terça-feira, 26 de outubro de 2010

Adolescencia e suas vulnerabilidades

Na adolescência o jovem se vê frente a um grande número de possibilidades, muitas vezes contraditórias e conflitantes, mas que ele quer ter a oportunidade de explorar, testar, experimentar e fazer o próprio julgamento. A necessidade de rebelar-se e transgredir as normas faz com que os riscos e desafios sejam vistos como um caminho atraente para o adolescente. A crise de identidade, os conflitos e ambivalências próprios dessa fase expõem o jovem a angústias e vulnerabilidades das quais ele pode não encontrar como se esquivar. O sentimento de onipotência, de urgência e a suscetibilidade a pressões grupais também contribuem para o aumento da vulnerabilidade do adolescente. A esses fatores psíquicos, juntam-se outros, de ordem sociocultural: a baixa estimulação oferecida às crianças e jovens para o seu desenvolvimento pessoal e social, a exposição ao autoritarismo e mesmo a violência dos adultos, as reduzidas oportunidades de participação de cidadania.
Fatores de ordem psicossocial e cultural tornam a adolescência um período de elevada vulnerabilidade.

ADOLESCER é uma palavra latina que significa crescer, desenvolver-se. Devemos lembrar que a adolescência é uma fase marcada por conflitos e transformações corporais, psíquicas e sociais para o adolescente, que culmina com atingir a maturidade sexual e a capacidade para a reprodução, a construção da própria identidade, onde é estabelecido novos valores e nova imagem do eu associado a busca de autonomia e da produtividade.

Segundo Arminda Aberastury, o adolescente passa por um processo de perdas e tem que elaborar o luto pelo corpo infantil, já que ele não é tem mais aquele corpo de criança; o luto pela bissexualidade, por adquirir características específicas que distingue imediatamente seu sexo; o luto pela identidade infantil, onde a sociedade espera e impõe a ele papéis amadurecidos; e o luto pelos pais da infância, que é a desidealização daqueles pais heróis, perfeitos e adorados.

Na adolescência o jovem se vê frente a um grande número de possibilidades, muitas vezes contraditórias e conflitantes, mas que ele quer ter a oportunidade de explorar, testar, experimentar e fazer o próprio julgamento. A necessidade de rebelar-se e transgredir as normas faz com que os riscos e desafios sejam vistos como um caminho atraente para o adolescente. A crise de identidade, os conflitos e ambivalências próprios dessa fase expõem o jovem a angústias e vulnerabilidades das quais ele pode não encontrar como se esquivar. O sentimento de onipotência, de urgência e a suscetibilidade a pressões grupais também contribuem para o aumento da vulnerabilidade do adolescente. A esses fatores psíquicos, juntam-se outros, de ordem sociocultural: a baixa estimulação oferecida às crianças e jovens para o seu desenvolvimento pessoal e social, a exposição ao autoritarismo e mesmo a violência dos adultos, as reduzidas oportunidades de participação de cidadania.

Além do mais, devemos considerar que o adolescente no momento atual encontra-se inserido num mundo em processo de mudanças rápidas e contínuas no âmbito tecnológico e da informação, nos valores morais, éticos, econômicos, políticos, sociais e ecológicos, levando a grande instabilidade no ambiente em que vivemos. Também, deve-se avaliar as conseqüências da urbanização não planejada, que gera problemas de moradia, saneamento básico, transporte, segurança, empregabilidade e lazer, dificultando a convivência familiar e facilitando a banalização da sexualidade e da violência, acentuados pelos aspectos de globalização e massificação de valores e costumes exteriores àquela comunidade em que o adolescente vive.

