terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Anorexia e Bulimia

 
 
É interessante que, numa época em que a sociedade pode desfrutar da condição de abundância de alimentos, apareçam doenças geradas pela supressão voluntária da ingestão de comida.

A Anorexia e a Bulimia fazem parte do grupo de transtornos alimentares. É uma grave perturbação no comportamento alimentar que muitas vezes levam a morte. São várias as causas deste comportamento, que passam por fatores genéticos, biológicos, psicológicos, familiares e socioculturais, devendo, portanto, para o seu tratamento, utilizar de profissionais de várias especialidades, como médicos, psiquiatras, psicólogos e nutricionistas.

Os portadores destes distúrbios têm em comum uma preocupação excessiva com o peso, medo de engordar e uma distorção da imagem corporal em que a pessoa não se vê conforme se apresenta na realidade. Assim, a pessoa se vê mais gorda do que realmente é, com abdômen estendido, feia ou disforme.

Geralmente este transtorno apresenta-se com muito mais freqüência entre adolescentes do sexo feminino, raça branca e com boa condição sócia econômica cultural. Ambas são doenças crônicas, de difícil controle, é necessário o acompanhamento a longo prazo e as recaídas são freqüentes. Familiares, amigos, médicos e professores devem estar alertas para os sinais dessas doenças. O diagnóstico e tratamento precoce podem fazer toda a diferença entre o fracasso e o sucesso terapêutico.

A anorexia e bulimia nervosas são distúrbios da conduta alimentar caracterizados por abstenção voluntária de alimentos e pela ingestão compulsiva, seguida de métodos purgativos, respectivamente.

A Anorexia Nervosa caracteriza-se pela necessidade que a pessoa tem de diminuir o peso, abstendo-se de comer e alegando falta de apetite.  Há uma abstenção voluntária de comer e na fase inicial da doença, não ocorre uma perda real do apetite. Mais tarde o organismo pode acostumar-se com a pouca alimentação e a pessoa pode chegar até a inanição.

A Bulimia Nervosa, por outro lado, deve-se a episódios repetidos de compulsões alimentares seguidas de comportamentos compensatórios inadequados, tais como vômitos; uso indevido de laxantes, diutéticos ou outros medicamentos; jejuns; ou exercícios excessivos. A pessoa sente uma fome excessiva, como se pudesse “comer um boi” e em seguida, busca mecanismos para eliminar a alimentação consumida.  Há uma compulsão alimentar, com perda do controle sobre a ingestão dos alimentos em que pessoa não pode se ver diante de alimentos, e se abre a geladeira, “devora” tudo. Normalmente ele come sozinho e escondido, não importa com o sabor da comida,  Sente-se depois culpado e com certo mal estar físico em razão da quantidade de alimentos ingerido, ocorrendo-lhe a idéia de induzir o vômito para não engordar. Este comportamento lhe traz satisfação e alívio momentâneos e assim ele pensa em ter descoberto a forma ideal de manter o peso sem restringir os alimentos que considera proibidos. Utiliza de dedos, colheres ou cabo da escova de dentes para induzir o vômito e para escondê-lo, o faz debaixo do chuveiro (para lavar e dar tempo para sumir o cheiro). A freqüência desses episódios é variável podendo ocorrer várias vezes em um único dia ou em uma semana. Diferentemente do anoréxico, o bulímico não tem desejo de emagrecer mas, pelo menos, manter o peso.

É comum os pais perceberem que a filha está alimentando muito pouco com dieta mais líquida, com baixa caloria e que apresenta constante desejo de emagrecer, mesmo já estando magra.  Elas elaboram uma dieta com a restrição de grupos alimentares, eliminando aqueles que julgam mais calóricos. Raramente alimentam doces e massas devido o medo de engordar, mesmo apreciando esses alimentos. Essa restrição alimentar aumenta progressivamente, com diminuição do número de refeições, podendo evoluir drasticamente, até o jejum, desejando a todo custo ficar cada vez mais magra.

