quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Gravidez na Adolescência

Trabalhando com adolescentes através de projetos de orientação profissional, deparei com duas questões dentre outras, que estão muito presentes na vida do adolescente e que norteiam todo o seu projeto de vida.
Uma é a drogadição e a outra é a sexualidade. Quando o adolescente fica tomado pela droga seu projeto de vida sucumbe. A sexualidade, por outro lado, quando é exercida sem afetividade e sem responsabilidade pode levar às doenças sexualmente transmissíveis ou a uma gravidez não planejada. Este é outra forma de sucumbir com os projetos de vida do adolescente.

Resolvi, então, aprofundar  também por estes conceitos para compreendê-los com maior clareza e, também, dentro do possível procurar ajudar os próprios adolescentes, pais, educadores e a comunidade em geral nestes aspectos, porque se interligam e interferem na conduta do adolescente trazendo consequências para toda a sua vida.


Das minhas observações, eu gostaria de compartilhar com voces:
1º. Vou falar sobre o que entendemos sobre sexualidade, afetividade e responsabilidade, nossa proposta.
2º. Percorrerei alguns dados estatísticos e levantamentos do código civil,
3º . Sugirirei alguns tópicos para a prevenção de aspectos indesejados que permeiam a sexualidade.

 
O que é adolescencia? Adolescer significa crescer, desenvolver-se. Maturidade sexual, construção da identidade, autonomia e produtividade.
É porque falamos em maturidade sexual que supomos que a adolescencia é a fase que permite o exercício sexual. Devemos entender que a sexualidade permeia toda a vida humana.
Sexualidade até parece ser um bicho de sete cabeças, mas não é assim tão complexo. A questão é que não se pode confundir sexo com sexualidade.
Com relação a sexualidade, devemos entender que a sexualidade permeia toda a vida humana. Sexo é diferente de Sexualidade. Sexo pode ser praticado pelos homens ou animais com fins instintivos ou reprodutivos. Já a sexualidade é o exercício ou prática sexual que vai além do coito e envolve afeto, sendo eminentemente humana.
Sexualidade exige cuidados consigo e com o outro e proporciona satisfação e bem estar, mas a sexualidade não pode ser livremente exercida. Ela possui um controle social e faz parte dos mitos e tabus da humanidade. Assim, o exercício da sexualidade é um direito de cidadania, porém ela está regida segundo as normas sociais e culturais. Logo, existem leis que estabelecem direitos e deveres relativos a sexualidade e à reprodução para cada pais, para cada cultura.

No Brasil, no que concerne à infância e a adolescência, o  Estatuto da Criança e do Adolescente trata de temas para a proteção contra a violência doméstica, o abuso sexual, a exposição da criança e do adolescente a pornograria, espetáculos e diversões, prevê a assistencia integral a saúde e proteção a gestante a ao bebê.

No Código Penal há propostas de ampliar questões ligadas ao aborto, violação sexual;  formula crime de assédio sexual, discrimina a sedução e o adultério, licitude de esterilização com consentimento, criminalização da ensiminação artificial ou transferencia de embrião “não consensual”, manipulação de gametas ou embriões, alteração ou seleção genética ou da contratação onerosa para fins lucrativos.

Para exercer a sexualidade seria interessante que tanto moças e rapazes conhecessem o próprio corpo. No que diz respeito às adolescentes, elas estão prontas para a gravidez desde as mudanças corporais da puberdade. Em torno dos 12/13 anos, após a menarca, já poderá engravidar. Os meninos, um pouco mais tarde, em torno dos 14/15 anos já possuem esperma e então podem fertilizar a mulher.

O Brasil possui, segundo estatísticas do IBGE 54milhões de adolescentes, compreendidos na faixa entre 12 e 19 anos. Desses 54 milhões, 28 milhões são do sexo feminino e 18 milhões delas já têm 1 ou mais filhos. Isso significa que mais que 55% das meninas nesta faixa etária, exercendo a sexualidade e provavelmente sem um planejamento devido, complicam o seu projeto de vida engravidando precocemente.

O que é engravidar precocemente? É que antes que a jovem complete algumas etapas importantes para sua vida, experimenta situações antecipadas que inviabilizam ou dificultam outras etapas subsequentes. Essas situações podem ser o exercício do trabalho infantil, o abandono da escola, o uso de drogas, submeter-se a violência física ou psicológica, contrair doenças sexualmente transmissíveis, gravidez não planejada, etc.

É claro que uma gravidez dificultará a permanência da adolescente na escola, onerará custos de sustentação da criança, muitas vezes muito mais no orçamento dos avôs do que dos adolescentes propriamente ditos, sem contar que muitas vezes o corpo jovem da garota não está preparado para uma gestação. Além dos riscos para a mãe há os riscos para a vida do bebê. Psiquicamente também a menina não está madura para arcar com as consequencias da educação de um filho.

Uma gravidez pode ter ocorrido por motivos vários:
- Supervalorização da maternidade.
-  Vontade de ser mãe.
 - Se sentem sós e imaginam que um filho vá preencher sua vida.
- Testar se são férteis.
- Manter o vínculo com o namorado
- Abuso ou violência sexual.
- Falta de informação em como fazer sexo protegido.

As vezes fico impressionada como a mídia, apesar de todas as campanhas informativas sobre as formas de proteção contra as doenças sexualmente transmissíveis ou contra uma gravidez indesejada, estimulam enormemente o exercicio irresponsável da sexualidade. Basta assistir novela e perceber que todas as jovens engravidam quase que por acidente. Ora, se a menina engravidou-se por acidente é porque não utilizou-se camisinha, não utilizou os métodos contraceptivos, não utilizou nenhuma forma de planejamento ou proteção.

A mídia quer vender seus produtos através do imagem do sexo e do corpo. Assim ela dita as normas da ética e da estética e, muitas vezes distorce o que seria ético através de imagens vulgarizadas que aparecem nas suas propagandas, programas, novelas, etc. É com muita facilidade que um casal em uma cena em que acabaram de se conhecer tiram a roupa e vão para a cama.

Esse tipo de comunicação banaliza a sexualidade, a violência e faz com que as consumimos como qualquer outro produto, sem mesmo nem “ler o rótulo”. Isso significa que muitas vezes nos envolvemos sexualmente sem conhecer de fato o “conteúdo” do companheiro ou da companheira com quem estamos saindo.  Nós, adultos  fechamos os olhos – não estamos preparados para nos posicionar frente a estas dificuldades porque também estamos envolvidos nessa crise de valores, crise de identidade, crise contemporânea e tal qual os jovens, não sabemos como exercer nossa própria sexualidade.

Atualmente o “ficar” está cada vez mais banalizado. Isso é importante para a sociedade de consumo, onde as pessoas também tornaram-se objetos “consumíveis”. A afetividade está sendo rechaçada e esquecemos que a afetividade é a essencia da sexualidade. E esse é um aspecto que penso seja o cerne da orientação sexual.

Uma sexualidade plena deveria requerer rituais, cerimônia, celebração e responsabilidade. Não simplesmente o impulso e a inconsequência. Exige harmonia e necessidade de felicidade.

Mas uma vez que tenha acontecido, é importante que a menina seja encaminhada ao serviço de saúde para as consultas de pré-natal e procurar informar-se sobre os serviços de atendimento disponíveis na comunidade.
A familia deverá, neste momento, acolher e apoiar a gestante e procurar acompanhar seu percurso.

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