Estes aspectos que chamaremos de crise contemporânea, coincide com as mudanças que o adolescente vive em seu próprio ser e que é enfatizado pelo consumismo desenfreado, imposto pela sociedade capitalista, que prioriza o TER em detrimento do SER e estabelece outros valores, como a Lei do Gerson, de “Levar vantagem em tudo!, ou “Tudo por dinheiro!”, onde a estética prevalece sobre a ética, onde é infidelidade e promiscuidade é um jogo, e há a supremacia do descartável pelo durável, do artificial pelo natural, do novo pelo velho. Em nossa sociedade, ferozmente individualista e competitiva, os adolescentes ficam durante anos entregues a si mesmos, com escassas possibilidades de viver construtivamente a sensação recém-descoberta e pouco experimentada  de pertencer à humanidade.  Isso para não falar dos adolescentes que nem mesmo chegam a experimentar essa sensação, por serem de fato excluídos e marginalizados. Não existem mais rituais de passagem para a vida adulta. A sexualidade, que antes funcionava como signo de iniciação e de transgressão perdeu esse significado e, de certa forma, a droga está ocupando o lugar de desafio ritualizado e transgressivo ao mundo adulto. E ai não é mais somente a droga que vem ocupar esse lugar: tráfico, prostituição ou trabalhos ilegais, insalubres ou perigosos, projetos irrealizáveis (jogador de futebol, modelos gerando anoréxicas, tiazinhas, big-brother),  constituição de família através de grávidez não planejada, exercício da sexualidade sem responsabilidade, distorções da imagem (vigorexia, anorexia e bulimia),
Consumir é incorporar pela boca. É um prazer oral, canibal. E o que incorporamos, consumimos? Apenas o que necessitamos para uma vida confortável e satisfatória ou o que é nos é incitado pela mídia aguçando nosso desejo? Temos fome de comida ou de um hamburguer de marca? Temos sede de líquido ou de uma bebida energizada? Tenho condições de lidar com algumas frustrações, ou minha vida tem que ser recheada de experiências mirabolantes?

O consumismo é uma grande boca a ser satisfeita, e a droga é um produto que promete saciar nosso desejo desenfreado de prazer, status, efeitos “especiais” e poder.

Nesse sentido, anabolizantes, silicones, remedinhos para emagrecer, para relaxar, para turbinar, para impotência sexual, para a frigidez, para ficar mais alegrinha, para isso, para aquilo e para aquilo outro, mais um cigarrinho e uma cervejinha no final de semana são consumidos inocentemente - alguns licitamente outros ilicitamente, com todos os seus efeitos colaterais, e fazem parte desse arsenal de produtos destinados a saciar a fome do consumismo.

Freud postula a sublimação como instância favorável a saúde e plenitude humana. Na sublimação, que é a energia sexual colocada a serviço do intelecto, realizam-se a produção, que é a capacidade de criar, colocar no mundo as suas pulsões em forma de arte, de criação, de trabalho; o amor que é a capacidade de estabelecer relações afetivas, ou seja,  amar e sentir-se amado; e, se posso acrescentar,  a fé, que é a confiança, a esperança, a crença num futuro melhor. Digo que, se posso acrescentar a fé, porque Freud a tinha como um enigma humano. Em O Futuro de uma ilusão, Freud postura que a fé é a crença no que há de mais absurdo. Ainda em Moisés e o monoteísmo, Freud se pergunta por que esse algo de absurdo persiste no humano? Freud não concluiu suas conjeturas, mas poderíamos dizer que a fé seria a superação da pulsão de vida sobre a pulsão de morte, com a predominância do bem. A fé no sentido de esperança é a própria transcendência.

O que vemos, na atualidade é uma sociedade que impossibilita seus cidadãos de concretizar esses valores levando-os à descrença no lugar da fé e à alienação no lugar da produção. Há uma elevação do amor hedônico, com primazia do estético, da performance sexual e dos objetos fetiche que teriam o poder de responder quem somos.


ESTRATÉGIAS PREVENTIVAS: A VALORIZAÇÃO DA VIDA


Assim, várias são as motivações para que o adolescente se envolva com comportamentos de risco:
- Dificuldades para enfrentar os problemas e as dificuldades pessoais
- Necessidade de ser aceito e ser amado incondicionalmente.
- Sucessivas perdas ou frustrações
- Curiosidade
- Pressão do grupo
- Busca do prazer
- Necessidade de arriscar-se ou conhecer seus próprios limites
- Oposição a ordem estabelecida
- Insegurança e baixa auto-estima

Com relação a sexualidade, devemos entender que a sexualidade permeia toda a vida humana.
Sexo é diferente de Sexualidade.
Sexo pode ser praticado pelos homens ou animais com fins instintivos ou reprodutivos. Já a sexualidade é o exercício ou prática sexual que vai além do coito e envolve afeto, sendo eminentemente humana.

Sexualidade exige cuidados consigo e com o outro e proporciona satisfação e bem estar, mas a sexualidade não pode ser livremente exercida. Ela possui um controle social e faz parte dos mitos e tabus da humanidade. Assim, o exercício da sexualidade é um direito de cidadania, porém ela está regida segundo as normas sociais e culturais. Logo, existem leis que estabelecem direitos e deveres relativos a sexualidade e à reprodução para cada pais, para cada cultura.

