satisfação da libido. Freud deu o nome a essas instâncias de mecanismos de defesa, que tem como função limitar o fluxo do circuito pulsional. Dessa forma, o aparelho psíquico seria composto ainda do recalque, que reprime os conteúdos desagradáveis para o ego no inconsciente, a negação, a projeção, a introjeção, o deslocamento e outros mecanismos essenciais ao funcionamento psíquico.


A psicanálise é uma práxis constituída por certos objetivos, finalidades e desejos. Por ser uma prática, requer uma práxis onde objetivos e teoria estejam em constante interação. A psicanálise utiliza como metodologia a associação livre, a análise dos sonhos, a interpretação da transferência e a escuta das formações do inconsciente, que se dá pelos significantes contidos nos atos falhos, chistes, lapsos, sonhos e através do próprio sintoma.

O objetivo de um tratamento psicanalítico é melhorar a qualidade de vida do paciente tornando consciente o inconsciente.

 Com a descoberta do inconsciente, o homem percebeu pode perceber que “não era senhor na sua própria casa”, ou seja, que toda sua força de vontade e que todo o condicionamento moral e social seria incapaz de dominar sua natureza sexual que se irrompia em pequenos ou grandes deslizes. Pode perceber que apenas uma pequena parte do seu psiquismo é passível de controle (o consciente) e que o a outra parte (o inconsciente) é insondável, incontrolável e pulsional, sendo essa a que realmente conduz o sujeito humano.

O psicanalista deve considerar que as relações entre o símbolo por excelência – a palavra – e o corpo estão perfeitamente dispostas, sem aberturas a serem suturadas, abstraindo daí o conceito de cura e tratamento. Deve ter em mente, ainda,  que tanto a ciência quanto a razão e a desrazão de um tempo não representam, em hipótese alguma, a consciência absoluta e o fim da história. Deve estar atento às mudanças do seu tempo, as mudanças sociais e culturais, que numa intrincada interface ontológica e antropológica refaz o homem, ser infinito de possibilidades.

Indicações:
Neurose, psicose, transtornos psicossomáticos diversos, dificuldades de relacionamento, personalidades com características masoquistas.

Indicações bibliográficas:

Freud, Sigmund. Obra Completa. Editora Standart


3 -  Psiquiatria:

A segunda metade do século XIX foi claramente naturalista e cientificista, muito similar à era que vivemos. Tanto as formulações sobre a natureza da doença mental quanto a própria animação ideológica, no século XIX, privilegiava a biologia como o princípio e o fim das explicações sobre as doenças. E, evidentemente, os psiquiatras, desde então, se não contavam com o avanço tecnológico para demonstrar as proposições, não deixavam de depositar a esperança na biologia.

Surgiu, então, a Psiquiatria que é o ramo da medicina que se ocupa do diagnóstico, da terapia medicamentosa e, também faz uso da psicoterapia como tratamento para aqueles que apresentam transtornos mentais associados a transtornos emocionais que mudam um comportamento.

Faz parte de um sumário desta história a descoberta de poderosas drogas psicoativas – descoberta, em geral casuais, como ocorreu com a clorpromazina, a imipramina e o LSD – e o desenvolvimento, mais recente, de técnicas de neuroimagem desbloqueando o acesso ao cérebro vivo, em ato.

CONCLUSÃO:

As psicoterapias desempenhariam um papel, se bem que secundário, inegligenciável na aderência ao tratamento, na redução do índice de recaídas, na redução da abstenção no trabalho, na redução dos gastos com hospitalizações e atendimentos de emergência e na redução na utilização de recursos médicos gerais. Até referências à diminuição da dose de neurolépticos e anti-depressivos em condições patológicas onde tais drogas são julgadas imprescindíveis pode ser notado. Desta maneira, o exercício das psicoterapias pode ser estendido para qualquer patologia, ressalvando a condição de recurso útil, mas auxiliar.
Isto é, não apostam todas as fichas no cérebro, na genética, nos hormônios. Deixam um espaço amplo para a existência, os projetos, os encontros, a interpessoalidade.
Estas posições podem ser enriquecidas por uma proposição, atraente de algum modo, que discute o dilema natureza e cultura formulando uma radical integração entre os processos cerebrais e psíquicos, baseados na descrita plasticidade cerebral e na admissão de que, se não há uma orientação simbólica, o cérebro humano não vai muito além de cérebro de um boi.

O psicoterapêuta tem sempre algo a dizer:  algo a dizer sobre a influência da relação transferencial no contexto clínico, algo a dizer sobre a subversão da cultura à manifestação da natureza, algo a dizer sobre a história de um sujeito e de seu padecimento. Algo a dizer sobre a célebre pergunta "porque uns adoecem e outros não, diante de uma determinado evento traumático. Algo a dizer sobre a eficácia simbólica.

 Isto implica uma responsabilidade: a escuta feita pelo psicoterapeuta pressupõe sua formação teórica como especialista, a vivência da sua psicoterapia individual e a supervisão por outro profissional da sua conduta clínica, para que, a partir do recolhimento à intimidade do encontro clínico, possamos oferecer nossa contribuição para a apropriação das inovações, reconstrução dos vínculos e elaboração das significações indispensáveis à vida dos que pretendem permanecer humanos.


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