Crianças acima de 3 anos, espera-se que tenha aprendido a controlar a eliminação de urina e fezes em lugar e momento oportuno. A enurese noturna é um transtorno vegetativo, em que a pessoa elimina voluntária ou involuntariamente urina nas roupas ou na cama, causando sofrimento ao seu portador e incomodo às pessoas com quem convive. É mais freqüente em meninos do que em meninas, em populações de baixa renda, em famílias numerosas, em crianças institucionalizadas, com treinamento esfincteriano inadequado e em primogênitos.
O controle da micção é realizado pelo sistema neurológico que controla as fases de relaxamento e esvaziamento da bexiga. No recém-nascido, a micção é um ato reflexo gerado em nível da medula espinal e a medida que a criança cresce, vai se tornando um processo cerebral.
A primeira etapa do processo maturativo é a capacidade de a criança indicar quando a bexiga está cheia e a micção é iminente. Esta ocorre entre o primeiro e segundo ano de vida. Entre os 3 e 6 anos de idade, a maioria das crianças consegue controle voluntário do esvaziamento com bexiga cheia.
Geneticamente, pode-se observar que em 70% das famílias de crianças enuréticas o sintoma pode ser encontrado em mais de um parente e, em 40% dos casos, em pelo menos um dos pais. O cromossomo 22 foi implicado no processo com um padrão variável de transmissão genética. É comum também enurese noturna em crianças com transtorno de hiperatividade e déficit de atenção.
Considerando-se questões psicológicas, a enurese está associada a um maior número de eventos causadores de tensão psicológica, como separação ou brigas dos pais, nascimento de irmão, distúrbios psiquiátricos em um dos pais e separação entre os pais e a criança.
Dos fatores ligados ao sono, as crianças enuréticas têm mais dificuldade para acordar que crianças normais da mesma idade, e esta dificuldade é mais acentuada durante o primeiro terço do período noturno, quando ocorre a maioria dos episódios de enurese.
Apenas de 1% a 4% dos casos de enuerese noturna podem estar associados a alterações do trato urinário, como infecção urinária, disfunção miccional e anomalias obstrutivas do colo vesical e uretra. Inúmeras alterações neurológicas podem estar associadas, como os disrafismos, a bexiga neurogênica e a epilepsia. Outras afecções também causam enurese, como a apnéia do sono, anemia falciforme, diabetes insipidus (pela dificuldade de concentração urinária) e obstipação intestinal (que pode provocar instabilidade vesical e hiperatividade do esfíncter anal e uretral).
É importante observar se há frequência de micções anormal durante o dia; mais de uma micção noturna; volume urinado anormalmente elevado; antecedentes de infecção urinária; presença de afecções neurológicas ou urológicas, poliúria, constipação ou encoprese; “assaduras freqüentes”, odor de urina nas roupas; alterações miccionais diurnas do tipo escapes, urgência ou manobras de contenção; jato urinário fraco, entrecortado ou com esforço; dor na região da bexiga. A presença desses sinais merece investigação e tratamento diferenciado. Os exames qualitativo de urina e urocultura são necessários para descartar possível infecção no trato urinário.
É recomendado iniciar o tratamento, geralmente, entre 6 e 8 anos. Quando houver associação de enurese com encoprese ou constipação, estes devem ser também abordados A repercussão sobre a auto-estima da criança enurética é uma boa indicação da necessidade de se tratar o assunto com seriedade.
A primeira linha de tratamento da enurese é a comportamental. É importante conseguir a cooperação das crianças para lidar com o problema. Uma etapa útil é recompensar a criança por ficar seca à noite, seja através de elogios ou pequenos agrados.
A criança deve sempre urinar antes de deitar. Alguns autores recomendam a micção noturna programada. O objetivo é estimular o ato de acordar com o estímulo da bexiga cheia. A criança deve ser acordada 3 horas após dormir e ir ao banheiro. A cada noite completamente seca, o horário de acordar é antecipado por meia hora, até ser meia hora após deitar. Existem relatos de sucesso de até 100% dos casos, em associação com o uso do alarmes.
A psicoterapia está indicada naqueles casos de crianças traumatizadas com enurese secundária, especialmente quando o tratamento comportamental tiver falhado e foram obseradas experiências traumáticas temporalmente ao início da enurese.
O tratamento medicamentoso deve ser utilizado apenas em último caso. As drogas disponíveis para uso são: imipramina, desmopressina e anti-colinérgicos.
Quanto mais cedo iniciar a abordagem e tratamento dos quadros de enurese, menor sofrimento para a criança e para os seus familiares.
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