No Brasil, no que concerne à infância e a adolescência, o Estatuto da Criança e do Adolescente trata de temas para a proteção contra a violência doméstica, o abuso sexual, a exposição da criança e do adolescente a pornografia, espetáculos e diversões, prevê a assistência integral a saúde e proteção a gestante a ao bebê.

No Código Penal há propostas de ampliar questões ligadas ao aborto, violação sexual; formula crime de assédio sexual, discrimina a sedução e o adultério, licitude de esterilização com consentimento, criminalização da inseminação artificial ou transferência de embrião “não consensual”, manipulação de gametas ou embriões, alteração ou seleção genética ou da contratação onerosa para fins lucrativos.

Para exercer a sexualidade seria interessante que tanto moças quanto rapazes conhecessem o funcionamento do corpo. No que diz respeito às adolescentes, elas estão prontas para a gravidez desde as mudanças corporais da puberdade. Em torno dos 12/13 anos, após a menarca, já poderá engravidar. Os meninos, um pouco mais tarde, em torno dos 14/15 anos já possuem esperma e então podem fertilizar a mulher.

O Brasil possui, segundo estatísticas do IBGE 54 milhões de adolescentes, compreendidos na faixa entre 12 e 19 anos. Desses 54 milhões, 28 milhões são do sexo feminino e 18 milhões delas já têm 1 ou mais filhos. Isso significa que mais que 55% das meninas nesta faixa etária, exercendo a sexualidade e provavelmente sem um planejamento devido, complicam o seu projeto de vida engravidando precocemente.

O que é engravidar precocemente? É antes que elas completem algumas etapas importantes, acabam por antecipar vivencias que inviabilizam ou dificultam outras etapas subseqüentes para a sua vida. Essas vivências podem ser o exercício do trabalho infantil, abandono da escola, o uso de drogas, submeter-se a violência física ou psicológica, contrair doenças sexualmente transmissíveis, gravidez, etc.

É sabido que uma gravidez dificultará a permanência da adolescente na escola, onerará custos de sustentação da criança, muitas vezes muito mais no orçamento das avós do que dos adolescentes propriamente ditos, sem contar que muitas vezes o corpo jovem da garota não está preparado para uma gestação. Além dos riscos para a mãe há os riscos para a vida do bebê. Psiquicamente também a menina não está madura para arcar com as conseqüências da educação de um filho.

Uma gravidez pode ocorrer por motivos vários:
- Supervalorização da maternidade.
-  Vontade de ser mãe.
 - Se sentem sós e imaginam que um filho vá preencher sua vida.
- Testar se são férteis.
- Manter o vínculo com o namorado
- Abuso ou violência sexual.
- Falta de informação em como fazer sexo protegido.

As vezes fico impressionada como a mídia, apesar de todas as campanhas informativas sobre as formas de proteção contra as doenças sexualmente transmissíveis ou contra uma gravidez indesejada, estimulam enormemente o exercício irresponsável da sexualidade. Basta assistir novela e perceber que todas as jovens engravidam quase que por acidente. Ora, se a menina engravidou-se por acidente é porque não utilizou camisinha, não utilizou os métodos contraceptivos, não utilizou nenhuma forma de planejamento ou proteção.

A mídia quer vender seus produtos através da imagem do sexo e do corpo. Assim ela dita as normas da ética e da estética e, muitas vezes distorce o que seria ético através de imagens vulgarizadas que aparecem nas suas propagandas, programas, novelas, etc. É com muita facilidade que um casal em uma cena em que acabaram de se conhecer tira a roupa e vão para a cama.

Esse tipo de comunicação banaliza a sexualidade, a violência e faz com que os consumimos como qualquer outro produto, sem mesmo nem “ler o rótulo”. Isso significa que muitas vezes nos envolvemos sexualmente sem conhecer de fato o “conteúdo” do companheiro ou da companheira com quem estamos saindo.  Nós, adultos fechamos os olhos – não estamos preparados para nos posicionar frente a estas dificuldades porque também estamos envolvidos nessa crise de valores, crise de identidade, crise contemporânea e tais quais os adolescentes, não sabemos como exercer nossa própria sexualidade.

Atualmente o “ficar” está cada vez mais banalizado. Isso é importante para a sociedade de consumo, onde as pessoas também se tornaram objetos “consumíveis”. A afetividade está sendo rechaçada e esquecemos que a afetividade é a essência da sexualidade. E esse é um aspecto que penso seja o cerne da orientação sexual.

Uma sexualidade plena deveria requerer rituais, cerimônia, celebração e responsabilidade. Não simplesmente o impulso e a inconseqüência. Exige harmonia e necessidade de felicidade.

