segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Psicossoma

Texto publicado no Boletim da Associação Mineira de Medicina Psicossomática,  Ano I – Número 03 – jul/ago/set/2002.                           

                                                            O que é Psicossomática?
Norton Caldeira[1]

No planeta Terra pulsa a vida, onde vivemos numa rede de relações de alta complexidade, interagindo com o meio ambiente que foi moldando o cérebro evolutivo do homem, tornando-o capaz de relacionar-se consigo mesmo e com os outros, inaugurando a cultura humana. Tais interações agem num organismo biológico que se comunica através de estruturas simbólicas e afetivas, e caracterizam o ser de fala que é o homem.

Daí a estabelecer a idéia de uma rede de conexões para a psicossomática torna-se fundamental para alcançarmos uma definição da mesma. Muito antes da internet, que veio apenas reforçar os aspectos sociais de interatividade já alcançados e denominada agora de realidade virtual pela informática, a construção do psíquico e da subjetividade vai criar no cérebro humano a rede de neurônios e as sinapses possíveis e necessárias que, a partir de uma genética potencial e através dos estímulos da convivência, do aprendizado e da experiência, prepara os circuitos que vão permitir a complexidade do funcionamento cerebral e do organismo como um todo.
Esta orquestração, interligada e interdependente que conta com respostas imunológicas e neuroendócrinas do corpo, acaba criando um novo campo de estudo denominado psiconeuroimuno, onde hoje se estabelecem inúmeras pesquisas.

Enquanto isto, o ser de linguagem, e portanto de desejo, interfere dinamicamente no equilíbrio de forças e acrescenta maior complexidade ao existir e funcionar de cada um, somando sua singularidade histórico-social, inclusive hábitos, alimentação e, mais uma vez, convívio, experiência e formas de pensar e de sentir diferenciadas e únicas.

Surge então a Medicina Psicossomática, que tem ligações com a Psicanálise, com a Psicologia Médica, com o estudo do estress, com os conceito bio-psico-sociais frente ao adoecer humano, qualificando-se como especialização para profissionais da área de saúde, através de estudos da relação profissional-paciente e das conexões de saber denominados sócio-psico-somáticas com três linhas de pesquisa: a histórico-clínica, que são os relatos de causas para discussão; a pesquisa qualitativa, que pode abordar o particular de casa um em seu adoecer específico, e a pesquisa quantitativa, que estuda os circuitos psiconeuroimunoendócrinos, suas mudanças, interligações e possíveis repercussões no funcionamento do organismo.

Como existem muitos olhares e saberes sobre o adoecer humano, a interdisciplinaridade torna-se uma consequência natural a ser explorada na prática clínica, onde estão presentes as idéias, estudos e concepções da Medicina Psicossomática.

Fatores biológicos, psicológicos, sociais e ecológicos ambientais afetam as pessoas sadias e doentes de forma bastante conhecida. A Medicina Psicossomática quer aprofundar e sistematizar esse conhecimento, tornando possível sua aplicação na clínica e no aprimoramento da qualidade de vida.


[1] Psiquiatra e Psicanalista, Membro do Corpo Clínico e do Serviço de Medicina Psicossomática do Hospital Madre Tereza, de Belo Horizonte, Presidente da AMMP.

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