Em geral, os pacientes bulímicos ou anoréxicos, muito antes da doença estabelecida, já apresentavam alguma alteração do comportamento: hábito de fazer dieta mesmo quando o peso é proporcional a estatura, insatisfação e crítica constante a alguma parte do corpo e, mesmo ao perderem peso, mantêm uma diminuição gradativa de suas atividades sociais.
Juntamente com esses sintomas, é freqüente o baixo rendimento escolar devido a falta de concentração, apatia, desanimo e sonolência. A preocupação excessiva com a aparência faz com que se informe sobre dietas e beleza. Associa a beleza à magreza. Não raro apresentam episódios de vômito ou de abstinência alimentar.  Psicologicamente, pessoas com esses distúrbios possuem baixa auto-estima, excessivo perfeccionismo, medo de mudanças, preocupações e cautela excessivas, hipersensibilidade, rigidez de caráter e conduta, dificuldade em expressar emoções, necessidade de ser aceita e agradar a todos e chamar a atenção.

É comum o início da doença ter como desencadeadores elogios quanto a beleza envolvida pela magreza, ditado tanto pela mídia quanto pelo grupo de amigos e familiares. A pessoa não se sente encaixada naquele perfil ou sente necessidade de manter aquela posição magra e bela. Também alterações na dinâmica familiar como perdas, separação, nascimento de outro irmãozinho ou acolhimento de novos membros podem desencadear a doença. Na puberdade, em que as alterações corporais como aumento de peso e altura favorecem o aparecimento da primeira menstruação também podem ser encarados como uma deformidade corporal ou o medo de parecer-se mulher, parecer-se adulta. Pacientes relatam que o início do quadro se deu após o comentário de alguém sobre o seu peso ou sua aparência associado ao término de um relacionamento ou necessidade de manter um ente querido.

Os sintomas que aparecem devido a desnutrição são fadiga, queda de cabelos, pele seca, constipação, dor abdominal, dormência, pés e mãos frios, intolerância ao frio, ausência dos ciclos menstruais, dificuldade de concentração e sonolência que eles procuram justificar com outras causas, escondendo o verdadeiro motivo desses sintomas. Ainda é possível encontrar aumento da ansiedade e da impulsividade, tricotilomania e outros tipos de automutilação, abuso de drogas ilícitas e álcool, promiscuidade sexual, cleptomania e risco de suicídio.

A bulimia e a anorexia pode trazer sérias complicações orgânicas para o indivíduo: no aparelho cardiovascular ocorre redução da massa cardíaca, com redução da pressão arterial e freqüência cardíaca, podendo gerar inclusive uma parada cardíaca e respiratória.  Os vômitos repetidos podem provocar gastrite, infecções no esôfago,  hipertrofia de glândulas salivares e desgaste do esmalte dentário. No trato gastrointestinal pode haver alterações das enzimas hepáticas, degeneração gordurosa do figado e necrose hepática, decorrentes do retardo do esvaziamento gástrico e constipação intestinal. A baixa ingestão de cálcio, vitaminas e minerais leva a fraturas patológicas, unhas descamativas, queda capilar, pele seca, anemia, alteração dos centros  de regulação da temperatura, da saciedade e a concentração urinária e, muitas vezes levam à morte.

O tratamento se dá com ou sem internação  e utiliza de equipe multiprofissional com intervenções medicamentosas, psicológicas e nutricionais.

O uso de medicamentos são destinados a corrigir as distorções do pensamento associados aos transtornos da imagem corporal, os sintomas depressivos associados e as alterações do apetite, considerando-se ainda, as complicações devido aos distúrbios  orgânicos provocados pelo transtorno. A introdução de alimentação parental também é necessária para reposição de oligoelementos, vitaminas e sais minerais bem como a adequação da dieta. O tratamento psicoterápico é indispensável para o sucesso terapêutico.  O tempo médio para tratamento ininterrupto é de 6 meses a um ano, o que antes desse período pode ocorrer recaídas.

Devemos ficar atentos para a  imagem perfeita e inatingível do belo representado pela magreza, cada vez mais veiculada pela mídia, bem como a profusão de publicações leigas sobre dietas para os mais variados fins que contribuem para o aumento da incidência desses distúrbios, especialmente nos países desenvolvidos e entre as classes sociais mais favorecidas. O que se deveria propagar é o privilégio da saúde favorecida pela disponibilidade de alimentos, que deverão ser ingeridos sabiamente, sem gula, sem luxúria, sem avareza, sem vaidade, sem ira, sem soberba e sem preguiça.

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