Mas uma vez que tenha acontecido, é importante que a menina seja encaminhada ao serviço de saúde para as consultas de pré-natal e procurar informar-se sobre os serviços de atendimento disponíveis na comunidade. A família deverá, neste momento, acolher e apoiar a gestante e procurar acompanhar seu percurso.

Com relação às drogas, esse é um produto em que muita gente ganha dinheiro com isso! Industriais, químicos, transportadores, embaladores, distribuidores, policiais, juízes e políticos. E a droga gera riquezas, haja vista os impérios colombianos e o armamento envolvido.

Valores que a sociedade cultiva e que famílias, escola, política, religião utiliza dos conceitos, aprovando-os. O que se espera dos jovens justamente nesse momento em que estão constituindo os próprios valores, o comportamento, a forma de ser? É compreensível que ele busque a saciedade de seu desejo, do seu prazer em algo que responda a tudo isso. O adolescente encontra na droga esse instrumento fugaz de satisfação e essa possibilidade de consumir de novo, e de novo e de novo... E é tão fugaz, mas tão prazeroso que ele quer mais e mais, e se torna dependente.

Todas as drogas em maior ou menor grau põem em risco a integridade psicofísica do adolescente, podem expô-lo a acidentes, violências e confronto com a lei.

O risco não é apenas para aqueles que se tornam dependentes, mas também para quem faz um recreativo ou eventual uso de drogas. Quem está bêbado ou sob o efeito de drogas estimulantes dificilmente tem condições de lembrar-se de usar ou exigir do parceiro a camisinha na relação sexual. Qualquer alteração no estado de consciência, por mais momentânea que seja reforça a sensação do “comigo não vai acontecer”, dispensando preocupação com a prevenção DST/AIDS, de acidentes, de transgressões e outras situações que impliquem risco para si e para os outros. Dentre os riscos associados às drogas está o de contaminação por doenças transmissíveis pelo sangue: hepatite B e C, septicemia, endocardite e bacteriana e HIV.

A ampliação do consumo de drogas nos últimos vinte anos comprova a inoperância dos sistemas de repressão. Manter separadas as situações de uso controlado e de uso problemático de drogas está se tornando cada vez mais difícil. É sempre possível passar do uso para o abuso numa sociedade que é cada vez mais dependente de produtos químicos na terapêutica e na indústria. Xaropes, tranqüilizantes e hipnóticos podem ser úteis no controle de distúrbios físicos e psíquicos, mas usados indiscriminadamente, podem trazer riscos para a saúde. Outro agravante é o fato de ser relativamente fácil produzir, comercializar e consumir ilicitamente esses medicamentos. Inalantes e solventes (éter, esmalte, cola) utilizados na indústria podem ser facilmente derivados de seu uso habitual.

A abordagem educacional ampla do problema deve prever ações específicas e inespecíficas. As primeiras focalizam a transmissão de informações sobre a droga, mas sempre como base para o desenvolvimento de atitudes, valores e comportamentos. Deve-se, como princípio, enfatizar as causas de utilização do produto e os fatores de proteção, e não os efeitos da droga ou fatores de risco. É preciso compreender que o perigo não está simplesmente na droga em si. As ações inespecíficas focalizam as causas mais profundas que predispõem as pessoas ao uso ou abuso de drogas.

Num projeto de prevenção ao uso indevido de drogas que tenha como linha a opção pela valorização da vida e melhoria da qualidade de vida, as ações inespecíficas devem ser priorizadas, embora isso não signifique que as especificas devam ser esquecidas.

As ações inespecíficas estão voltadas para temas abrangentes, como:
  • Exercício da cidadania
  • Questões do bem estar social
  • Sexualidade com afetividade
  • Opção profissional e trabalho
  • Direitos da criança e do adolescente
  • Alternativa de lazer
  • Questão do prazer
  • Dinâmica da família, da escola e de grupos

Embora a maioria dos jovens abandone o consumo após as primeiras experimentações, há sempre o risco de a droga incorporar-se a vida do individuo.
Como não pode avaliar com precisão as conseqüências das experimentações, o melhor é trabalhar a noção de que todo uso traz riscos e fortalecimento dos fatores de proteção. Diante de um adolescente dependente da droga, já não cabe a educação, mas o tratamento médico e psicológico adequado. Só dessa forma se pode possibilitar sua reintegração social. Nesse sentido, é indispensável que educadores e profissionais de saúde trabalhem em parceria.



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